sábado, 15 de dezembro de 2012

É tarde demais


Eu, Christiane F.,13 anos,drogada e prostituída foi um livro que eu adquiri em 2003. Só sei disso porque eu anotei na primeira página um "Eu, Silvia Pupo, 17 anos (e o restante eu tinha apagado, mas com certeza era algum trocadilho fuleiro). Ele fez parte de um trabalho multidisciplinar, fazendo parte da grade as matérias de língua portuguesa e sociologia. Eu me lembro de ficar com muito orgulho da minha nota na parte relacionada à sociologia: NOVE. O professor Vitor passou uma prova com cinco questões, cada uma valendo dois pontos. Todos os alunos receberam um folha resposta mas eu precisei de mais uma, devido ao tamanho das minhas respostas. No fim precisei de duas folhas que foram devidamente preenchidas frente e verso ( e vale ressaltar que minha letra era miudinha). Contudo, eu respondera apenas quatro questões; justamente a primeira, que pedia para situar o momento histórico da trama e relacioná-lo com a situação dos jovens drogados de Berlim, não respondi. Confesso que não tinha me atentado a isso e depois de reler o livro bateu uma baita vergonha porque estava ali escancarado para quem pudesse ler. Bom, eu nem tentei encher linguiça e entreguei a prova sem responder essa questão. E eu fui tão bem no meu raciocínio que acabei levando um ponto extra, então no lugar de oito, acabei recebendo um nove. Comemorei como se tivesse tirado um dez.

Eu nunca tinha ouvido falar na história desse rapariga. Na primeira vez em que li eu fiquei com aquela sensação de querer saber logo o desfecho, mas ao mesmo tempo ficava triste por terminar a leitura. Estou dando uma olhada nele agora...Ele faz parte da 41ª edição, publicado pela editora Bertrand Brasil. Eu costumo chamá-lo de "o livro rubro negro", por estampar a foto da Chris F (intimidade adquirida) numa cor vermelha, com o fundo preto. As laterais estão amareladas dando um aspecto velho (bom, já faz nove anos em que o mantinha guardado no armário). É hora de eu pegar um metrô para Berlim, meados dos anos 70 e descer na estação Zoo. 

Sobre o livro


Antes de mais nada, nesta parte pode acontecer de eu soltar alguns spoilers, mas não são propositais. É meio impossível comentar sobre o livro sem que algo seja revelado. Mas fiquem tranquilos que não reproduzirei trecho por trecho da obra. 

O livro é o depoimento de Chris F. dado a Kai Hermann e Horst Riech. O que era pra ser duas horas de entrevista acabou tornando-se dois meses. Como a história é narrada em primeira pessoa (há alguns capítulos destinados a depoimentos da mãe e de especialistas), fica mais fácil sentir se próximo da Chris F. Até os 6 anos a menina morava na fazenda e sua vida começou a se desestruturar logo que chegaram em Berlim. Ela conta a expectativa de morar em um grande apartamento, enquanto seus pais abriam o próprio negócio, uma agência de matrimônios. Porém eles não foram bem sucedidos e se mudaram para um apartamento menor, no Conjunto Gropious. Pelo que entendi, era quase um cortiço vertical. E embora a família dela não gozasse de uma boa situação financeira, os pais dela tratavam com certo ar de inferioridade os operários que também viviam no conjunto. Richard, o pai da garota, era presunçoso e violento. O avô dele tinha muito dinheiro e era proprietário de uma gráfica e de um jornal mas após a guerra ele foi expropriado pela RDA (aaaaah aí estava o período histórico, Alemanha dividida em duas, como eu não lembrei isso na hora da prova???!!!). Assim a família dele jogou em seus ombros toda a responsabilidade de recuperar o legado do avô, ou pelo menos, voltar a ter a vida confortável de outrora. Ele se tornou um verdadeiro frustrado, violento e bêbado. Ele não se conformava em ter uma vida que "não correspondia ao seu nível'. Deste modo, ele coloca a culpa na família pelo seu fracasso. Richard chegou ao ponto de mentir sobre sua vida para os amigos, nunca apresentando Chris F. e sua irmã como filhas, mas como sobrinhas. A mãe de Chris F. era uma mulher dividida entre as funções de progenitora, esposa e trabalhadora. Ela mesmo reconhece que não tinha muito tempo para as filhas e tentava compensar sua ausência com pequenos mimos. Em comum com o marido, ela não tomou as rédeas de sua vida perante a família. A única maneira que ela viu para ser "livre' foi engravidando do então namorado. Ela também era alvo dos sopapos do marido. Com um histórico familiar assim, a Chris F já se torna uma pessoa digna de pena. Mas, isso pra mim não é o motivo principal para entrar nas drogas. O Conjunto Gropius era uma verdadeia prisão. Tudo o que ela tinha na vida na fazenda (brincadeiras ao ar livre, contato com outras crianças, etc) não faziam mais parte de sua nova rotina em Berlim. Hoje diríamos que ela sofreu bullying. Um local planejado para ser modelo de moradia, o Conjunto Gropius não possuía nenhuma área de recreação infantil, havia diversas placas de "proibido". Qualquer diversão que as crianças encontrassem era imediatamente proibida no dia seguinte (será que foi aí que a JK Rowling se inspirou para criar a Dolores Umbridge?). Segundo ela, parecia que as crianças não tinham o direito de imaginar, de criar. O Gropius era um local que afirmava prezar pela segurança e bem estar dos seus moradores, mas não dava a mínima voz para seus moradores, afim de saber se eles estavam satisfeitos com aquilo. 

Chris F passou a frequentar o Centro de Jovens que havia no conjunto; o que passava despercebido pelos moradores era o fato de centro concentrar uma quantidade alta de jovens usuários de droga. Foi lá que Chris F. e sua amiga Kessi fumaram haxixe pela primeira vez. Foi neste local que ela fez sua primeira turma e se sentiu tão feliz por isso. Ela sentia-se especial por considerar parte de um grupo de "pessoas incríveis e superiores aos demais". Fumando haxixe, ela se tornou um deles. Um carinho e amor nunca sentido no ambiente familiar. É nessa parte que eu já começo a puxar o freio e lembro que a história apresenta a visão da protagonista. Será que essa não era uma felicidade idealizada por ela, será mesmo que a turma era aquilo tudo?

