domingo, 24 de março de 2013

Embarcando com Gil Vicente

Finalmente vou escrever sobre um livro no qual a história não é baseada em fatos reais, tão pouco narrado  em primeira pessoa. Escolhi um clássico revisitado, O auto da barca do inferno de Gil Vicente. Ah Shil, puta livro chato, só li porque cai no vestibular e nunca mais me aventurei a lê-lo novamente. Eu entendo vocês, o fato do livro estar relacionado em uma lista obrigatória já desperta uma aversão dos alunos. Em um mundo perfeito todas as pessoas teriam o hábito da leitura ( de bons livros é claro, 50 tons de cinza não vale) por livre e espontânea vontade. Empurrar um livro de mil e quinhentos e trá-lá-lá para um jovem é uma tarefa árdua. É que galerinha é um tantinho arrogante, chegando até a desprezar tudo aquilo que foi criado antes do seu tempo. Cabe um incentivo e um grande jogo de cintura dos professores para tornar a obra relevante aos alunos. 

Vocês devem estar se perguntando, Shil, você escreveu que é uma versão revisitada, como assim? Então meus caros, eu li uma versão d'O auto da barca do inferno em quadrinhos, concebido por Laudo Ferreira. Eu achei essa ideia fantástica, tornando o conteúdo mais atraente. Claro que, assim como uma adaptação cinematográfica, converter uma história para os quadrinhos limita um pouco a imaginação do leitor. Antes cada personagem tinha a imagem criada por MIM, pessoas que só existiram na minha mente fértil. Por outro lado é legal perceber nos desenhos alguns detalhes que passaram despercebidos por mim quando li O auto... pela primeira vez. Analisando pela perspectiva estética, o traço escolhido pelo Laudo Ferreira é bem forte, lembrando bastante as charges que são publicadas em  jornais. Me chamaram a atenção as figuras do Diabo e do Anjo. Na minha visão, o Berzebu seria mais elegante, andrógino, um olhar mais frio e ao mesmo tempo cínico e com um pequeno toque de humor (um humor negro, é claro). O Diabo apresentado na HQ é mais bufante, diria mais, um tanto quanto carnavalesco. Confesso que no início me decepcionou um pouco; mas depois observado mais, ele até me lembrou o vocalista do System of a Down ( ^.^ ):

Eis a capa do livro

Não concordam que ele seria perfeita encarnação do demônio?



A figura do Anjo também divergiu da minha; eu tinha em mente aquela figura clássica de roupa branca, cabelos cacheados e um olhar que transbordava bondade... A visão do Laudo foi de uma figura mais severa, daquelas que devem impor respeito, sabe. E de imediato eu me lembrei do anjo Gabriel do filme Constantine, interpretado pela Tilda.

Esse anjo mete mais medo do que o próprio demo!


Esse anjo impõe respeito!


Para quem não é familiarizado com a obra vicentina aqui vai a sinopse: a história começa num porto onde há duas barcas: uma vai para o paraíso, guiada pelo Anjo,e a outra para o inferno, comandada pelo Diabo e seu ajudante. Conforme o decorrer da história os futuros tripulantes - os defuntos - chegam meio desorientados e são surpreendidos pelo Coisa-Ruim. Apresentam-se na seguinte ordem: o fidalgo, o onzeneiro, o parvo, o sapateiro, o frade e sua moça Florença, Brísida Vaz (a alcoviteira), o judeu, o corregedor e o procurador, o enforcado e os quatros cavaleiros. O Diabo e o Anjo são alegorias representantes do Mal e do Bem, atuando como juízes do julgamento das almas, levando em conta todas as ações dos personagens na Terra. Portanto o Auto da barca do inferno é uma peça totalmente moralista. É como se o Gil quisesse expor toda a fragilidade moral da sociedade portuguesa do seu tempo. Imagine se ele vivesse no Brasil e tivesse acesso às maracutaias que rolam soltas no nosso congresso! Nem livros ele precisaria publicar, ele criaria a página Gil Vicente da Depressão no Facebook e nos brindaria com várias críticas bem humoradas. 

Não posso negar que o Diabo é a figura mais me fascina nessa peça. Não, por favor não associem o fato de  eu ser ateia com adoração com o tinhoso. Se eu não acredito em deus também não acredito no oposto. Ocorre que nessa história ele é um juiz tão impiedoso quanto o próprio Anjo, porém apresenta diálogos tão envolventes e convincentes para com os defuntos, apresentando-se como uma figura sarcástica, bem humorada, rindo da hipocrisia das personagens. Aliás, isso me lembrou de uma matéria de uma edição especial da revista Super Interessante que eu tenho guardada desde maio de 2009. O tema é Deus e a revista traz matérias sobre a existência ou não de deus, o  embate sobre a religião e a ciência, entrevista com teólogos e cientistas. Há duas páginas destinadas ao demo, por razão do livro Satã, uma biografia, de Henry  Ansgar Kelly. Aqui vai a reprodução de parte da matéria:

"A história original do demônio-aquela que está registrada os textos bíblicos- foi deturpada ao longo dos tempos. Na verdade, o diabo não seria tão ruim assim. E a difamação começou nos primeiros séculos do cristianismo. Para o pesquisador americano, a Bíblia revela que o demônio era uma espécie de "empregado de deus"- uma entidade moralmente correta, encarregada de perseguir e acusar os pecadores, porém os pais da igreja, ao interpretar o episódio bíblico de Adão e Eva no jardim do Éden, associaram-no à imagem da serpente traiçoeira. A partir daí, diz Kelly, ele foi se transformando em inimigo de deus, até virar a representação máxima do mal."


Esse meu reencontro com O auto da barca do inferno me fez lembrar de outras obras que contavam com a presença ilustre do Cão. As mais memoráveis para mim são essas:

O Auto da Compadecida - interpretado por Luís Melo


Hoje é dia de Maria - interpretado por Ricardo Blat 


O Advogado do Diabo - interpretado pro Al Pacino

Por isso eu falo: Al is All!!!

