Ontem eu marquei presença na Bienal do Livro lá no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Foi a primeira vez que eu fui sozinha ao evento. Passei o período da manhã arrumando minhas tranquelhas para ter a tarde livre. Era preciso chegar com certa antecedência pois eu fazia questão de conferir o bate-papo entre o apresentador, jornalista, eterno Telekid (porque sim não é resposta) e Professor Tibúrcio (olááááá classe), Marcelo Tas e a escritora Ruth Rocha. Antes de sair de casa, eu ainda tive um tempinho para trocar sms com o Pâm e o Ráfaga. O mineirinho queria muito ir, eu estava encarregada de guardar uma senha para ele ( o Salão de Ideias tem a capacidade de 188 pessoas) enquanto ele saia do trabalho e o encontraria por lá. Infelizmente ele não conseguiu ir. Saí de casa às 15:45, passei no banco para sacar o dinheiro da entrada (eles aceitavam pagamento através do cartão de débito, mas vocês sabem, vai que o sistema da maquininha caísse bem na minha vez?).
Do metrô Tucuruvi até o Tietê é rapidinho, eu só não poderia dar bobeira e esquecer de descer na estação correta. Afinal, eu estava tão acostumada de seguir até a Sé e fazer a baldeação para seguir até a Palmeiras-Barra Funda. Do Tietê saíam os ônibus gratuito encarregados de levar público até a Bienal. Eu já imaginava uma fila quilométrica mas me enganei! Vi um senhor com a camiseta do evento perguntando quem estava indo para lá e indicava o ônibus. Eu achei que tivesse entrado no ônibus destinado ao pessoal responsável pela organização, já que não era daqueles ônibus de viagem, mas um (confortável, diga-se de passagem) microônibus. Mas não, não paguei mico. Estava no transporte correto.
Foi um tanto quanto estranho entrar naquele lugar enorme e sozinha. Se tudo tivesse acontecido nos conformes, eu teria a companhia das minhas garcinhas Pâmela (Pâm), Adriano e Claudinei (Scooby), mas não foi dessa vez que aconteceu a conexão Sampa-Garça. Eu quero já listar meus pitacos quanto a organização:
- Os funcionários da Bienal não estavam preparados. Os estandes estavam distribuídos por corredores identificados por letras mas eu esqueci de marcar em qual letra o Salão de Ideias estaria. Não havia nenhum mapinha para localização. Eu perguntei a três funcionários e NENHUM soube me dizer onde ficava o local. Tive a sorte de um visitante ter me explicado;
- O piso estava um tanto quanto perigoso. Eles colocaram carpetes por cima das tábuas e era notável as ondulações ao caminhar e pequenos "degraus" se formavam no caminho. Um idoso, uma criança, um portador de deficiência ou um ser muito estabanado ( eu, coff coff) poderiam tropeçar fácil, fácil!
- Muitos já sabem, mas vale a pena comentar: se for possível, levem um lanchinho de casa mesmo, porque os quiosques salgaram muito no preço.
Eu, que não tinha pretensão de comprar um livro ontem, saí de lá com três. O primeiro adquirido foi Filosofando no cinema: 25 filmes para entender o desejo, do Ollivier Pourriol. Pelo que percebi, o autor é um filósofo e também um cinéfilo de carteirinha. Desde 2005 ele ensina filosofia através dos filmes. Isso logo me abriu o apetite em devorar esse livro, principalmente porque tem um texto dedicado ao Toy Story. Para uma "cine-nerd-pop" que eu sou (como tão bem definiu o Lucas Farias) é uma leitura obrigatória. Não resisti e comprei A disciplina do amor - memórias e ficção, da minha autora favorita Lygia Fagundes Telles. O livro olhou pra mim e não resisti. E como todos sabem (ou deveriam saber), eu estou numa fase de ler muitas crônicas, então logo corri para uma prateleira onde só tinha livros do Mário Prata. O título que comprei foi Minhas tudo. O interessante foi que no estande da Editora Planeta (que publica esse livro do Mário) estava oferecendo champagne aos leitores! Isso mesmo, não era cidra, nem espumante. E eu tomei uma tacinha (hihihi).
Às 18:00 eu fui ao Salão de Ideias e peguei minha senha para ter lugar garantido para a palestra. Em seguida fui comer. Apostei no Rei do Mate e comprei um toast de peito de peru com queijo prato e como acompanhamento, uma Pepsi. Sentei numa mesa sozinha e o que era pra ser uma coisa hiper simples (comer um sanduba) acabou virando um tormento. Não sei se já comentei, mas de vez em quando eu fico em pânico quando estou em lugares públicos (e principalmente quando estou sozinha). Quando eu fui dar minha primeira mordida no lanche eu vi que bem na minha frente havia uma mesa cheia de aborrescentes tagarelas. Travei na hora, pois todo tímido pensa que há um holofote mirando nele e que todos ao redor estão a espera de uma tremenda gafe. Eu queria agir naturalmente mas calculava milimetricamente todos os meus movimentos para serem precisos. Tentei me sentar numa maneira que minha barriguinha não ficasse marcando sob a roupa, mastigava devagar para não parecer uma esfomeada com um tecão de comida na boca. Por azar, o chapeiro colocou um ingrediente a mais no toast: requeijão tipo catupiry. A cada mordia o recheio meio que dançava no pão: mordia pela direita e o peito de peru escorregava pra esquerda e vice-versa. Eu tinha que fazer malabarismo para não derrubar meu lanche na roupa. Mas fui bem sucedida e saí limpa, sem passar vergonha, os jovens da mesa ao lado nem se deram conta da minha existência e eu fiquei com uma p*ta tensão no pescoço!