Logo somos apresentados ao Sound, a discoteca mais moderna da Europa. Ela sente aquela excitação comum nos adolescentes de conhecer novas pessoas, novos lugares. E sempre ela descreve um amigo novo como uma pessoa incrível e superior aos antigos amigos. O que fica claro é essa síndrome de inferioridade da Chris F. Ela sentia a necessidade de se sentir aceita por todos aquelas que ela julgava "os maiorais, os mais descolados". E mesmo, apesar das brigas e desavenças, ela acreditava que o amor e respeito os unia. Não percebeu (ou isso pode ter ocorrido tempos depois) que era a droga que os unia. Foi no Sound que ela conheceu seu primeiro namorado, Atze e passou a viver em função dele, chegado a mudar seu visual para agradá-lo. No meio disso tudo, ela já tomava Efedrina, Valium e Mandrix. Ela nos conta o seu fora e posteriormente como engata o namoro com outro frequentador do Sound, Detlef. Ao longo do seu depoimento, ela descreve seu relacionamento com Detlef como algo "único, terno e sincero". Novamente eu penso que ela maquiou a realidade. Mas percebi que não precisa ser uma viciada para distorcer sua realidade. Quem aqui nunca viveu de aparências, escondendo o jogo sobre seus problemas de relacionamento. Claro que em se tratando de Chris F e Detlef, a escala era muito maior. Ele começou a se picar primeiro que ela. Pensando que perderia seu amor, a menina foi na onda da heroína, achando que poderia parar no momento em que decidisse. 

Na primeira vez em que li, achei aquilo chocante. Antes nunca tinha lido nada com tantos detalhes e tanta franqueza também. Até mesmo as biografias dos meus ídolos musicais traziam passagens tão brutas quanto a da Chris F. O choque talvez foi maior por se tratar da vida de uma garota que mal tinha completado 14 anos. Eu tinha 17 quando li a história e me senti extremamente feliz em nunca ter pensando em experimentar algo do tipo. A partir do namoro com Detlef, começa a queda vertiginosa de Chris F nas drogas, passando por situações degradantes, como a prostituição. Engraçado que ao ler os relatos, ficava cada vez mais em dúvida sobre o amor de Detlef por ela. 

Relendo o livro, eu dei mais atenção como o governo levava essa situação. Não que a nossa protagonista nunca tenha tentado parar com o vício; mas as instituições não pareciam preparadas para aquela contigente de jovens (verdadeiras crianças) cada vez mais debilitadas pelo uso de drogas como a heroína. Havia também muitas clínicas que visavam mais o lucro do que a reabilitação dos pacientes. 

Uma Alemanha dividia ao meio, o número de jovens frustrados quanto ao seu futuro, escolas estimulando a competição entre seus alunos, Chris F e sua turma de viciados sonhando com uma vida burguesa (embora demonstrassem desprezo por eles, os burgueses), um número crescente de jovens se prostituindo, outros tantos morrendo por overdose. Esse é o cenário apresentado no livro. Eu não conheço uma pessoa que não tenha um caso de parente envolvido com drogas. Eu mesma tenho um primo que é viciado. Pior cena do mundo ele aparecer totalmente alterado na festa de casamento do irmão. E a família ainda tenta esconder o sol com a peneira. Mas o problema é que não se pode ir internando a força, deve partir dele a vontade. Aí que mora o problema. Eu, com meus 26 anos, ainda não consigo ter uma opinião formado sobre a questão da droga, se vejo apenas como uma questão de saúde pública ou se opino na questão jurídica. Será mesmo que a descriminalização das drogas diminuiria a violência? Mas isso não diminuiria as complicações do abuso do uso de drogas. Se nossos hospitais não conseguem atender pacientes com uma simples dor de cabeça...E qual seria a graça de eu estar ao lado de pessoas que estariam com o estado alterado por uso de drogas? Ok, já ouvi como resposta que há alimentos que também alteram a percepção das pessoas e que nem por isso estão restringindo a venda de alimentos (e ainda me deram como exemplo o chocolate). Talvez eu esteja fraca com argumentos. Talvez eu seja um reacionária enrustida. Ou eu não consiga hoje ver viciados como vítimas ou pobres coitados. É difícil entender o motivo que leva tanta gente a querer experimentar uma droga. Porque baixa auto-estima, problemas familiares, financeiros e amorosos todo mundo tem. Já me frustrei muito nessa vida e nem por isso recorri a drogas (até mesmo medicamentos). Eu nunca passei por uma situação em que precisava ser aceita e, para tal aceitação, tivesse que fazer algo que ia contra os meus princípios. Embora meus ídolos do rock fossem em sua grande maioria de drogados e muitas de suas composições foram criadas sob o efeito das drogas, eu não me deixei influenciar. Será que tudo isso se resume a ter personalidade? Não, é muito simplório. No meu caso, eu suponho que amo demais o meu corpo para destruí-lo, e não quero apagar da minha memória os meus momentos, sejam eles tristes ou alegres. 

Soundtrack: 

Nos anos 80, o livro foi parar nas salas de cinema. Mas já adianto que é muito, mas bota muito, ruim! Como comentou meu colega André Rosa, "é um filme que não tem o começo". O professor Vitor passou em uma aula, antes da aplicação da prova. Vale muito pela trilha sonora, que ficou na mãos do David Bowie, não por acaso um dos cantores favoritos da Chris F. Segue abaixo duas cenas do filme:

Station to Station (e eu adorei o fato dele ter participado do filme)

Heroes - esse clássico está também na trilha de As vantagens de ser invisível

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Marcelo Tas e Lulices


É muito legal ter a oportunidade de conhecer um ídolo, aquela pessoa dotada de um imenso carisma e que nos conquista logo de cara. Muito mais bacana é, além de conhecê-lo, constatar que ele não é um chato de galocha, cheio de não me toques. Em 4 de novembro de 2009, uma quarta-feira, eu realizei o sonho de ver bem de perto o diretor, apresentador e roteirista Marcelo Tas. Já escrevi aqui mesmo o quanto esse careca foi influente na minha vida, afinal ele foi o Professor Tibúrcio do Rá-Tim-Bum, o meu primeiro professor. Naquele dia ele estava lançando o livro Nunca antes na história deste país - As frases mais engraçadas e polêmicas do presidente Lula (comentadas por um especialista no assunto). Desde o primeiro tweet do Tas sobre a noite de autógrafos que ele realizaria eu pensei comigo mesma, não posso perder por nada deste mundo! O horário era bom, começaria às 18h e o local era próximo, na Livraria Saraiva do shopping Higienópolis. Mas sempre pode acontecer algo para atrapalhar meus planos. Naquela ocasião era integração ao novo trabalho. Eu tinha acabado de ser contratada pela Tivit e eu mais quatro pessoas (Jéssica, Monaliza, Paloma e o Henrique) tivemos de comparecer no prédio da empresa, localizado ao lado da Praça da República, para conhecermos o local de trabalho, termos ciência dos valores da empresa, o que podia e o que era proibido, blá blá blá wiskas sachê. Isso tudo no início da tarde e meu temor era chegar em cima da hora no Higi (apelido fofinho que eu deu ao shopping). Sabe quando as horas demoram para passar? Parecia que o instrutor falava em sloooooow moooootionnnnnn. E toda vez que ele questionava 'alguma dúvida' depois de uma apresentação, eu só pensava 'que ninguém se atreva!!!'. Mas deu tudo certo e 16h eu já estava liberada. Sorte que o ônibus que me levaria ao Higi passava ali ao lado. Não demorou para eu entrar no local e seguir direto à Saraiva. Não havia nenhum fã circulando por lá e o espaço dedicado ao Tas ainda estava sendo montado. Ok, aproveitei para comprar o livro e depois fiquei zanzando pela livraria, naquele momento já acompanhada pelo meu então namorado. 