As Bruxas de Eastwick - Jack Nicholson ( porque pra mim, se o diabo existisse ele seria o próprio Jack!)


A Profecia (1976) - o Damien dessa versão é mais assustador do que a versão de 2006

Essa trilha me causa calafrios!!!!

Soundtrack







Espero que nenhum de vocês queiram me exorcizar da próxima vez que me virem!


terça-feira, 19 de março de 2013

Livremente

No final de semana passado eu aluguei três filmes, dois deles até então inéditos para mim. Antes de escrever sobre eles, quero aproveitar para dar uma pequena observação. A grana está curta, o tempo idem. Tenho uma jornada de trabalho maior do que no meu emprego anterior, porém o salário é menor. Valeu capetalismo! Essa combinação desastrosa me fez abrir mão de conferir os filmes que estão em cartaz. Deixar passar em branco O lado bom da vida, O Mestre, Colegas e Mama. Ouço sussurros de "ah Shil, baixe pela internet". Quem me dera meus amigos, o pc lá de casa morreu e eu me viro acesso a internet nos computadores disponíveis no trabalho e quando vou à biblioteca. Chega a ser desesperadora a ideia de não ir ao cinema, aquele meu momento de puro escapismo, de deixar os problemas lá fora e viver as mais incríveis histórias. Mas ainda existem as locadoras, escolhi três filmes que saíram mais baratos do que uma sessão no Cinemark aos fins de semana. 

O primeiro que vi foi "Sherlock Holmes e o Jogo das Sombras". Era para eu ter visto nas minhas férias do ano passado, mas meu amigo conseguiu me convencer a assistir O Gato de Botas. Sábia escolha, não me arrependo da troca. O longa é a continuação do primeira e bem sucedida aventura do detetive e seu amigo doutor Watson, que já não era aquela obra-prima mas era divertida e com boas cenas de ação. Nessa sequência o diretor Guy Ritchie fez mais do mesmo e nem os talentosos protagonistas Robert Downey Jr (Holmes) e Jude Law (Watson) salvam a película. As cenas de ação são previsíveis e cansativas, vide as Holmes' vision (aqueles momentos em que o detetive antevê os golpes que dará em seus inimigos)  e as piadinhas sobre o relacionamento entre Holmes e Watson já deram o que tinham de dar! Considerei o vilão apático e os coadjuvantes pouco acrescentaram à trama. O final foi tão anticlímax, que eu até levei um susto, tipo "já acabou, é isso?". Que o Robert é um p*ta ator isso eu não nego mas ele parece fazer o mesmo personagem (*cof cof Tony Stark, cof cof!!). Gostaria muito que ele realizasse outros projetos só para apresentar à essa nova leva de fãs que ele também é um ator dramático e não vive apenas de sucessos blockbusters!




O domingo eu reservei para rever Sangue Negro. Cada vez que eu o assisto, mais eu fico impressionada com o magnetismo que ele me causa. Não é uma película fácil para os mais jovens e inquietos, pois ela começa com uma sequência de quase quinze minutos sem nenhum diálogo. Ah sim, só para situá-los, Sangue Negro narra a trajetória de Daniel Plainview, de um modesto minerador de prata até virar um poderoso explorador de petróleo no início do século passado. O papel principal caiu nas mãos de Daniel Day-Lewis, em mais um show de atuação. Quando o vejo dentro de um buraco em busca de minério não  me restam dúvidas: ele deve ter passado no mínimo 3 meses aprendendo o ofício para dar autenticidade ao personagem. O trabalho de composição para os seus papéis é um assombro, beirando a perfeição. Incrível como ele consegue criar trejeitos, mudar de sotaque, tudo feito de forma minuciosa. Por isso sou apaixonada por esse homem. Sangue Negro foi lançado em 2007 e no ano seguinte Daniel Day-Lewis foi laureado com sua segunda estatueta de melhor ator (e a terceira veio neste ano por "Lincoln'). 



Nossa, eu já escrevi demais mas tudo isso foi só um aperitivo. A força motora deste texto foi o terceiro filme escolhido por mim, visto na última segunda-feira. O Escafandro e a Borboleta é um filme francês lançado em  2007 e é a adaptação do livro homônimo, escrito por Jean Dominique Bauby. Vencedor de dois Globos de Ouro (melhor direção e melhor filme estrangeiro) e teve quatro indicações ao Oscar. Eu já tinha lido matérias e críticas elogiosas em revistas especializadas e lembro de ter assistido as cerimônias de entrega de prêmios citadas na  frase anterior. Não sei o porquê de ter demorado tanto para vê-lo. Há dois fatos curiosos sobre esse título. Um é que eu  não consigo falar Escafandro logo de primeira, acabo sempre enrolando a língua e sai coisas como escafrando ou escrafrando (até parece um palavrão!). Não tem jeito, eu  tenho de falar devagarinho, O Es-ca-faaaaan-dro e a Borboleta. A outra coisa é que  eu não tinha a menor  ideia do que era um escafandro! Por um certo momento eu achei que fosse um inseto (por  culpada borboleta que o acompanha no título). Só depois de assistir ao filme que saquei do que se trata:


Bom, vamos à história. O livro que inspirou o filme é a autobiografia de  Jean Dominique Bauby, jornalista e editor da revista Elle francesa. Aos 43 anos ele sofre um acidente vascular cerebral (o famoso AVC) e fica em coma por 20 dias. Ao acordar, percebe que ele perdeu sua capacidade de se movimentar e falar. Ele só conseguia piscar o seu olho esquerdo. Os médicos explicam que isso é conhecido como a Síndrome de Locked-in (ou Síndrome de Encarceramento). A fonoaudióloga dele desenvolveu um método para que ele pudesse se comunicar: as letras do alfabeto eram ditadas lentamente e ele piscava a pálpebra quando a letra que queria era falada. No início era bem cansativo, imaginem só ele ditar letra por letra. Mas com o tempo as assistentes e médicos já poderiam deduzir quais palavras ele queria dizer, o que tornava o processo todo mais rápido.