Mas chega de lenga-lenga e vamos aos finalmentes: o esperado encontro com o Tas e a Ruth. O Tas eu já "apresentei" no início do post, vamos então falar da Ruthinha! Ela é autoria de vários textos dedicados aos pepessinhos, isto é, às crianças. Li muitos textos dela durante meus primeiras anos de estudo. Meu primeiro contato foi com o livro Marcelo, Marmelo, Martelo, que conta a história de um menininho que dava outros nomes às coisas (uma que me lembro bem era chamar colher de mexedor). No bate-papo, ela começou nos contando como começou na revista Cláudia, depois passou à revista Recreio por causa do texto "Romeu e Julieta", disse que seu interesse pela leitura partiu das obras de Monteiro Lobato e, de tantos autores que ela citou, um que ela guarda um carinho especial é o Guima (opa, minha mania de tratar os grandes escritores com intimidade! Guima é o Guimarães Rosa). O Tas também nos revelou como se jogou no mundo da leitura, comentou bastante sobre o uso de redes sociais. Legal que ele é um grande entusiasta e não vê com preconceito o que é produzido por nós, reles mortais (essa definição foi minha, não dele) na internet. Ele ressalta que ainda falta discernimento entre as pessoas ao fazer o uso dessa ferramenta. Nunca foi tão fácil nos comunicarmos, segundo o Tas. Um ponto que me chamou bastante a atenção foi o fato de ambos falarem super bem dos gibis, em especial do Maurício de Souza. É muito difícil passar a um ouvinte o que te cativou a embarcar na leitura porque o que pode ser especial para mim pode ser uma chatice para o outro. Tanto o Marcelo quanto a Ruth falavam com um grande entusiamo e respeito sobre a jornada deles rumo ao conhecimento, que era impossível não ficar encantada. Isso gerou um flashback sobre o primeiro livro que eu ganhei na minha vida! Se não me falhe memória o nome era Dona Traça papa-livros, ele era pequeno, com umas oito páginas. Cada página tinha um furo no meio de onde saía um fantoche de uma traça verde com um óclinhos redondo. Era só colocar o dedo indicador na Traça que ela ganhava vida e invadia os contos de fadas (Cinderela, João e o pé de feijão, Bela Adormecida, João e Maria e Cachinhos Dourados). Eram textos bem curtinhos de dois versinhos.
Tas e Ruth em uma bate-papo informal |
com a palavra, Ruth Rocha
no fim, pegando um autógrafo para Pâm!
Engraçado que nem meu pai nem mamãe me incentivaram a ler quando era muito pequena. Claro que eles davam muito valor aos estudos, mas nunca me presentearam por conta própria com um livro. Sem a menor sombra de dúvida, a TV Cultura moldou o meu caráter. Não há uma explicação lógica, talvez eu fui picada pelo monstro da curiosidade e me apaixonei logo de cara pela leitura. Eu gostava bastante de um quadro do X-Tudo em que uma menina conversava com a Sherazade e esta sempre lhe indicava um livro. Havia também um quadro exibido durante os intervalos comerciais chamado Lá vem história. Me agradava e muito. Sem falar também no Gato que vivia na Biblioteca do Castelo Rá-Tim-Bum e tinha sempre ao seu lado o Livro de Poesias (*___*). Realmente, eu amo histórias e a Cultura teve um papel importante nisso tudo. Gosto tanto de ler que desconfio ser uma das poucas alunas que gostava de ler os livros indicados pelos professores. Há um prazer indescritível, eu tenho uma amor pelas palavras, adoro brincar com elas (não chego a fazer um texto rico e refinado, mas acho que dá para o gasto, né?). E talvez o desafio que eu impus à mim mesma é transmitir esse gostinho bom para todos que estão à minha volta. Como a minha sobrinha caçula Maria Luiza está se alfabetizando, eu procuro estimulá-la com livros, gibis, revistinhas. Ela é muito ligeira e já tem uma desenvoltura de fazer inveja a muito marmanjo. Porque me entristece muito ver jovens falando sem a menor vergonha que não gosta de ler. Céus, chega a ser uma heresia. Não é à toa que há uma certa "dissintonia" nessas redes sociais, onde uma pessoa não consegue fazer uma simples interpretação de texto e acaba tirando conclusões equivocadas de um simples comentário. Complementando a frase do Tas, nunca foi tão fácil se comunicar mas nunca foi tão difícil se fazer entender!
Saldo da Bienal:
E um convite: qual livro tornou vocês um leitor de carteirinha?
2 comentários:
Bom, eu sempre gostei de ler...adorava ler o livros indicados na escola, aqueles da coleção vagalume e tal (As aventuras de Xisto, por exemplo)!
Mas o livro que me levou a um patamar maior foi "O alienista" de Machado de Assis! É simplesmente fantástico!
nossa Kamia, eu tenho guardado até hoje o alienista..confesso que no começo achei chato pra dedéu, mas hoje em dia eu gosto muito do Machado.
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