A hora do evento se aproximava e corremos para a fila (fiquei sendo a sexta). Ainda era uma tarde quente e para ajudar o ar condicionado não estava funcionando muito bem. O calor aumentava a medida que a fila ia crescendo e meu livro adquiriu uma nova função: a de leque! O pessoal do Tv Fama já estava a postos, bem como alguns vips que chegaram (logicamente eles não ficaram esperando na fila): Mariana  Weickert, modelo e apresentou com o Tas o programa Saca-Rolha no extinto Canal 21; a mulher rica Narcisa Tam-bo-rin-de-guy (ufa, acertei?), Otávio Mesquita e o José Simão, colunista da Folha de São Paulo. Ele foi convidado a escrever o prefácio do livro e nos brinda com tiradas do calibre 'O Lula concorda com todo mundo, menos com a língua portuguesa', 'O FHC era poliglota, o Itamar monoglota e o Lula, zeroglota', ' O Tas esqueceu do capítulo Lula Matemático: " Quanto é 51 dividido por 2? Meio litro pra cada um". É o butequês!'. O CQC, programa do qual o Tas apresenta há cinco temporadas, também marcou presença levando a Mônica Iozzi, recém promovida a reporter (e eu até tirei foto com ela, num momento de total hipocrisia porque eu estava torcendo pelo Paulão fazer parte do programa). O calor foi atenuado com os refris oferecidos pela produção do evento, nunca uma Soda Limonada desceu tão gostoso goela abaixo! Chegado o momento lá vou eu pegar meu autógrafo! O tempo era curto e eu queria declarar todo o meu amor pelo trabalho dele. Ele já deveria ter ouvido umas quinhentas vezes que muitos cresceram assistindo aos programas em que ele participou, desde o Rá-Tim-Bum, passando pelo Castelo e chegando ao CQC. Agradeci por ele ter participado desses projetos e também comentei o quanto sou feliz ao ver que gente do quilate de Fernando Meirelles estava por trás de algum desses programas. O Tas tinha soltado um sorrisão e falou rapidamente o quanto respeita a inteligência da criançada e o quanto se sente feliz por influenciar positivamente gerações de telespectadores. Por fim  a minha ideia era dar uma bitoca na careca do Tas mas desisti logo ao perceber que ela estava muito suada (argh!). 

Ainda está disponível no YouTube a matéria do CQC, eu faço uma aparição rápida no melhor estilo Rodrigo Santoro em "As Panteras", fiquem atentos quando um moleque começar falar da "paçoquinha", eu estou à direita. 



Álbum de recordações:

Buemba! Buemba! Esse tiozinho de camisa branca, ao centro, é o Zé Simão!

Mônica Iozzi trabalhando e puxando o saco do Tas

Descobri que ser um CQC não é fácil.

"Mari, eu amava o Saca-Rolha!"/ "Eu também, flor!" (momento como puxar o saco de uma  celebridade! Mas o programa era realmente legal, eles formavam um trio com o Lobão!

O apresentador mais tchuqui-tchuqui ^^. Notem que ele desenhou o prof Tibúrcio.


Esse é o Marcelo Duarte, autor da série Guia dos Curiosos, diretor editorial da Panda Books e apresenta  o Loucos por Futebol na Espn (e ele ficou surpreso quando eu pedi pra tirar uma foto)

Nossa Mônica, sempre torci por você! #mentiiiiira

missão cumprida!

foto que foi exibida no site

Sobre o livro:

O Marcelo Tas fez uma compilação de declarações do ex-presidente Lula. Segundo o próprio Tas, " Ao receber a faixa de presidente, como num passe de mágica, Lula tomou pose, não apenas da presidência da República, mas de toda sabedoria e diplomas acadêmicos os quais não teve acesso antes." Ele classifica o ex-presida em dez profissões mais assumidas durante os seus dois mandatos. Após uma rápida leitura eu já chego a seguinte conclusão: o Brasil é realmente o país da piada pronta, onde os verdadeiros comediantes estão no Planalto Central (entre outros lugares) e o povo assume o nariz de palhaço. Quando iniciei minha leitura de Nunca antes na história... eu ingenuamente pensei que começaria por um tema leve, mas ele pode despertar a ira de muitos. Não é preciso ser "o" anti-petista para se indignar com as declarações do Lula referentes ao mensalão, ou mesmo dar uma risada sarcástica após ler os auto-elogios, se gabando de ser um presidente infinitamente melhor do que FHC ou ainda o 'arrego' dele perante a figuras como Collor, Sarney e Maluf. Mas eu também já sei que interesses e "virar a casaca" não é exclusividade de políticos. Discursos, muitos fazem...colocá-los em prática são outros quinhentos. Cansei de conhecer gente que enche o peito para falar em ética mas arrota hipocrisia. 

Só para deixá-los com curiosidade, aqui vai um 'trailer' de algumas frases presentes no livro, todas devidamente comentadas pelo Tas:

"Daqui a alguns dias vou encontrar meu amigo Bush e vou dizer a ele: 'Bush, resolve aí o problema da crise, porque não vamos deixá-la atravessar o Atlântico e chegar ao Brasil."
17/9/2007, em entrevista em Madri, quando o presidente ainda desprezava a crise econômica mundial, definida por ele como 'uma marolinha'
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Tem razão o presidente. A crise não "atravessou" o Atlântico. Veio a pé mesmo, devagarinho, pelo canal do Panamá. Demorou um pouco, mas chegou!

"Tenho um filho fanático pelo Corinthians e agora, para o meu azar, virou estagiário do São Paulo."
7/2/2007, durante a premiação dos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro
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Azar o presidente e constrangimento total do filho dele. Imagina o ambiente de trabalho do cara, depois do papai entregar, diante da mídia nacional, que o novo funcionário do tricolor é fanático pelo Timão. 

"A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém no meu governo."
9/10/2006, às vesperas do primeiro turno das eleições
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Eis o mistério do poder: o presidente se frustra e vence as eleições; os ricos ficam mais ricos e os pobres naquela mesma vidinha de sempre (eu, Shilzinha, cito ainda a música das Meninas ♫Analisando essa cadeia hereditária/quero me livrar dessa situação precária/E o rico cada vez fica mais rico/e o pobre cada vez fica mais pobre♫)

"Estou pronto para a briga. Também vou entrar no tapume."
27/9/2005, se exalta e troca "tatame" por "tapume", ao receber os judocas brasileiros vitoriosos que participaram do Mundial de Judô.
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Para sair bem na foto, Lula topa tudo. Até dar de cara no tapume.