Eu nunca tinha visto uma obra do diretor Julian Schnabel, tão pouco conhecia os atores desta produção. A única pessoa conhecida por mim era o diretor de fotografia Janusz Kamiński. Uau Shil, como você se prende aos detalhes técnicos! Nem tanto meus caros, nem tanto. Não tenho tal conhecimento para avaliar se a fotografia de um filme está adequada; eu uso mais a sensação que ela causa. E sim, eu gosto de ler as fichas técnicas dos filmes, por isso eu sei q Janusz Kamiński já trabalhou com o Steven Spielberg desde A Lista de Schindler. Mesmo que você não seja um expert em fotografia cinematográfica logo perceberá que em O Escafandro... há um quê de diferente. Quando o Jean Do desperta do coma nós temos a sua visão, ou melhor explicando, a sua perspectiva. É como se a câmera fosse o olhar dele  (semelhante ao clipe Smack my Bitch up, do Prodigy). Se o diretor queria nos fazer sentir na pele a situação do Jean, pontos para ele! Era algo que beirava ao claustrofóbico. E é aí que entra o trabalho de Janusz: as imagens ora ficavam desfocadas, ora as luzes pareciam faixas coloridas e distorcidas, a visão por vezes está "torta", fora de enquadramento. Vou tentar exemplificar para vocês. Imagine vocês dormindo num quarto escuro e de repente aquele danado do seu irmão entra e acende a luz inesperadamente. Os olhos ficam incomodados com a luz, né verdade? Irrita que até chega sair algumas lágrimas. Esse é o mundo de Jean. Durante boa parte do filme o rosto dele não é exibido e a curiosidade só aumenta. Durante essa passagem os médicos tentam um tipo de comunicação com o paciente de um modo, digamos, meio desastroso, com muitas conversas cheios de temos técnicos. Até eles estão surpresos com o estado de Jean. O protagonista fala através de sua consciência, com toques de ironias e uma certa amargura.



Essa história tinha tudo para ser piegas e o diretor poderia optar por criar um dramalhão arranca lágrimas. Mas para nossa sorte o filme é francês, logo não tivemos aquela previsibilidade hollywoodiana. As belas imagens mesclando passado e presente, a narrativa peculiar de Jean e a sensibilidade alcançada pelo diretor são os grandes trunfos e o maior premiado somos nós, os expectadores. Eu não senti dó, nem chorei rios de lágrimas, mas o filme me proporcionou momentos de reflexão. 

Eu, ou melhor, todos nós não temos controle completo sobre nosso destino. Não saberemos se acordaremos amanhã. se conseguiremos evitar um queda da escada ou se corremos o risco de ser assaltados perto de casa. Hoje, eu estou saudável, sofrendo apenas de estresse mas eu ando, falo, ouço, vejo e sinto. Que desespero seria ser privada dos meus sentidos! E num país onde "pessoas não-deficientes" já não usufruem de conforto em locais públicos e nos meios de transportes, imaginem para alguém que só se comunicaria através de uma piscadela? Outra coisa que fiquei matutando: eu não preciso passar por algum acidente, eu já me encontro encarcerada dentro de mim. Eu não posso mais ir aos lugares que tanto aprecio, não tomo mais minhas próprias decisões. Estou presa numa teia, uma mosca toda enrolada num emaranhado de fios grudentos pronta para ser devorada. Como mencionei no início do texto, eu estou trabalhando e o serviço é muito, mas muito exaustivo, daquele que suga o seu ânimo. Já tive oportunidade de trabalhar em outros call centers mas esse é de longe o mais bagunçado. Acordo cinco e meia  da manhã para chegar até o meu destino às oito e meia. E só saio de lá às cinco e quarenta e duas da tarde!!!!! Qualquer compromisso ou assunto que eu tenha de resolver tenho que sacrificar o meu horário de almoço. Não sobra tempo para eu pensar, é passar todas essas horas focada em procedimentos e mais procedimentos. Do que me adianta ter o sábado e domingo como folgas? Saudade das escalas 6x1, pelo menos tinha vida social. Sabe aquela famosa cena do Chaplin em Tempos Modernos? O operário tornando um alienado no meio da produção de uma fábrica até que ele chega a ser "engolido" pelas engrenagens? É assim que me sinto: abaixe a cabeça e obedeça! Toda a minha criatividade fica fervilhando no meu cérebro. Como não posso encaminhar meus rascunhos para meu e-mail pessoal, eu tenho que memorizar todo o esboço dos textos. Lógico que quando chego aqui na biblioteca e coloco a mão na massa muito do que eu pensei eu esqueci e o texto nunca sai do modo como imaginei no princípio. E me perco dentro de mim em pensamentos, com aquela vontade de falar "certas verdades" bem alto, na cara mas que devo engolir a seco. 

Mas eu até que reclamo de barriga cheia. Um homem ditou um livro através do piscar do seu olho esquerdo, imaginem o quanto ele tinha que se concentrar e repassar mentalmente suas histórias. Curiosamente esse é o segundo...para tudo. Um senhor sentou no computador ao lado e me pediu ajuda para acessar o Orkut. Ele apresenta dificuldade na fala, o rosto levemente paralisado no lado esquerdo. Sim, agora sim eu me emocionei. Conversei aqui uns 15 minutos, realmente ele sofreu um AVC há 11 anos. O mais interessante ele ter falado que Deus quis que esse encontro acontecesse. Segundo ele nada é por acaso, não é mesmo? Eu educadamente respondo que sou ateia e que considero uma feliz coincidência. E fiquei mais encorajada em não ficar mais presa dentro da minha mente. Livremente...