"Quando Napoleão foi à China, ele cunhou uma frase que ficou famosa. Ele disse: 'A China é um gigante adormecido que o dia que acordar, o mundo vai tremer."
30/04/2003, na abertura do seminário Brasil-China: um salto necessário
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Duas correções: 1."Gigante...deitado eternamente em berço esplêndido", são versos do hino que país mesmo, hein presida?; 2. Napoleão nunca pôs os pés na China.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Leio, logo existo



Uma das páginas que eu mais gostei de curtir no Facebook foi a 365 filmes em um ano. O responsável compartilha imagens belíssimas de filmes e bastidores do cinema, além de fazer comentários muito bons. O título da página merece uma explicação: o autor resolveu assistir a 365 filmes em um ano, mas logicamente não devemos interpretar ao pé da letra. Fica um pouco inconcebível ver um filme por dia, só uma pessoa bem desocupada privilegiada para fazer algo do tipo. Mas sempre há uma chance de realizar uma sessão pipoca para curtir dois ou até três filmes na sequência. O legal é que ele não foca apenas nos lançamentos no cinemas pois ele também deseja ver os grandes clássicos e pérolas perdidas. Eu comecei citando o 356 filmes... por que eu resolvi criar um desafio semelhante para mim, mas saem de cena os filmes e entram os livros. 

Tudo começou num momento Amélia (aquela que não tinha a menor vaidade, aquela que era mulher de verdade), quando resolvi arrumar meu armário de livros. Tarde quente e sem absolutamente nada para fazer, me entreguei de corpo e vontade ( e não de corpo e alma pois eu não acredito no conceito de alma) à arte de organizar livros. Primeira coisa que percebi: eu tenho livro pra carai!!! Claro que junto dos meus tesouros há alguns intrusos. Por exemplo, eu nem sabia que nós temos dois livros do Gabriel Chalita (para quem não é de São Paulo, o Chalita já foi secretário da Educação, foi candidado a prefeito de Sampa e ainda é amigo dos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo), entre eles o Pequeno Filósofo. Percebi também que minha mãe guarda umas sete bíblias (entre tradicionais e de tamanho mini); querem saber quantas vezes eu a vi lendo uma bíblia? NENHUMA! É como eu sempre digo, minha mãe não é católica e sim poser! Há muitos livros do Augusto Cury, o expert em livros de auto-ajuda, e também a dona Zíbia Gaspareto tem lugar cativo entre as mulheres da minha casa e eu, não querendo ser do contra mas já sendo, não tenho apreço por nenhum dos dois. O primeiro sempre reforça aquela impressão de que livros de auto-ajuda são guias ou manuais práticos para todo e qualquer problema que afeta o ser humano. São diversos livros lançados que eu me sinto obrigada a questionar, 'as pessoas são tão burras para encarar a vida com os próprios passos?" A literatura é, antes de tudo, um estado de inquietação, não importando o gênero, ele tem que deixar o leitor pensar por si próprio e não trazer soluções mágicas para todos os males da humanidade. Claro que muitas histórias nos levam ao aprendizado (a famosa moral da história), mas o mais gostoso é aprender sem perceber. É embarcar num enredo gostoso que te faça compreender o personagem. E eu ainda prezo por um texto bem elaborado, adoro interpretá-los, não aceito nada assim dado de bandeja. Eu costumo me definir como uma amante de figuras de linguagem: metáforas, "metádentros", metonímias, aliterações, paráfrases...ai se um anacoluto passa na minha frente! Favor não confundirem texto elaborado com texto repleto de palavras difíceis e ideias truncadas. Há autores que conseguem nos presentear textos deliciosos com temas e linguajar ultra simples! Já os livros denominados espíritas não me cativam por que eu simplesmente não acredito em espíritos. O único defunto-autor que reconheço e aprovo é o Brás Cubas. Sei lá, mas não é estranho a Zíbia levar toda a fama por histórias sussurradas por outra pessoa? Em todo o caso, eu sempre comento com minha mãe, "Olha mulher, caso eu esteja errada e exista vida após a morte, eu vou contar um monte de histórias no ouvido da Zíbia e se ela quiser publicar, vai ter que dividir os lucros com meus parentes!"

Deixando de lado esses títulos, tratei de separar meus livros e deixá-los numa localização mais acessível dentro do armário (ou seja, Augusto Cury e Zíbia lá pro fundão). Se a Pâmela tem o hábito de cheirar livros aqui ela faria a festa, com direito a muitos espirros. Comecei a empilhá-los em cima da cama da minha irmã, depois fiz uma lista anotando o nome de todos, seguido pelo nome de cada autor e editora. Por fim, eu estava doidinha por não conseguir escolher a melhor forma de organizá-los: em ordem alfabética, por nome dos autores, editoras ou gênero. Acabei optando por ordem de tamanho (!). 





Eu dei falta de alguns livros que marcaram a minha infância. Na verdade eu não sei se eles foram doados ou se estão nos armários que ficam ao lado da lavanderia (sinto calafrios só de imaginar o estado de conservação). Não foi nenhum parente que me iniciou o hábito da leitura, tão pouco foi na escola. Muitos programas que gostava de ver na infância ( e se pá vejo até hoje na Tv Rá Tim Bum) sempre indicavam livros, como um quadro do X-Tudo ou no Mundo da Lua! Nem preciso comentar que meu cômodo favorito do Castelo Rá-Tim-Bum era a biblioteca, né? Um livro que nunca me esquecerei é o Bulunga, o rei azul, que conta a história de um gato azul e que só gostava dessa cor (hoje eu desconfio que ele seja um torcedor do Chelsea). Uma história aparentemente simples mas que tratava do preconceito. Outro bacana foi A colcha de retalhos, que narra a história de um menino, Felipe se não me falhe a memória, que tem uma avó costureira. Um dia ela fez um colcha com vários pedacinhos de roupas do netinho, para que ele pudesse se recordar de cada passagem da vida dele. Ele ficou lá se lembrando de várias coisas até que começou sentir uma saudade danada da vovó. A atividade sobre esse livro foi bacana, a minha professora propôs que nós levássemos um pedaço de roupa e que revelasse a história ligada a ele. Eu tinha levado um pedacinho do vestido que usei no casamento da minha irmã Luciana. Ele aconteceu no dia 7 de setembro de 1996, como eu mesma declarei era o dia da MINHA independência. Ledo engano, lá se vão dezesseis anos e a Luciana continua muito presente na minha vida. Eu também já tive O diário de Anne Frank, eu li na sétima série mas eu devo ter emprestado para alguém que nunca mais me devolveu. Por isso livro é algo "imprestável" (do verbo não empresto mesmo!). 

Porém não posso me queixar da quantidade de livros guardados aqui, são 81 livros que além de suas histórias originais, carregam também parte da minha história. Cada título me faz voltar ao passado e lembrar o que aconteceu naquele tempo. Os livros são os retalhos que compõe minha colcha. Por isso eu resolvi qu 2013 será o meu ano da leitura, pois pretendo ler 365 livros no ano. Claro que incluirei os livros da minha coleção, será um prazer reler algumas obras e ver se minha concepção mudou muito. Parece loucura mas não deixa de ser um desafio e tanto. Logicamente meus pulos até a Biblioteca serão mais constantes. Porém não quero me pressionar muito só para atingir a meta de 365 livros. Não quero ler por ler, quero me atentar ao texto, refletir e expandir meu HD (também conhecido como cérebro). O mais bacana é que ao fim de cada leitura eu vou escrever sobre esse epopeia literária (fiquem tranquilos, não darei spoiler sobre a trama), tecendo comentários sobre a obra e fatos curiosos que envolvam meu relacionamento com o livro. Com certeza não será tedioso para mim. A minha ideia de felicidade atualmente é ler um bom livro, ouvir boa música e apreciar um bom filme. E se tiver alguém que embarque nessa aventura será bem vindo!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Bilhetinhos da Malu

Se a minha sobrinha Maria Luiza, (a famosa Malu) já esbanjava inteligência, perspicácia, bom humor, imaginem agora que ela está se alfabetizando! Suas pérolas foram potencializadas!!! Mas antes, deixe me contar alguns causos que aconteceram agora há pouco:

Estava eu lá, linda,leve e torcedora acompanhando o amistoso entre Panamá e Espanha. De repente ouço batidas na porta e pergunto "quem é?" e como resposta vem a voz da Malu, "sou eu (:D)!" Assim que entrou ela logo notou a partida sendo transmitida na tv. " Ai que droga, toda vez que eu venho aqui tá passando jogo!!!" (confesso que é meio traumatizante para a pobrezinha, afinal eu me descontrolo a cada partida, seja do Chelsea, Palmeiras, Real ou Seleção Espanha).

...

Malu: Bizu, a gente tem uma caixa de som no pescoço?
Eu: Não!!!!!!
Malu: Mas de onde sai a voz?
Eu: Das cordas vocais.
(Ela começa a dedilhar próximo à garganta, como se tivesse um violão no lugar!)


...

Malu: Bizu, vê se você acerta, qual é a palavra que começa com A e termina com R?
Eu: AmadoR!!
Malu: Não!!! 
Eu: AndadoR?!
Malu: Não, é AmoR...Agora outra: que palavra começa com A e termina com E?
Eu: Andaime!
Malu: Errou.. ¬¬
Eu: Arame????
Malu: Não, é AmizadE!!! Vai, e que palavra começa com J e termina com S?
Eu: JumentoS :D
Malu: Nããããããããooooo, é JesuS!!!!!!! 


...

Ah, deixei a Malu escrever algo pra vocês, é bem simples mas de todo o coração (eu não fiz nenhuma correção no texto)"

"Oi para todo mundo hoje eu vim para a casa da Bizu eu vim para encher o saco da Bizu todo dia que eu venho aqui a Bizu esta assistindo jogo coitada de mim e ainda tenho que ver o jogo e è iso tchu. Maria Luiza."


...

por fim, seguem abaixo imagens dos bilhetinhos e desenhos da nossa menina prodígio:

É assim que a Malu me vê!

vovó, (sic) fais aquilo que é a galinha (sic) pota ♥♥♥ eu te amo♥♥♥

Bizu eu quero o restinho do suco/ Quanto você me ama pinte o coração ♥♥♥

vovó eu posso (sic) faser uma cabana na sua cama eu te amo ta vó


Família 

Maria, sempre apelando para o emocional!
Agenda da menina: esses são os horários de suas clientes (Malu cobra R$1,00 para fazer  as unhas, R$2,00 se for francesinha)
Croquis de vestidos de noiva

O menino maluquinho, by Malu

Não sei porque, mas ela desenhou cacaus. Isso porque nem tô  obrigando a ver a novela Renascer!

sábado, 10 de novembro de 2012

Samba do crioulo doido


Minha mãe reservou o dia para ouvir um sambinha. Começou bem com Roberto Ribeiro, intérprete de uma das minhas canções favoritas desse ritmo, "Todo menino é um rei". Eu a escutava muito na época em que o Santos conquistou seu primeiro campeonato brasileiro, em 2002. O grupo denominado 'Os meninos da Vila' era composto por Diego, Robinho, Elano, Léo, Renato, Paulo Almeida, Alex, etc. Eu simplesmente achava que a música combinava com o momento e com esse grupo. Palavras como "menino', 'rei', 'mar' e 'sonho' foram associadas diretamente à trajetória  vitoriosa do Peixe naquela temporada. 



A playlist da mamis continuou com o Zeca Pagodinho, outro cantor que tem o meu respeito. Aliás, minha mãe assistiu a um show dele no mês passado, lá no Auditório do Anhembi. E o melhor: na faixa! A velha voltou de lá parecendo uma criança que voltava do parque de diversões. Mas o caldo entornou mesmo  quando ela botou para tocar o Acústico Mtv do Art Popular. Ouvir isso é recordar daquela época em que o pagode romântico tomava conta da programação das AM, FM e programas popularescos. Era presença garantida nas tardes de domingo, seja no Faustão ou no Domingo Legal. O meu refúgio era a MTV mas em 1999 até ela abriu espaço para o axé, samba e pagode, sem o mínimo de bom senso no quesito qualidade. Antes o pagode só era representado pelo Grupo Molejo e sua pérola 'Brincadeira de Criança', que sempre batia ponto no 'Piores Clipes do Mundo)

Ao ouvir Art Popular, eu fiquei prestando atenção na letra nonsense de Bombocado. Quando percebi, me pego 'destrinchando' verso por verso para compreender a 'poesia' escondida por trás da canção:


Ai ai ai ai
Ai ai ai ai 
ô ô ô ô

Ai ai ai ai
Ai ai ai ai 
ai... ai... ai ai

Como é de praxe da música brasileira não pode faltar uma sequência de vogais para ser facilmente cantarolada!

Como um bombocado pra te devorar
Dim dim dim dim dim
Como um brigadeiro pra de lambuzar
Dim dim dim dim dim
Boto a mão no bolo pra te comemorar
Pra te comemorar, pra te comemorar
Danço o miudinho pra te conquistar 
Dim dim dim dim, dim, dim, dim

Há duas hipóteses para esses versos: o cara é um frustrado que não chega junto na mulherada e acaba compensando com comida, projetando o seu objeto de desejo nos doces. Ou ele dá em cima de uma doceira e para agradá-la ele come os quitutes dela!!! O "dim dim dim' são apenas onomatopéias criadas para preencher espaço, já que o autor não teve capacidade de criar mais versos...

O violeiro toca e se toca
De olho no xibiu da morena
Ai que zueira, que festa de arromba
Põe essa galera pra sambar

De repente surge a figura do violeiro que não contente em tocar, ele também "se toca" quando vê o xibiu da morena (satisfazendo-se???). E que diabos é xibiu? Corro pro dicionário e não obtive sucesso. Vamos de Google então: "Xibiu é uma denominação para diamantes pequenos, porém ganhou grande popularidade do país durante os anos 80 devido à uma balinha(doce) homônima: "XIBIU". Quem com seus 30 anos nunca chupou um xibiu? Devido ao duplo sentido da frase "JÁ CHUPOU XIBIU?" oriunda de uma música gravada pela banda "CHEIRO DE AMOR", a palavra começou a ser relacionada também ao órgão genital feminino (vagina, b*ceta, etc) http://www.dicionarioinformal.com.br/xibiu/ Que horror! Crianças inocentes cantam e dançam ao som dessa canção! Isso é um funk carioca travestido de samba! E que ironia, também era nome de uma bala, logo faz todo o sentido a letra ser pautada por nome de doces!!!