Soundtrack










sábado, 2 de março de 2013

Mamonas is very porreta

Nessa semana eu fiquei pensando qual seria a primeira banda de rock da qual eu virei fã. Bom, o primeiro videoclipe que eu assisti na minha vida foi "Shiny Happy People", do REM, grupo originário da Georgia, EUA. Eu deveria ter uns 4 ou 5 anos, a MTV tinha acabado de estrear aqui no Brasil e minha irmã Luciana foi a responsável em sintonizar o canal na nossa tv Sharp, 14 polegadas, que não tinha controle remoto. Eis o clipe em questão:


Como vocês podem ter percebido, Shiny Happy People é ultra-hiper-mega colorido e com um enooooooorme apelo infantil. Depois que você conhece a carreira do grupo vai perceber que essa canção destoa de toda a discografia deles. Mas para uma pequerrucha que eu era no início dos anos 90, essa música e, claro o clipe, era um maior barato! Era só ouvir o tec-tec-tec do macaquinho que eu corria pra frente da tv para dançar igual ao vocalista Micheal Stipe e a Kate Pierson ( vocalista do B-52's que deu uma canja na música como backing vocals). Aliás, eu queria muito, na verdade até hoje eu quero, um vestido igual ao que ela usa no clipe. 

Ok mas eu não posso eleger o REM  como minha primeira banda de rock porque simplesmente eu só conhecia essa canção, cantava no meu inglês embromation e só virei fã mesmo durante a minha adolescência. Nesta manhã, imediatamente após acordar, meu primeiro pensamento foi "hoje é 2 de março, um sábado e foi exatamente nessa data, também em um sábado, que ocorreu a morte dos Mamonas Assassinas". Parafraseando o comentarista do Foxsports, Rodrigo Bueno, só quem viveu o fenômeno Mamonas Assassinas sabe o que é Mamonas Assassinas. O ano de 95 foi tomado de assalto por 5 jovens de Guarulhos (cidade da região da Grande São Paulo), jovens talentosos e de muita, mas bota muita criatividade nisso. A primeira música que eu ouvi foi O Vira e o engraçado foi que eu pensei em se tratar realmente de um grupo português, ora pois.


Mas rapidamente eu e todo o Brasil logo descobrimos quem eram aqueles "malucos"porque imediatamente vivemos a MamonasMania: todas as rádios tocavam as músicas do grupo, Globo, SBT, BAND, MTV  e MANCHETE exibiam programas onde a atração principal era os Mamonas. Revistas e jornais dedicavam matérias sobre a história do grupo e a quebra de recordes que eles alcançaram em tão pouco tempo. Do dia pra noite Dinho (vocal), Bento Hiroto (guitarra), Samuel Reoli (baixo), Sérgio Reoli (bateria) e Júlio Rasec (teclados) deixaram de ser meros desconhecidos e tornaram-se nossos ídolos. Talvez nem eles imaginariam o sucesso que fariam com a criançada. Mas afinal, era muito bacana vê-los tocando fantasiados, brincando, tirando sarro nas músicas, SE DIVERTINDO E DIVERTINDO A TODOS NÓS. Logo eles também viraram uma grande máquina de fazer dinheiro e a alegria dos programas de tv, pois era garantia de Ibope alto com a participação do grupo. Nossa, e pensar que eu cheguei a assistir ao Domingo Legal só porque eles estariam no programa, hahahaha! Não só no programa de Gugu Liberato, mas no Faustão, Xuxa Hits, Hebe, Programa Livre, eles batiam o ponto. Engraçado lembrar também a preocupação dos pais pelo conteúdo das letras "obscenas". Na real, era tudo muito divertido, um humor que se equilibrava na linha tênue entre o ingênuo e o sacana. 


Engraçado os pais de hoje em dia acharam "super normal" a criançada ouvir funk carioca como se fosse a coisa mais normal do mundo. 



O único álbum do grupo vendia feito água e todas (isso mesmo) TODAS as músicas estavam na boca da galera. Agora que eu cresci dá até pra filosofar em cima das letras. Tem qualidade sim ou por que será que nenhuma outra banda "metida à engraçadinha" não vingou? Quando você pega a letra de Mundo Animal ou Uma Arlinda Mulher, não pensa imediatamente "poxa, isso é maneiro e tão simples, EU poderia fazer algo igual ou até melhor". Mas quando resolve escrever...não sai nada! Isso é a prova de que eles era talentosos e era dotados de um enorme carisma. E como eu sempre digo, carisma não se compra, nem se fabrica.

Infelizmente os integrantes tiveram um final trágico. No domingo, 3 de março, todos nós despertamos com a triste notícia do acidente no qual todos os passageiros morreram após o jatinho se chocar contra a Serra da Cantareira. Depois do Senna, essa foi a morte mais sentida por mim. Apesar de eu ver o acidente do Senna ao vivo pela televisão, o dos Mamonas chocou pela violência. Os corpos todos despedaçados, carbonizados. Será que eles já haviam desmaiados antes da explosão? A cena dos corpos cobertos e pendurados pelo helicóptero que ajudava no resgate me assustou muito. Eles eram tão jovens, por que um fim assim? Sei que algumas pessoas próximas de mim viram as fotos dos corpos; eu nunca tive coragem de ver. Eu quero a imagem deles como caras alegres que só tinham uma missão: divertir o nosso povo tão sofrido.

Eu tentei descrever o que foi ter vivido nessa época, mas se não deu certo, aqui vai o especial que a Globo fez sobre os Mamonas:


Tá aí, realmente os Mamonas foi a minha primeira banda de rock da qual virei fã.

Saudades.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

MGM, presta atenção aqui...

Se há uma culpada por essa minha obsessão por filmes sem sombra de dúvidas é a minha mãe. Seu programa favorito na juventude era ir aos cinemas do bairro, como o Val Paraíso e o Cine Tucuruvi (infelizmente eles não existem mais) para curtir uma boa sessão, comendo amendoim e bebericando um refrigerante Crush. Vocês devem imaginar mamãe como aqueles críticos sérios, admiradores de cinema cabeça europeu,sentada numa poltrona com uma taça de vinho tinto seco na mão. Ledo engano. Mamis é das massas e encara o cinema com muito mais paixão em vez de se prender a detalhes técnicos. Até hoje ele gosta de ver filmes de caubóis, seja com John Wayne ou Clint Eastwood,mergulhou nos olhos azuis piscinas de Paul Newman, pagou um pau gostoso para o James Dean e suspirou de amores para Rock Hudson, mesmo após saber que ele era gay. 