É debaixo da saia que eu vou
É debaixo da saia que eu vou
É debaixo que eu vou ficar....só pra te olhar!!

E por fim a taradice fica explícita: o cara quer é mesmo ficar embaixo da saia para ficar bizoiando as partes íntimas da morena...insinuação de algo a mais????? #mentepoluída !! Porque só muito inocente para acreditar que o xibiu aí signifique diamante!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Merci, Monsieur Gainsbourg

Quando me perguntam qual é o meu estilo de música favorito eu respondo na lata: sou roqueira apostólica britânica. Na verdade eu sou bem eclética dentro do rock'n'roll, mas todos devem notar minha preferência por sons dos anos 50/60 e pop rock dos anos 80, seguidos de perto pelo som produzido na primeira metade da década de 90 (grunge, meus queridos) e pelo som atual que vem da terra da Rainha. Eu não nasci roqueira e sim me tornei, o que deixa a história mais saborosa. Sim, tenho dois tios que adoram rock, então eles de certa forma me influenciaram mas partiu de mim desvendar os mistérios desse tal de roque em rou! 

Porém, contudo, todavia eu não sou uma roqueira cabeça-dura, daquelas que se fecham para outros ritmos. Sempre digo que "antes de tudo, eu gosto de boa música'. Não é errado eu pensar que o rock já foi representado por péssimos grupos (alguém aí gritou Restart?). Não tenho vergonha nenhuma em dizer que adoro ouvir uns sambinhas dos bons do Martinho da Vila, Demônios da Garoa, Cartola, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, etc. Gosto muito de ouvir o programa O Samba pede passagem da rádio USP. Esses sambas apresentam letras muito sofisticadas e líricas ( e por que não, complexos?). Eu não me contento em apenas ser uma ouvinte, eu preciso saber o que o compositor quis dizer em cada verso. Aí está o meu maior  barato. Obviamente eu deito e rolo nas composições do meu Chico Buarque!!! Além de um sambinha, eu gosto de ouvir tango (culpem o Carlos Gardel) e de vez em quando eu me arrisco a ouvir artistas fora do eixo EUA-Inglaterra. E dessa forma chegamos ao Gainsbourg. 



Serge Gainsbourg foi um cantor e ator francês e eu o descobri de uma maneira indireta (como na maioria das vezes acontece com meus artistas favoritos). Meu primeiro contato com Gainsbourg foi assistindo o programa Top-Top na Mtv, que consistia em listar os "10 mais" de um determinado tema. Se não me falhe a memória o tema era sobre as 10 músicas mais importantes (ou marcantes) e o Serge ficou entre os 3 primeiros graças a sua Je t'aime moi non plus:




Os apresentadores afirmavam que essa foi a primeira música em que a sacanagem rolou solta. Um certo exagero, mas levo em consideração que o roteiro do Top-Top era pautado no bom humor. Bom, o sexo já era cantando de forma direta ou indireta há muito tempo. O próprio nome Rock'n'Roll é nada mais, nada menos do que uma gíria para sexo (tudo o que os garotos queriam era 'agitar e rolar' com as garotas). Mas logo na primeira audição de Je t'aime moi non plus nos chama a atenção esses sussurros da Jane Birkin. Há quem afirme que Serge colocou o gravador embaixo da cama para captar os gemidos e sussurros dela enquanto eles estavam fazendo o bom e velho entra e sai. Realmente, uma das canções mais sexy de todos os tempos. 

Mas eu ainda não tinha sido fisgada por ele. Isso aconteceu lá por 2008, em uma postagem feita na comunidade do grupo The Last Shadow Puppets (dueto formado pelo Alex Turner do Arctic Monkeys e Miles Kane do The Rascals) no Orkut (oi, alguém lembra disso??). Era época do lançamento do clipe Stand Next to Me e um rapaz postou Mounsier Willian afirmando que esse vídeo serviu de inspiração para o então recente clipe do TLSP. Vejam abaixo e me digam se há certa semelhança:


confissão: eu faço as coreografias!

A cereja do bolo foi ter encontrado numa Livraria Saraiva um álbum chamado Mounsier Gainsbourg Revisted, onde artistas da cena atual fizeram as suas versões para os clássicos do Serge. Há gente do calibre de Franz Ferdinand, Cat Power, Michael Stipe, The Kills, Placebo e até a ex-primeira dama francesa, Carla Bruni. Todas as versões foram cantadas em inglês, mas aquele charme francês continua. Aliás, adoro esse ar blasé que os franceses tem, parecendo tão superiores a nós. Quando eu ouço a palavra França, a primeira imagem que meu cérebro processa é de um homem de terno, acompanhado de uma mulher de cabelos lisos e cumpridos, ambos fumando de um modo tão elegante mas ao mesmo tempo tão 'não tô nem aí, quero que o mundo se exploda'...claro, a imagem é em preto e branco. Talvez meu fascínio pelas músicas de Gainsbourg pode ser explicado da seguinte forma: é uma música que toma conta de você, que te faz pensar 'é fácil ser sexy, é fácil cantar os seus desejos, vamos lá ser livres, com nossos vícios e virtudes'. 


versão de Cat Power e Karen Elson para o clássico 

sábado, 3 de novembro de 2012

As vantagens de ser invisível - parte 1





Reservei o dia de hoje para conferir As vantagens de ser invisível. Na verdade, era para eu ter ido ontem, mas o calor de 36 graus me desanimou. Não funciono bem em altas temperaturas, fico mais lenta do que uma preguiça-gigante. Sem querer querendo essa se tornou a segunda quinta-feria seguida em que eu vou ao cinema. Semana passada eu fui ao Cine Marabá para ver Looper, aquele em que o Joseph Gordon-Levitt faz um assassino profissional encarregado de matar pessoas trazidas do futuro. Até ele se deparar com "o ele do futuro" (feito pelo Bruce  Willis). Uma nota rápida sobre esse filme: ele tinha tudo para ser O filme, daqueles de me fazer gritar QUE FILME FODA. Mas não foi. A primeira metade dele é ótima, com ótima edição, bons ângulos, a atuação do JGL brilhante (confesso que não o tinha visto até então fazendo um "bad guy"). Desde de Inception ele me impressiona em cenas de ação. Mas uma história que tinha tanto potencial tornou-se morna da metade pra frente. Saí do filme com uma sensação de que faltou algo! Enfim, 9,5 pro início e 6 pro final. No sábado vi 007 - Operação Skyfall, que foi satisfatório. Um bom filme de ação, mas ficou aquele gosto de deja vu, porque algumas cenas remetem à Os Vingadores e até Batman- O cavaleiro das trevas! Mas valeu pelo agente Q!!! Sem falar que eu caí no cinema. Ainda bem que a sala ainda não tinha gente e eu tive a proeza de cair quando ainda subia o primeiro degrau! Me joelho está doendo até agora...

Enfim, só fiquei sabendo da existência d'As vantagens de ser invisível após ler uma reportagem na Preview. Não só o enredo me chamou a atenção,mas também a relação de músicas que fazem parte da trilha sonora. Há The Smiths, David Bowie, Sonic Youth, Air Supply, etc.  Esse é o tipo de filme feito sob medida para mim, assim como foram Peixe Grande, 500 dias com ela, Alta Fidelidade, O  Artista e Meia Noite em Paris. A minha ideia era chegar cedo ao cinema. O local escolhido foi PlayArte do Center 3, que na verdade é uma praça de alimentação e um complexo de cinema disfarçado de shopping, porque tem poucas lojas, haha! Mas eu reparei que foi lá, no Center 3, onde eu vi mais filmes até o momento: 6 ( O Artista, Shame, Batman - The Dark Knight Rises, 360, Um divã para 2 e o que dá o título ao post). 

Sexta vez que vou ao Center 3. Tudo para passar pela Paulista!

Quando eu saio do metro e subo as escadas, vejo uma avenida Paulista se preparando para o Natal. Eu fico meio confusa com a aproximação do natal. Para uma ateia não há nada a ser comemorado. E acho tudo tão artificial: as pessoas perdendo tempo em filas nos shoppings só para que seus filhos tirem fotos com um velho barbudo. Ou então gastam todo o décimo terceiro em compras, para depois iniciar o ano com a corda no pescoço. Cristãos criticam ateus por não acreditarmos em deus. Eles nem lembram por qual motivo se comemora o natal. Vai entender...Tinha um Elvis cover se apresentando em frente ao shopping e não sei de onde saía um som de Like a Rolling Stone do Dylan. São Paulo sempre me presenteando. Nossa  saí completamente do assunto, voltemos ao foco. 

São 16h19 e estou escrevendo o rascunho no meu celular. Ele já tá velhinho: a proteção do teclado caiu, a tela de vez em sempre apaga sozinha e às vezes eu não ouço quem está do outro lado da linha (pelo menos tô livre da Samara). Eu tinha chegado e comprado meu ingresso às 15h39 e a sessão só começaria às 17h20. Não tinha levado o livro do George Orwell. Eu poderia atravessar a rua e ir visitar a Livraria Cultura. Isso...mas a preguiça somada com as cólicas que sentia me impediram de levantar a bunda da cadeira. E tem mais: com certeza minha mão coçaria para comprar um livro. E eu já tinha atingido a cota do mês, comprando um livro sobre o David Bowie e outro sobre a música pop no cinema. Deixa eu comer no McDonald's que eu ganho mais peso. Dou uma bizoiada ao meu redor e o andar não está muito cheio. Na mesa localizada a minha frente há dois rapazes conversando. Tô tentando adivinhar se eles são gays. Um deles, o mais branquinho, parece o Fernando. Será que são parentes, por que o Fernando não tem uma cara comum não. Hum, reparando no carinha que está com ele dei o meu veredicto: sim, são gays! Eu poderia pedir pra eles uma folha de caderno emprestada,estou namorando há tempos o caderno de um deles, tem a capa laranja. Meus dedinhos estão doloridos de tanto digitar nesse tecladinho minúsculo. Acabou de passar um velho parecido com o George Lucas. Eu já vi sósias do Morgan Freeman e do Micheal Caine (my cocaine,rs). As horas não passam, ainda são 16h38 e eu estou aqui, invisível, digitando num celular que me acompanha desde 2008, vestindo uma camisa verde com imagens dos posters de filmes do Pedro Almodovar, tão velha que já tem um furo próximo a barra. Meu velho All Star Preto com paetês, não me desfaço porque esse modelo não existe mais. Ele é de 2007. Às vezes eu fico um pouco chateada de não ter uma companhia para essas idas ao cinema. Acontece que sou extremamente chata para escolher filmes. Todos que estão aqui vieram para ver o filme do Gonzaga ou aquela comédia que tem aquele gordo chato histério da Globo. E não entra na minha cabeça a ideia de ver um filme sem pé nem cabeça para pura e simplesmente 'desligar o cérebro e relaxar'. Por mais simplória que seja a história, ela tem que respeitar a inteligência do público. Por isso que sou bem seletiva para ver comédias em geral e filmes de ação. Dificilmente alguém iria comigo para ver O espião que sabia demais ou Cavalo de guerra ("so boring" para alguns) ou ainda Shame. Numa conversa ao final da eleição para o segundo turno eu comentava sobre Bastardos Inglórios e o pessoal que compunha a mesa comigo me olhou de modo estranho e disseram nunca ter ouvido falar desse filme! Bastardos Inglórios!!!! Tarantino!!! Será que não sabem que Kill Bill, Cães de Aluguel, Pulp Fiction são dele????? Pelo menos falassem que era o cara que parece o Samuel Rosa do Skank. Sou eu fanática demais por filmes ou as pessoas que não se interessam em expandir o cérebro com algumas referências que o filme pode lhe oferecer? Quando estou sozinha minha cabeça não consegue relaxar e fico com zilhões de ideias na cabeça. Uma pena que eu não tenha um chip no cérebro para me lembrar de tudo depois. Tem dias que eu sou a minha melhor companhia. Não é fugir de gente chata (como alguns familiares, por exemplo) nem querer achar que meu gosto musical/cinematográfico é melhor do que dos meus amigos. Simplesmente eu senti que o filme que estava prestes a ver era para ser apreciado apenas por mim, sem tem que justificar minhas lágrimas e risos a cada cena. Pois bem são 17h10 e já vou entrar na sala 4!




quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ela é a fera, ela é a Bela


De todas as princesas Disney, a Bela sempre foi a minha favorita. Não seria exagero afirma que  "A Bela e a Fera" é o desenho mais visto por mim, superando até "O Rei Leão". Infelizmente não tive a chance de assisti-los no cinema. Faço um esforço danado para me lembrar a razão pela qual pedi de presente o VHS d'A Bela e a Fera. Todo esse fascínio começou na época do lançamento da animação, em 1992 (Shilzinha com 6 anos). Logicamente eu não era essa cine-nerd-rock que sou hoje em dia. Mas já tinha bom gosto desde pequena. Juro não me recordar de ser bombardeada por propagandas do filme, mas apenas de uma reportagem do Jornal Hoje. O motivo de A Bela e a Fera chamar tanta atenção foi a sua indicação ao Oscar® de Melhor Filme. Aquilo foi um fato inédito na história da Academy Awards. Anos mais tarde foi criada uma categoria para que as animações concorressem (prêmio de melhor Animação) e o primeiro vencedor foi Shrek, da Dreamworks. Procurando Nemo, Os Incríveis, Happy Feet, Wall•e, Toy Story, Rango foram alguns dos vencedores. Todos eles estão na minha lista de favoritos, mas nada se compara ao frisson que A Bela e a Fera causou na minha infância.