Mas há um gênero que minha mãe adora: os filmes épicos! Spartacus, Os 10 Mandamentos, A Queda do Império Romano, Laurence da Arábia, Sissi (tá, esse é mais histórico do propriamente um épico, mas ela também adora), Gladiador, Cruzadas... talvez porque todos esses filmes épicos despertem esse lado aventureiro dentro de nós. Assistimos a heróis em busca de justiça, passando por muitas provações, viajando ao redor do mundo, protegendo as pessoas. E no fim alcançam a glória. E as cenas tão grandiosas nos despertam as mais diversas sensações, desde euforia, tensão, adrenalina. De todos os filmes que assisti por influência da minha mãe, o meu favorito é Ben-Hur.



Essa belezinha foi filmada em 1959 por William Wyler e foi ganhadora de 11 Oscar's (só Titanic e O Senhor dos Anéis- O Retorno do Rei alcançaram esse número) e conta a história de Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um mercador e princípe judeu, e Messala (Stephen Boyd), um soldado romano amigo de infância de Ben-Hur. Messala é escolhido pelo governador para ser o oficial comandante de uma das legiões romanas e  com o passar do tempo as visões dos dois amigos divergem e eles acabam por se separar. Um episódio faz com que Messala condene Ben-Hur a viver como escravo, mesmo sabendo da inocência do ex-amigo. A trama se desenvolve paralelamente a história de Jesus Cristo, que tem aparições á la Forrest Gump (não, vocês não verão Jesus correndo dos romanos e o povo gritando "Run Jesus, run"). A película tem cerca de 3 horas de duração (ou mais, sei lá, gosto tanto que nem parece tanto tempo assim) e o que eu escrevi aqui é só a ponta do iceberg. Traições, conspirações, mensagens religiosas, uma boa dose de drama e redenção fazem parte da fórmula do sucesso estrondoso da história.O filme traz muitas reviravoltas e pode se afirmar que é superlativo em tudo: grandes cenários, longas sequências de lutas, mas um bom filme que se preze também conta com ótimas atuações. Não posso deixar citar que Ben-Hur tem A MELHOR CENA DE CORRIDA EVER DA HISTÓRIA DO CINEMA (prêmio concebido e concedido por mim, ^_^). São as 9 voltas mais tensas e eletrizantes que eu já vi. E o mais bacana: é real! Sem trilha sonora, só o barulho dos cascos dos cavalos e os estalar dos chicotes. Dou muito mais valor para filmes antigos por conta da criatividade dos diretores e todos os envolvidos para filmar uma cena sem a tecnologia que temos hoje. Obviamente não há nenhuma cena computadorizada e é aí que reside a magia do cinema, pois os diretores tiveram de quebrar a cabeça para criar algo que pudesse reproduzir tudo o que estava descrito no roteiro. Eu gosto de filmes feitos "na unha", isto é, com soluções criativas para cenas aparentemente impossíveis de serem gravadas. Nolan é um dos poucos diretores que ao gravar cenas de ação abre a mão de usar o "fundo verde". A primeira vez que eu vi Ben-Hur eu deveria ter no máximo 5 anos e lembro me muito bem de chamá-lo de Senna durante a cena da corrida.



A última vez que eu assisti ao filme foi em 15/12/2012, no canal TCM e depois disso eu fiquei obcecada por uma ideia: e se fizessem o remake de Ben-Hur? Eu escrevi isso no Facebook: "Sábado passado eu assisti ao filme Ben-Hur. E então eu tive um devaneio...E se Hollywood tivesse a audácia de refilmá-lo? É um clássico, seria heresia total realizar esse projeto, mas eu sinto tanta falta de bons filmes épicos e quando eu escrevo "filmes épicos", tô falando dos bons mesmo, e não aquelas coisas carnavalescas de 300 e Imortais. Eu escolheria o Tom Hiddleston para ser o Judah Ben-Hur, Michael Fassbender seria o Messala, Dakota Fanning para Tirza, Hellen Mirren pra Miriam e pouts, esqueci como escreve o sobrenome dela, a Keira "bláblá" dos Piratas do Caribe."


Até aí, tudo normal, né? Porém ao acessar o site Cinema com Rapadura no dia 16/01/2013, eu me deparei com uma notícia bombástica: o estúdio MGM planeja refilmar Ben-Hur! Quando li isso o meu cérebro explodiu de tal modo que não consigo descrever. Só depois de passados alguns minutos (que pareciam horas) é que cheguei a conclusão: tem algum funcionário da MGM lendo os meus posts do Facebook!!! Óbvio, senhoras e senhores! Agora vejam se o meu elenco não é dos melhores:


Charlton Heston, o Ben Hur original

Para Ben-Hur, eu escolhi o Loki  Tom Hiddleston, por acreditar que ele traria o mesmo carisma que Charlton Heston deu ao personagem. 


Ator muito versátil, faria muito bem o protagonista!


Escolhi Micheal Fassbender para ser o vilão Messala. Stephen Boyd foi o dono do papel na versão de 59 e curiosamente os dois atores tem ascendência germânica.

Stephen Boyd


Fassbender, essa cara sabe fazer um vilão como ninguém

Esther foi interpretada pela bela Haya Harareet e eu sempre cogitei a Keira Knightley. Elas até que são parecidas:





A irmã mais nova do protagonista, Tirzah cairia muito bem pra Dakota Fanning. Ela já tem uma cara de sofrida mesmo, rsrsrs. A Tirzah foi interpretada pela Cathy O'Donnel.




Olha, não é querendo me gabar, mas meu elenco não é de se jogar fora! O problema será controlar tantos egos!









quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sessões e sensações






"Moça, pode parecer redundante mas qual é a próxima sessão para As Sessões?"
"Próxima sessão  às 19h40." 

Ufa, eu pensei, consegui. Afinal eu trabalho das 10h às 18h12 e fica praticamente impossível realizar minhas fugas cinematográficas semanais. Sim, restam-me os finais de semanas porem dói mais no bolso devido aos preços mais caros e eu não conto  com a vantagem de pagar meia entrada. Além disso, "As Sessões" estreou na ultima sexta-feira em pouquíssimas salas, o que é uma pena. Por isso eu tive que agarrar a oportunidade raríssima de encontrar um cinema próximo ao meu trabalho, num horário acessível para não voltar para casa muito tarde. 

"As Sessões" conta a história real de Mark O'Brien , vitima de poliomelite que contratou uma terapeuta para perder a virgindade. Ah, vale lembrar que ele já estava com 38 anos. O roteiro do filme foi adaptado de um artigo de Mark para uma revista, contando como ele contratou a terapeuta sexual Cheryl Cohen Greene. Nos papéis principais estão John Hawkes e Helen Hunt. A atriz já é uma velha conhecida minha pois eu acompanho a carreira dela desde a série Mad About You e em filmes como "Twister", "Corrente do Bem" e "Melhor é Impossível" (o meu favorito, no qual ela ganhou o Oscar de melhor atriz). E o John Hawkes, bem nunca fomos apresentados antes. Aliás, li que ele fez uma pequena participação em "Lincoln" mas juro que não estou lembrando da cara dele no filme, passou totalmente despercebido. Em "As Sessões" o John passa o filme inteiro deitado numa maca ou dentro de um pulmão de aço (aparelho que auxilia na respiração) e ele não mexe nenhuma parte do corpo, com exceção e lógico dos músculos faciais.   



Mark é escritor e poeta, formado em Letras (*já ganhou minha simpatia) e vive apenas na companhia de seus fieis cuidadores. Engraçado notar como o ator parece ser bem mais novo do que os seus 53 anos (eu também "sofro" desse mal, hihihi) e o trabalho corporal dele ficou excelente. Pensam que e fácil atuar o tempo todo deitado? Mas não era apenas isso, era preciso ficar com o corpo todo retorcido e para isso ele ficou com uma bola de tênis nas costas durante as filmagens. Imaginem o incômodo. Esqueci de citar que Mark tinha como amigo e confidente o padre Brendan (Willian H. Macy), uma figura muito carismática e compreensiva. Ele foi um dos incentivadores de Mark para ele perder o cabaço a virgindade. E é aí que chegamos a Cheryl. Ela foi interpretada com tanta dignidade e competência que eu saí do cinema torcendo para que a Helen ganhe o Oscar de melhor atriz coadjuvante (apesar de ser quase certa a vitoria de Anne Hathaway).



O mais legal de "As Sessões", e talvez foi o fator cativante, é o fato dele ser um filme leve mesmo com um tema que apresente uma situação, bem digamos, constrangedora. O grande acerto foi tratar a adaptação como um filme de relacionamento e não uma biografia. Uma comedia bege , isté clean, elegante, ao contrário das comédias que carregam nas tintas, pois ela não se apóia em cenas esdruxulas, diálogos non-sense, esteriótipos e gags. Mark O'Brien não se faz de pobre coitado e apresenta um grande senso de auto-ironia. Disso eu entendo,visto que e antológica minha piada sobre os meus peitinhos. Explicando: minhas duas avós tiveram câncer de mama, ambas quando tinham mais de 60 anos. A minha vó paterna, a vó Lindinalva, venceu a doença mas a vó Luiza sucumbiu (tadinha, já tinha 90 anos). As chances de eu desenvolver são altíssimas mas como eu sempre digo, "meus peitos são tão pequenos, mas tão pequenos, que eu terei uma  mama no câncer e não um câncer na mama!"

Eu tive a mesma sensação de quando assisti "Um Divã para Dois", estrelado pela Meryl Streep e  Tommy Lee Jones. Não por acaso, trata-se também de uma comédia adulta com um enredo semelhante: um casal procura um terapeuta para melhorar a rotina sexual. "As Sessões" tem como outro trunfo os ótimos diálogos que arrancam o riso dos espectadores, da mesma forma que consegue emocionar sem ser piegas. Até mesmo as cenas entre a terapeuta e seu paciente durante as sessões não tem nenhum mal gosto. A nudez de Helen não é gratuita, vemos uma mulher madura, sem interferências de cirurgias plásticas e atuando com uma desenvoltura impar. Foi muito interessante ver o tema sexo sobre a ótica de uma pessoa que acreditamos ser  "um pobre coitado" ou "incapaz". Nós enterramos qualquer pessoa com necessidades especias, lançamos um olhar de dó, como se a pessoa definhasse em praça publica. Elas não se tornam inválidas, elas tem  sonhos, desejos e qualquer tipo de sentimento. As salas de cinemas são um exemplo dessa segregação, pois os cadeirantes só tem espaços na frente da sala - um péssimo lugar, diga-se de passagem. Em entrevista concedida para revista Preview, John Hawkes afirmou que "Fiquei mais atento consciente de um segmento da sociedade a que costumamos não prestar atenção. Quero dizer: "Eu vejo você". Espero que o filme tenha o mesmo efeito no público". 



Sim John, acho que vocês conseguiram.



sábado, 16 de fevereiro de 2013

Arte de viver

Em 1999, o grupo de rock australiano silverchair lançou seu terceiro álbum, Neon Ballroom. Sucesso de público e crítica, o disco confirmava o amadurecimento de seus integrantes, um trio formado por Daniel Johns (vocal e guitarra), Chris Joannou (baixo) e Ben Gillies (bateria), que no início da carreira era chamados de maneira jocosa de "Nirvana de pijamas". O quarto último single escolhido por eles, "Emotion Sickness", é o ponto de partida para esse texto. 


Essa canção conta com a participação do pianista australiano David Helfgott, cuja história virou uma ótima cinebiografia. Dirigido por Scott Hicks e lançado em 1996, o filmes Shine-Brilhante é estrelado por Noah Taylor (na primeira fase) e Geoffrey Rush (na segunda). E lá vamos nós com minhas histórias de "uma coisa leva a outra" ( o título desse texto poderia ser "De silverchair a David Helfgott"). Eu não me contento com a superfície, quanto mais eu puder saber sobre as influências das minhas bandas favoritas, filmes e livros, mais satisfeita eu fico. É um prazer que eu guardo só pra mim ( e agora divido com vocês). Há certas pessoas que não vêem graça nas coisas que eu gosto, assim eu fico denominada "a diferente". Eles preferem aquele entretenimento drive thru: viu, pegou,experimentou e esqueceu. Não entra na minha cabeça tal atitude. Cada experiência fica guardada na minha memória afetiva e nunca perco a oportunidade de rever,rever,rever, over and over again. Olha lá eu mudando os rumos do texto. Voltemos a proposta inicial. 




Apesar de eu conhecer a história da colaboração de David Helfgott com o silverchair há 14 anos, eu só fui assistir Shine domingo passado!!! Sim, aqui em casa há o dvd do filme e o mais curioso: ele não me pertence! Ele é da minha irmã mais velha, a Márcia. Questionei o motivo dela tê-lo comprado e sua resposta foi de que a doutora Isabel (a psicóloga dela) sugeriu esse filme para a terapia. Lendo a sinopse do filme dá para entender a escolha: a trama joga os holofotes na conturbada relação entre pai e filho. O pai é um opressor, um tanto quanto manipulador e que projetava no filho tudo aquilo que ele queria ser mas não conseguiu. Considerava-se um homem forte, contrastando com a aparência frágil e mirradinha do seu filho mais velho. Ele encarregava-se de ensinar David a tocar piano desde muito cedo,tornando o menino um prodígio. Ele rompeu aquela barreira de pai incentivador para tornar-se um verdadeiro controlador. 

Confesso que ao ler o resumo do filme na contra-capa do dvd eu imaginei um filme com cenas fortes, no sentido de serem violentas, mas não é bem assim. O diretor foi bem sutil, usando mais da violência psicológica do que violência física, além de gestos e expressões dos atores falarem mais do que qualquer diálogo. São atuações sucintas, pois cada ator sabia o momento certo de brilhar. E claro, como o protagonista toca piano, a trilha sonora é puro deleite. 



Vale ressaltar que Geoffrey Rush não usou nenhum dublê, ele mesmo tocou em cena. Mais do que merecido o prêmio de Oscar de melhor ator pelo papel. Se vocês não estão ligando o nome a pessoa, Geoffrey faz o Capitão Barbossa na franquia "Piratas do Caribe" e também está "O Discurso do Rei". Outra coisa boa foi eu ter redescoberto o Noah Taylor. Enquanto eu assistia ao filme, ficava esse mantra na minha cabeça, "eu já vi esse rosto,já vi esse rosto..."e záz, era verdade! Ele foi o pai do Charlie em "A Fantástica Fábrica de Chocolate" do Tim Burton, participou de "Quase Famosos" (outro filme típico da Shil). O rosto dele é de uma fragilidade impressionante, não aparentando ter 27 anos (na época em que o filme foi lançado). Ah, esqueci de mencionar: David é louco. No sentindo literal mesmo, pois a pressão do pai e sua obsessão pelo piano o enlouqueceu. No filme não fica muito bem claro de qual doença ele sofria, mas posso garantir que o Noah fez de um modo muito competente, sem carregar nas tintas. Nada de estilização da loucura. O vídeo acima deste parágrafo contem minha cena preferida, definitivamente mergulhei no filme durante sua exibição. 

E vejam só como o mundo é realmente pequeno. O Noah aparece em clipes do Nick Cave e do Blur, artistas que não saem do meu playlist. Definitivamente esse negócio de uma "uma coisa leve a outra" vai me enlouquecer.

vou confessar que já ensaiei os passinhos dessa dança, em frente ao espelho


Galeria de fotos:


Esse é o David, simpático não?

Geoffrey em cena

eu acho essa capa tão simples, mas representa tão bem a sensação de liberdade!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A minha versão era melhor

Como muitos já devem ter percebido, eu amo o Red Hot Chili Peppers! Se ainda não perceberam, então vocês só curtiram meus textos sem prestar muita atenção, rs. Enfim, eu posso afirmar que entre o final dos anos 90 e até a metade dos anos 2000 os Chili Peppers alcançaram seu segundo auge em popularidade, pois tanto a crítica especializada em música quanto os fãs aprovaram os álbuns lançados naquele período, Californication e By the Way. A maré estava tão boa para o grupo californiano que, não satisfeitos em fazer música boa, resolveram caprichar nos videoclipes. Três deles chamam muito a minha atenção: Otherside, Californication e  By the Way. Todos foram dirigidos pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris (que depois dirigiram o filme Pequena Miss Sunshine). E vale lembrar que esses clipes batiam o ponto em canais ou programas voltados ao videoclipe. 

Otherside é totalmente inspirado no cinema expressionista alemão, semelhante ao estilo gótico do filme O Cabinete do Doutor Caligari. Além disso, ele apresenta elementos de outras vanguardas européias, como o cubismo e o surrealismo. Acho super digno e criativo os "instrumentos" dos integrantes terem virados objetos de cena: a guitarra do John virou uma simples corda, Flea equilibra-se em fios de um poste e o Chad tem como bateria um relógio. Bom, eu acredito que o enredo do clipe lembre um pouco a trajetória do John, um rapaz que é levado para um hospital ou clínica e lá, após um período de abstinência ele começa a ter alucinações. Se bem que há uma cena em que o rapaz é sedado e por isso começa a ter alucinações. Huumm, então posso acreditar que ele esteja em um manicômio? Como já citei, os cenários não são meros objetos de decoração, eles ganham vida, como a estrada virando um macabro prédio em questões de segundos. 


(Uma coisa que eu ODIAVA: a galerinha cantando "Hello, hello" em vez de "how long, how long" no refrão!)


O clipe seguinte veio com uma pegada totalmente diferente, toda tecnológica. Californication era um game que eu gostaria muito que existisse. Cada integrante tinha o seu avatar no jogo e cumpria missões pela Califórnia. É um clipe cheio de detalhes, ele é daqueles que devem ser pausados a cada segundo e notar as referências (só no estúdio de Hollywood vemos Leonardo da Vinci, bastidores de um soft porn, carro de James Bond, etc). A música é uma crítica um tanto quanto melancólica para a Califórnia, com seus excessos e extravagâncias, influência de todo um mercado fonográfico e cinematográfico. Eu odiava quando "pseudos fãs" achavam que era uma canção de amor, só por ela ser uma canção lenta, tipo balada. Aff...



Por fim, a trinca fecha com By the Way, primeira faixa do álbum homônimo. Eu não acho assim o supra sumo dos videoclipes, mas me chamou a atenção que os diretores novamente foram beber na fonte cinematográfica, mas não precisaram pegar uma referência antiga. O clipe é inspirado numa sequência do filme Amores Brutos (Amores Perros), do cineasta Alejandro Gonzáles Iñarritu. Eu só soube disso quando o Flea explicou no making of exibido pela MTV. 






Bom, todos esses clipes são bacanas e é legal perceber que o artista não se preocupou em apenas vender a imagem da banda e sua música de trabalho. Aqui são exemplos bem sucedidos de boas ideias e, porque não, homenagens a tantos outros artistas que de uma forma ou outra inspiraram o grupo e/ou os diretores. 

Agora eu tenho uma história curiosa sobre o clipe que segue abaixo:



Vou fazer uma pequeno "recaptula": comecei a ser fã do RHCP em 1998 e depois do lançamento do Californication eu sofri uma overdose pepperística! Mas lembrem-se, toda minha fonte de informação era a MTV e a 89-A rádio rock. Não tínhamos ainda o Google e Youtube para sanar nossa sede de "sabedoria de boteco" e ver clipes a qualquer hora do dia. Tudo o que eu sabia a respeito dessa música era que ela fazia parte de trilha sonora de um filme, "The Coneheads". E não é que tem mesmo um cabeça de cone no clipe, sendo uma espécie de bala-humana. Bom, nem mesmo procurando em sebos as edições mais antigas da SET (revista sobre cinema) eu descobri o nome desse filme em português. Não passava no Supercine,Tela de Sucessos ou Corujão...Caramba, que raios de filme é esse? Porque, para um videoclipe tão lindo como esse, o filme deveria ser tão bom quanto. Soul to Squeeze é meu clipe predileto, junto com Otherside. Ambos tem uma pegada filme europeu - ah, sei lá, sempre achei a fotografia desse filme linda. Parece uma película antiga, com elementos cênicos perfeitos, tornando Anthony, Flea e o Chad verdadeiros integrantes de uma trupe de circo. É tudo muito crível, esse circo itinerante, os bastidores do espetáculo, aquela ideia de que todos que ali trabalhavam formavam uma grande família (incluindo os animais). Que filme maravilhoso ele seria! Eu até já tinha criado um filme à parte, me baseando nos elementos do clipe: o rapaz cabeça de cone nasceu com essa anomalia, fora abandonado pelos pais e acaba sendo adotado por um velho palhaço. Ele tenta não expô-lo para não ser ridicularizado e o menininho tenta se adaptar a esse mundo, onde ele é "o diferente'. O velho palhaço morre (não sei se de morte morrida ou morte matada) e o jovem cabeça de cone não tem opção: ou ele vai embora ou trabalha pro circo. Quem dá esse ultimato é o dono, o cara que fuma charuto lá no clipe. Ele no início faz o trabalho braçal, como recolher cocô de elefante mas depois o dono inescrupuloso o quer para estrelar o perigoso número do homem bala! Ele tem medo, é claro, mas para não parecer um fracote perante ao seu amor platônico, que é uma bailarina, ele cede a pressão. Bom, meu enredo termina por aí, depois nunca mais parei para incluir outras subtramas e personagens. 

Mas eis que é chegado o momento: eu descobri algo sobre o filme original! Na verdade, descobri praticamente tudo. Engraçado que eu nunca joguei no Google ou no Youtube o nome "The Coneheads", talvez por estar satisfeita com minha história ou então por essa curiosidade ter ficado adormecida. Um belo dia, ouvindo a Kiss FM, meu mundo caiu. Na Kiss há o RockCine, um drops em que o locutor indica um filme e na sequência toca uma música que pertence a trilha sonora. Descobri que a versão em português do filme ficou "Cônicos e Cômicos" (como assim, Brasil?) e é uma comédia estrelada pelo Dan Aykroyd (ator de Meu primeiro amor, Caças Fantasmas, Chaplin, Irmãos Cara de Pau). Ele é um bom comediante, fez parte da turma do Saturday Night Live. Porém quando fui ver o trailer e sinopse de Cônicos e Cômicos eu tive vontade de chorar! Cadê o MEU CIRCO COM ARES EUROPEU? 




Justo eu, que quero a verdade mais do que tudo, que sofro de um sincerocídio irremediável, nunca me senti TÃO FRUSTRADA ao ver a realidade! Bem-vinda à Matrix, Shil. A última vez em que eu me sentira tão mal foi quando descobri que a Vovó Mafalda era um homem! O seu filme europeu, vencedor dos maiores festivais (Oscar, Cannes, Toronto, Sundance, Globo de Ouro, SAG's Awards), se transformou numa comédia qualquer nota e bizarra. A verdade dói e tento negá-la. Esse filme nunca existiu, é um devaneio. Deixe-me encantar pelo meu circo europeu!

♫When I find my peace of mind
I'm gonna keep it until the end of time♫