Realmente tô fazendo uma viagem no tempo para me lembrar em qual ocasião eu ganhei de 
presente o VHS. Dia das crianças ou natal? Só sei que fiquei muito orgulhosa. Junto com a fita veio um livro, que basicamente contava a  mesma história. Se eu ia para casa da Li ou pra casa do meu pai, levava juntos o VHS e o livro. Outra oportunidade de assistir ao filme era quando tinha horário político. Sempre eu e o meu sobrinho Thiago (na época com pouco mais de 2 anos) pedíamos pra ver. E o Thi, tadinho, acabava dormindo no meio da exibição e por um bom tempo ficou sem saber o final da história.

Resumindo a história, a Disney fez a seguinte versão: um jovem príncipe vivia em seu castelo (só poderia ser num castelo, né? Imaginou ele vivendo numa casinha de sapê?!), contando apenas com a presença de seus subalternos. Numa noite de tempestade, uma velha mendiga bate a sua porta, pedindo abrigo e comida. Em troca ela oferecia uma rosa. O príncipe ficou horrorizado com a feiura da velha e a expulsou. Mas ela era uma feiticeira e acabou jogando um feitiço no príncipe e em todos os moradores do castelo: ele se transformou numa horrível Fera e os empregados em objetos. Somente se ele aprendesse a amar e fosse retribuído, o feitiço se acabaria. Caso contrário, ele permaneceria Fera para sempre. O filme dá um salto no tempo e conhecemo a jovem Bela, filha única de Maurice, um velho inventor,e que vivia numa vila na França. Ele participará de uma feira de invenções, porém ele acaba se perdendo no caminho e acaba procurando abrigo em um horripilante castelo. Lá acaba tornando se prisioneiro da Fera e cabe a Bela libertar o seu pai, oferecendo-se como prisioneira. Em suma, é isso (confesso que o calor de 36º me impendem de detalhar mais o filme, a preguiça só aumenta e tô quase vendo miragens na minha frente! Vão pro Google!).

No alto dos meus 6 anos o que me chamava atenção era a mensagem de nunca julgar as pessoas pela aparência (muito antes de ver uma animação de um certo ogro verde). Claro que o alívio cômico por parte dos objetos-empregados do castelo e os números musicais me encantavam. Mas conforme eu ia crescendo (entendam: amadurecendo), eu prestava atenção a novas nuances. O diálogo abaixo já nos entrega todo o perfil da personagem:

-Papai, o senhor  me acha estranha?
-Minha filha, estranha? Onde você ouviu uma coisa dessas?
- ah, não sei, é que me sinto tão só, não tenho ninguém pra conversar...
-E o que me diz do Gaston? Ele é um rapaz bonito....
-É, é bonito sim e rude e convencido, não papai, ele não é pra mim.

Logo de cara percebemos que ela tem personalidade. No primeiro musical, os moradores da vila cantam que "O nome dela quer dizer beleza, especial é essa donzela/Mas por tras dessa fachada, ela é muito fechada/Ela é metida a inteligente/ Não se parece com a gente/Se há uma moça diferente é Bela"


Rola uma identificação total agora por notar a paixão da Bela pelos livros e suas visitas a biblioteca. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Ela torna-se o oposto do que espera o Gaston. Isso fica mais evidente na cena em que o brutamontes joga o livro da nossa heroína na lama:

-Não é direito uma mulher ler...logo ela começa a ter a ideias, a pensar...
-Ora Gaston, você é um homem muito primitivo...
-Ah, obrigado Bela. 

Em outro momento, ao tentar pedir a mão de Bela em casamento, Gaston mostra qual é o papel da mulher na sua restrita visão de mundo:

-Imagine uma cabaninha rústica, a minha última caça assando, a esposinha massageando meu pés...as crianças correndo pela casa, brincando com os cães. Teremos 6 ou 7 (filhos). 

Mas a Bela sempre deixou claro que quer mais do que a vida do interior. Ela prezava por sua 
liberdade. Tanto que após o fora que ela dá em Gaston, acontece um dos meus momentos favoritos do filme, quando ela sai de casa indignada e cantando:

"Madame Gaston
Casar com ele
Madame Gaston
mas que horror
jamais serei esposa dele
Eu quero mais que a vida do interior
Eu quero viver num mundo bem mais amplo
Com coisas lindas paraver
E o que mais desejo ter
É alguem pra me entender
E é por isso que tenho tantas coisas pra dizer!"

Todas as minhas amigas puxam a sardinha pro lado da Ariel ( a Pequena Sereia). Sim, ambas querem conhecer o mundo, tem sede de conhecimento e aventuras, mas a Ariel está mais para uma adolescente rebelde confrontando as ordens do pai, disposta a mudar sua própria natureza  e abrir a mão de sua voz para conquistar o seu príncipe encantado. A Bela já faz um esforço maior e mais digno: ela troca sua liberdade pela do pai. Ela enfrenta a Fera de igual para igual e num momento de compaixão ajuda a Fera, após ter sido resgatada de um ataque de lobos. É nisso que a Bela ganha pontos. Ela nutre aquilo que podemos chamar de amor por um ser de aparência bestial, não é aquele lance de amor à primeira vista pelo príncipe encantado. Ali, o envolvimento dela com a Fera demonstra carinho e respeito. Mas aí vem um engraçadinho insinuando que rola uma zoofilia na parada! Por favor não destruam minha infância.Hoje eu vejo a Fera como uma representação mais animalesca do ser humano. A sua agressividade, força física, falta de controle. Mesmo assim o amor surge entre os dois. Tanto que uma das cenas mais lindas ( e melancólica) é após o baile, quando a Fera liberta a sua amada para que ela vá buscar o pai perdido na floresta. O verdadeiro amor liberta. O que Gaston queria era ter Bela como mais um de seus troféus. Ele nunca a amou.

"Desde o primeiro dia em que a vi eu disse, não há ninguém igual a ela/eu vi logo 
que ela tinha a beleza igual a minha e por isso eu quero casar com ela"

Gaston a considerava a melhor e para ele nada mais natural que casar com a melhor. Tão narcisista que ele se via ao observar a Bela (eu vi logo que ela tinha a beleza igual a minha). Isso é o desejo, a possessividade. Não é genial observar esses pequenos detalhes em uma animação? É tão rica, mais do que muito filme "sério" lançado atualmente. 


É chegada a minha hora de viver num mundo mais amplo. 




Nota da autora: o título do texto foi tirado da música "Foi ela", de Sergio Sampaio cantada na voz de Silvia Machete

Nota da autora 2: esse texto foi ruminado durante a semana inteira, antes da notícia bombástica da compra da Lucasfilm pela Disney. Portanto a Bela passa a ser a minha segunda princesa Disney favorita. O primeiro lugar sempre será da princesa Léia, porque ela tem o melhor príncipe e o melhor pai!


♫Sugestão de trilha sonora: