sábado, 15 de dezembro de 2012

É tarde demais


Eu, Christiane F.,13 anos,drogada e prostituída foi um livro que eu adquiri em 2003. Só sei disso porque eu anotei na primeira página um "Eu, Silvia Pupo, 17 anos (e o restante eu tinha apagado, mas com certeza era algum trocadilho fuleiro). Ele fez parte de um trabalho multidisciplinar, fazendo parte da grade as matérias de língua portuguesa e sociologia. Eu me lembro de ficar com muito orgulho da minha nota na parte relacionada à sociologia: NOVE. O professor Vitor passou uma prova com cinco questões, cada uma valendo dois pontos. Todos os alunos receberam um folha resposta mas eu precisei de mais uma, devido ao tamanho das minhas respostas. No fim precisei de duas folhas que foram devidamente preenchidas frente e verso ( e vale ressaltar que minha letra era miudinha). Contudo, eu respondera apenas quatro questões; justamente a primeira, que pedia para situar o momento histórico da trama e relacioná-lo com a situação dos jovens drogados de Berlim, não respondi. Confesso que não tinha me atentado a isso e depois de reler o livro bateu uma baita vergonha porque estava ali escancarado para quem pudesse ler. Bom, eu nem tentei encher linguiça e entreguei a prova sem responder essa questão. E eu fui tão bem no meu raciocínio que acabei levando um ponto extra, então no lugar de oito, acabei recebendo um nove. Comemorei como se tivesse tirado um dez.

Eu nunca tinha ouvido falar na história desse rapariga. Na primeira vez em que li eu fiquei com aquela sensação de querer saber logo o desfecho, mas ao mesmo tempo ficava triste por terminar a leitura. Estou dando uma olhada nele agora...Ele faz parte da 41ª edição, publicado pela editora Bertrand Brasil. Eu costumo chamá-lo de "o livro rubro negro", por estampar a foto da Chris F (intimidade adquirida) numa cor vermelha, com o fundo preto. As laterais estão amareladas dando um aspecto velho (bom, já faz nove anos em que o mantinha guardado no armário). É hora de eu pegar um metrô para Berlim, meados dos anos 70 e descer na estação Zoo. 

Sobre o livro


Antes de mais nada, nesta parte pode acontecer de eu soltar alguns spoilers, mas não são propositais. É meio impossível comentar sobre o livro sem que algo seja revelado. Mas fiquem tranquilos que não reproduzirei trecho por trecho da obra. 

O livro é o depoimento de Chris F. dado a Kai Hermann e Horst Riech. O que era pra ser duas horas de entrevista acabou tornando-se dois meses. Como a história é narrada em primeira pessoa (há alguns capítulos destinados a depoimentos da mãe e de especialistas), fica mais fácil sentir se próximo da Chris F. Até os 6 anos a menina morava na fazenda e sua vida começou a se desestruturar logo que chegaram em Berlim. Ela conta a expectativa de morar em um grande apartamento, enquanto seus pais abriam o próprio negócio, uma agência de matrimônios. Porém eles não foram bem sucedidos e se mudaram para um apartamento menor, no Conjunto Gropious. Pelo que entendi, era quase um cortiço vertical. E embora a família dela não gozasse de uma boa situação financeira, os pais dela tratavam com certo ar de inferioridade os operários que também viviam no conjunto. Richard, o pai da garota, era presunçoso e violento. O avô dele tinha muito dinheiro e era proprietário de uma gráfica e de um jornal mas após a guerra ele foi expropriado pela RDA (aaaaah aí estava o período histórico, Alemanha dividida em duas, como eu não lembrei isso na hora da prova???!!!). Assim a família dele jogou em seus ombros toda a responsabilidade de recuperar o legado do avô, ou pelo menos, voltar a ter a vida confortável de outrora. Ele se tornou um verdadeiro frustrado, violento e bêbado. Ele não se conformava em ter uma vida que "não correspondia ao seu nível'. Deste modo, ele coloca a culpa na família pelo seu fracasso. Richard chegou ao ponto de mentir sobre sua vida para os amigos, nunca apresentando Chris F. e sua irmã como filhas, mas como sobrinhas. A mãe de Chris F. era uma mulher dividida entre as funções de progenitora, esposa e trabalhadora. Ela mesmo reconhece que não tinha muito tempo para as filhas e tentava compensar sua ausência com pequenos mimos. Em comum com o marido, ela não tomou as rédeas de sua vida perante a família. A única maneira que ela viu para ser "livre' foi engravidando do então namorado. Ela também era alvo dos sopapos do marido. Com um histórico familiar assim, a Chris F já se torna uma pessoa digna de pena. Mas, isso pra mim não é o motivo principal para entrar nas drogas. O Conjunto Gropius era uma verdadeia prisão. Tudo o que ela tinha na vida na fazenda (brincadeiras ao ar livre, contato com outras crianças, etc) não faziam mais parte de sua nova rotina em Berlim. Hoje diríamos que ela sofreu bullying. Um local planejado para ser modelo de moradia, o Conjunto Gropius não possuía nenhuma área de recreação infantil, havia diversas placas de "proibido". Qualquer diversão que as crianças encontrassem era imediatamente proibida no dia seguinte (será que foi aí que a JK Rowling se inspirou para criar a Dolores Umbridge?). Segundo ela, parecia que as crianças não tinham o direito de imaginar, de criar. O Gropius era um local que afirmava prezar pela segurança e bem estar dos seus moradores, mas não dava a mínima voz para seus moradores, afim de saber se eles estavam satisfeitos com aquilo. 

Chris F passou a frequentar o Centro de Jovens que havia no conjunto; o que passava despercebido pelos moradores era o fato de centro concentrar uma quantidade alta de jovens usuários de droga. Foi lá que Chris F. e sua amiga Kessi fumaram haxixe pela primeira vez. Foi neste local que ela fez sua primeira turma e se sentiu tão feliz por isso. Ela sentia-se especial por considerar parte de um grupo de "pessoas incríveis e superiores aos demais". Fumando haxixe, ela se tornou um deles. Um carinho e amor nunca sentido no ambiente familiar. É nessa parte que eu já começo a puxar o freio e lembro que a história apresenta a visão da protagonista. Será que essa não era uma felicidade idealizada por ela, será mesmo que a turma era aquilo tudo?

Logo somos apresentados ao Sound, a discoteca mais moderna da Europa. Ela sente aquela excitação comum nos adolescentes de conhecer novas pessoas, novos lugares. E sempre ela descreve um amigo novo como uma pessoa incrível e superior aos antigos amigos. O que fica claro é essa síndrome de inferioridade da Chris F. Ela sentia a necessidade de se sentir aceita por todos aquelas que ela julgava "os maiorais, os mais descolados". E mesmo, apesar das brigas e desavenças, ela acreditava que o amor e respeito os unia. Não percebeu (ou isso pode ter ocorrido tempos depois) que era a droga que os unia. Foi no Sound que ela conheceu seu primeiro namorado, Atze e passou a viver em função dele, chegado a mudar seu visual para agradá-lo. No meio disso tudo, ela já tomava Efedrina, Valium e Mandrix. Ela nos conta o seu fora e posteriormente como engata o namoro com outro frequentador do Sound, Detlef. Ao longo do seu depoimento, ela descreve seu relacionamento com Detlef como algo "único, terno e sincero". Novamente eu penso que ela maquiou a realidade. Mas percebi que não precisa ser uma viciada para distorcer sua realidade. Quem aqui nunca viveu de aparências, escondendo o jogo sobre seus problemas de relacionamento. Claro que em se tratando de Chris F e Detlef, a escala era muito maior. Ele começou a se picar primeiro que ela. Pensando que perderia seu amor, a menina foi na onda da heroína, achando que poderia parar no momento em que decidisse. 

Na primeira vez em que li, achei aquilo chocante. Antes nunca tinha lido nada com tantos detalhes e tanta franqueza também. Até mesmo as biografias dos meus ídolos musicais traziam passagens tão brutas quanto a da Chris F. O choque talvez foi maior por se tratar da vida de uma garota que mal tinha completado 14 anos. Eu tinha 17 quando li a história e me senti extremamente feliz em nunca ter pensando em experimentar algo do tipo. A partir do namoro com Detlef, começa a queda vertiginosa de Chris F nas drogas, passando por situações degradantes, como a prostituição. Engraçado que ao ler os relatos, ficava cada vez mais em dúvida sobre o amor de Detlef por ela. 

Relendo o livro, eu dei mais atenção como o governo levava essa situação. Não que a nossa protagonista nunca tenha tentado parar com o vício; mas as instituições não pareciam preparadas para aquela contigente de jovens (verdadeiras crianças) cada vez mais debilitadas pelo uso de drogas como a heroína. Havia também muitas clínicas que visavam mais o lucro do que a reabilitação dos pacientes. 

Uma Alemanha dividia ao meio, o número de jovens frustrados quanto ao seu futuro, escolas estimulando a competição entre seus alunos, Chris F e sua turma de viciados sonhando com uma vida burguesa (embora demonstrassem desprezo por eles, os burgueses), um número crescente de jovens se prostituindo, outros tantos morrendo por overdose. Esse é o cenário apresentado no livro. Eu não conheço uma pessoa que não tenha um caso de parente envolvido com drogas. Eu mesma tenho um primo que é viciado. Pior cena do mundo ele aparecer totalmente alterado na festa de casamento do irmão. E a família ainda tenta esconder o sol com a peneira. Mas o problema é que não se pode ir internando a força, deve partir dele a vontade. Aí que mora o problema. Eu, com meus 26 anos, ainda não consigo ter uma opinião formado sobre a questão da droga, se vejo apenas como uma questão de saúde pública ou se opino na questão jurídica. Será mesmo que a descriminalização das drogas diminuiria a violência? Mas isso não diminuiria as complicações do abuso do uso de drogas. Se nossos hospitais não conseguem atender pacientes com uma simples dor de cabeça...E qual seria a graça de eu estar ao lado de pessoas que estariam com o estado alterado por uso de drogas? Ok, já ouvi como resposta que há alimentos que também alteram a percepção das pessoas e que nem por isso estão restringindo a venda de alimentos (e ainda me deram como exemplo o chocolate). Talvez eu esteja fraca com argumentos. Talvez eu seja um reacionária enrustida. Ou eu não consiga hoje ver viciados como vítimas ou pobres coitados. É difícil entender o motivo que leva tanta gente a querer experimentar uma droga. Porque baixa auto-estima, problemas familiares, financeiros e amorosos todo mundo tem. Já me frustrei muito nessa vida e nem por isso recorri a drogas (até mesmo medicamentos). Eu nunca passei por uma situação em que precisava ser aceita e, para tal aceitação, tivesse que fazer algo que ia contra os meus princípios. Embora meus ídolos do rock fossem em sua grande maioria de drogados e muitas de suas composições foram criadas sob o efeito das drogas, eu não me deixei influenciar. Será que tudo isso se resume a ter personalidade? Não, é muito simplório. No meu caso, eu suponho que amo demais o meu corpo para destruí-lo, e não quero apagar da minha memória os meus momentos, sejam eles tristes ou alegres. 

Soundtrack: 

Nos anos 80, o livro foi parar nas salas de cinema. Mas já adianto que é muito, mas bota muito, ruim! Como comentou meu colega André Rosa, "é um filme que não tem o começo". O professor Vitor passou em uma aula, antes da aplicação da prova. Vale muito pela trilha sonora, que ficou na mãos do David Bowie, não por acaso um dos cantores favoritos da Chris F. Segue abaixo duas cenas do filme:

Station to Station (e eu adorei o fato dele ter participado do filme)

Heroes - esse clássico está também na trilha de As vantagens de ser invisível

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Marcelo Tas e Lulices


É muito legal ter a oportunidade de conhecer um ídolo, aquela pessoa dotada de um imenso carisma e que nos conquista logo de cara. Muito mais bacana é, além de conhecê-lo, constatar que ele não é um chato de galocha, cheio de não me toques. Em 4 de novembro de 2009, uma quarta-feira, eu realizei o sonho de ver bem de perto o diretor, apresentador e roteirista Marcelo Tas. Já escrevi aqui mesmo o quanto esse careca foi influente na minha vida, afinal ele foi o Professor Tibúrcio do Rá-Tim-Bum, o meu primeiro professor. Naquele dia ele estava lançando o livro Nunca antes na história deste país - As frases mais engraçadas e polêmicas do presidente Lula (comentadas por um especialista no assunto). Desde o primeiro tweet do Tas sobre a noite de autógrafos que ele realizaria eu pensei comigo mesma, não posso perder por nada deste mundo! O horário era bom, começaria às 18h e o local era próximo, na Livraria Saraiva do shopping Higienópolis. Mas sempre pode acontecer algo para atrapalhar meus planos. Naquela ocasião era integração ao novo trabalho. Eu tinha acabado de ser contratada pela Tivit e eu mais quatro pessoas (Jéssica, Monaliza, Paloma e o Henrique) tivemos de comparecer no prédio da empresa, localizado ao lado da Praça da República, para conhecermos o local de trabalho, termos ciência dos valores da empresa, o que podia e o que era proibido, blá blá blá wiskas sachê. Isso tudo no início da tarde e meu temor era chegar em cima da hora no Higi (apelido fofinho que eu deu ao shopping). Sabe quando as horas demoram para passar? Parecia que o instrutor falava em sloooooow moooootionnnnnn. E toda vez que ele questionava 'alguma dúvida' depois de uma apresentação, eu só pensava 'que ninguém se atreva!!!'. Mas deu tudo certo e 16h eu já estava liberada. Sorte que o ônibus que me levaria ao Higi passava ali ao lado. Não demorou para eu entrar no local e seguir direto à Saraiva. Não havia nenhum fã circulando por lá e o espaço dedicado ao Tas ainda estava sendo montado. Ok, aproveitei para comprar o livro e depois fiquei zanzando pela livraria, naquele momento já acompanhada pelo meu então namorado. 

A hora do evento se aproximava e corremos para a fila (fiquei sendo a sexta). Ainda era uma tarde quente e para ajudar o ar condicionado não estava funcionando muito bem. O calor aumentava a medida que a fila ia crescendo e meu livro adquiriu uma nova função: a de leque! O pessoal do Tv Fama já estava a postos, bem como alguns vips que chegaram (logicamente eles não ficaram esperando na fila): Mariana  Weickert, modelo e apresentou com o Tas o programa Saca-Rolha no extinto Canal 21; a mulher rica Narcisa Tam-bo-rin-de-guy (ufa, acertei?), Otávio Mesquita e o José Simão, colunista da Folha de São Paulo. Ele foi convidado a escrever o prefácio do livro e nos brinda com tiradas do calibre 'O Lula concorda com todo mundo, menos com a língua portuguesa', 'O FHC era poliglota, o Itamar monoglota e o Lula, zeroglota', ' O Tas esqueceu do capítulo Lula Matemático: " Quanto é 51 dividido por 2? Meio litro pra cada um". É o butequês!'. O CQC, programa do qual o Tas apresenta há cinco temporadas, também marcou presença levando a Mônica Iozzi, recém promovida a reporter (e eu até tirei foto com ela, num momento de total hipocrisia porque eu estava torcendo pelo Paulão fazer parte do programa). O calor foi atenuado com os refris oferecidos pela produção do evento, nunca uma Soda Limonada desceu tão gostoso goela abaixo! Chegado o momento lá vou eu pegar meu autógrafo! O tempo era curto e eu queria declarar todo o meu amor pelo trabalho dele. Ele já deveria ter ouvido umas quinhentas vezes que muitos cresceram assistindo aos programas em que ele participou, desde o Rá-Tim-Bum, passando pelo Castelo e chegando ao CQC. Agradeci por ele ter participado desses projetos e também comentei o quanto sou feliz ao ver que gente do quilate de Fernando Meirelles estava por trás de algum desses programas. O Tas tinha soltado um sorrisão e falou rapidamente o quanto respeita a inteligência da criançada e o quanto se sente feliz por influenciar positivamente gerações de telespectadores. Por fim  a minha ideia era dar uma bitoca na careca do Tas mas desisti logo ao perceber que ela estava muito suada (argh!). 

Ainda está disponível no YouTube a matéria do CQC, eu faço uma aparição rápida no melhor estilo Rodrigo Santoro em "As Panteras", fiquem atentos quando um moleque começar falar da "paçoquinha", eu estou à direita. 



Álbum de recordações:

Buemba! Buemba! Esse tiozinho de camisa branca, ao centro, é o Zé Simão!

Mônica Iozzi trabalhando e puxando o saco do Tas

Descobri que ser um CQC não é fácil.

"Mari, eu amava o Saca-Rolha!"/ "Eu também, flor!" (momento como puxar o saco de uma  celebridade! Mas o programa era realmente legal, eles formavam um trio com o Lobão!

O apresentador mais tchuqui-tchuqui ^^. Notem que ele desenhou o prof Tibúrcio.


Esse é o Marcelo Duarte, autor da série Guia dos Curiosos, diretor editorial da Panda Books e apresenta  o Loucos por Futebol na Espn (e ele ficou surpreso quando eu pedi pra tirar uma foto)

Nossa Mônica, sempre torci por você! #mentiiiiira

missão cumprida!

foto que foi exibida no site

Sobre o livro:

O Marcelo Tas fez uma compilação de declarações do ex-presidente Lula. Segundo o próprio Tas, " Ao receber a faixa de presidente, como num passe de mágica, Lula tomou pose, não apenas da presidência da República, mas de toda sabedoria e diplomas acadêmicos os quais não teve acesso antes." Ele classifica o ex-presida em dez profissões mais assumidas durante os seus dois mandatos. Após uma rápida leitura eu já chego a seguinte conclusão: o Brasil é realmente o país da piada pronta, onde os verdadeiros comediantes estão no Planalto Central (entre outros lugares) e o povo assume o nariz de palhaço. Quando iniciei minha leitura de Nunca antes na história... eu ingenuamente pensei que começaria por um tema leve, mas ele pode despertar a ira de muitos. Não é preciso ser "o" anti-petista para se indignar com as declarações do Lula referentes ao mensalão, ou mesmo dar uma risada sarcástica após ler os auto-elogios, se gabando de ser um presidente infinitamente melhor do que FHC ou ainda o 'arrego' dele perante a figuras como Collor, Sarney e Maluf. Mas eu também já sei que interesses e "virar a casaca" não é exclusividade de políticos. Discursos, muitos fazem...colocá-los em prática são outros quinhentos. Cansei de conhecer gente que enche o peito para falar em ética mas arrota hipocrisia. 

Só para deixá-los com curiosidade, aqui vai um 'trailer' de algumas frases presentes no livro, todas devidamente comentadas pelo Tas:

"Daqui a alguns dias vou encontrar meu amigo Bush e vou dizer a ele: 'Bush, resolve aí o problema da crise, porque não vamos deixá-la atravessar o Atlântico e chegar ao Brasil."
17/9/2007, em entrevista em Madri, quando o presidente ainda desprezava a crise econômica mundial, definida por ele como 'uma marolinha'
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Tem razão o presidente. A crise não "atravessou" o Atlântico. Veio a pé mesmo, devagarinho, pelo canal do Panamá. Demorou um pouco, mas chegou!

"Tenho um filho fanático pelo Corinthians e agora, para o meu azar, virou estagiário do São Paulo."
7/2/2007, durante a premiação dos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro
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Azar o presidente e constrangimento total do filho dele. Imagina o ambiente de trabalho do cara, depois do papai entregar, diante da mídia nacional, que o novo funcionário do tricolor é fanático pelo Timão. 

"A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém no meu governo."
9/10/2006, às vesperas do primeiro turno das eleições
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Eis o mistério do poder: o presidente se frustra e vence as eleições; os ricos ficam mais ricos e os pobres naquela mesma vidinha de sempre (eu, Shilzinha, cito ainda a música das Meninas ♫Analisando essa cadeia hereditária/quero me livrar dessa situação precária/E o rico cada vez fica mais rico/e o pobre cada vez fica mais pobre♫)

"Estou pronto para a briga. Também vou entrar no tapume."
27/9/2005, se exalta e troca "tatame" por "tapume", ao receber os judocas brasileiros vitoriosos que participaram do Mundial de Judô.
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Para sair bem na foto, Lula topa tudo. Até dar de cara no tapume.

"Quando Napoleão foi à China, ele cunhou uma frase que ficou famosa. Ele disse: 'A China é um gigante adormecido que o dia que acordar, o mundo vai tremer."
30/04/2003, na abertura do seminário Brasil-China: um salto necessário
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Duas correções: 1."Gigante...deitado eternamente em berço esplêndido", são versos do hino que país mesmo, hein presida?; 2. Napoleão nunca pôs os pés na China.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Leio, logo existo



Uma das páginas que eu mais gostei de curtir no Facebook foi a 365 filmes em um ano. O responsável compartilha imagens belíssimas de filmes e bastidores do cinema, além de fazer comentários muito bons. O título da página merece uma explicação: o autor resolveu assistir a 365 filmes em um ano, mas logicamente não devemos interpretar ao pé da letra. Fica um pouco inconcebível ver um filme por dia, só uma pessoa bem desocupada privilegiada para fazer algo do tipo. Mas sempre há uma chance de realizar uma sessão pipoca para curtir dois ou até três filmes na sequência. O legal é que ele não foca apenas nos lançamentos no cinemas pois ele também deseja ver os grandes clássicos e pérolas perdidas. Eu comecei citando o 356 filmes... por que eu resolvi criar um desafio semelhante para mim, mas saem de cena os filmes e entram os livros. 

Tudo começou num momento Amélia (aquela que não tinha a menor vaidade, aquela que era mulher de verdade), quando resolvi arrumar meu armário de livros. Tarde quente e sem absolutamente nada para fazer, me entreguei de corpo e vontade ( e não de corpo e alma pois eu não acredito no conceito de alma) à arte de organizar livros. Primeira coisa que percebi: eu tenho livro pra carai!!! Claro que junto dos meus tesouros há alguns intrusos. Por exemplo, eu nem sabia que nós temos dois livros do Gabriel Chalita (para quem não é de São Paulo, o Chalita já foi secretário da Educação, foi candidado a prefeito de Sampa e ainda é amigo dos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo), entre eles o Pequeno Filósofo. Percebi também que minha mãe guarda umas sete bíblias (entre tradicionais e de tamanho mini); querem saber quantas vezes eu a vi lendo uma bíblia? NENHUMA! É como eu sempre digo, minha mãe não é católica e sim poser! Há muitos livros do Augusto Cury, o expert em livros de auto-ajuda, e também a dona Zíbia Gaspareto tem lugar cativo entre as mulheres da minha casa e eu, não querendo ser do contra mas já sendo, não tenho apreço por nenhum dos dois. O primeiro sempre reforça aquela impressão de que livros de auto-ajuda são guias ou manuais práticos para todo e qualquer problema que afeta o ser humano. São diversos livros lançados que eu me sinto obrigada a questionar, 'as pessoas são tão burras para encarar a vida com os próprios passos?" A literatura é, antes de tudo, um estado de inquietação, não importando o gênero, ele tem que deixar o leitor pensar por si próprio e não trazer soluções mágicas para todos os males da humanidade. Claro que muitas histórias nos levam ao aprendizado (a famosa moral da história), mas o mais gostoso é aprender sem perceber. É embarcar num enredo gostoso que te faça compreender o personagem. E eu ainda prezo por um texto bem elaborado, adoro interpretá-los, não aceito nada assim dado de bandeja. Eu costumo me definir como uma amante de figuras de linguagem: metáforas, "metádentros", metonímias, aliterações, paráfrases...ai se um anacoluto passa na minha frente! Favor não confundirem texto elaborado com texto repleto de palavras difíceis e ideias truncadas. Há autores que conseguem nos presentear textos deliciosos com temas e linguajar ultra simples! Já os livros denominados espíritas não me cativam por que eu simplesmente não acredito em espíritos. O único defunto-autor que reconheço e aprovo é o Brás Cubas. Sei lá, mas não é estranho a Zíbia levar toda a fama por histórias sussurradas por outra pessoa? Em todo o caso, eu sempre comento com minha mãe, "Olha mulher, caso eu esteja errada e exista vida após a morte, eu vou contar um monte de histórias no ouvido da Zíbia e se ela quiser publicar, vai ter que dividir os lucros com meus parentes!"

Deixando de lado esses títulos, tratei de separar meus livros e deixá-los numa localização mais acessível dentro do armário (ou seja, Augusto Cury e Zíbia lá pro fundão). Se a Pâmela tem o hábito de cheirar livros aqui ela faria a festa, com direito a muitos espirros. Comecei a empilhá-los em cima da cama da minha irmã, depois fiz uma lista anotando o nome de todos, seguido pelo nome de cada autor e editora. Por fim, eu estava doidinha por não conseguir escolher a melhor forma de organizá-los: em ordem alfabética, por nome dos autores, editoras ou gênero. Acabei optando por ordem de tamanho (!). 





Eu dei falta de alguns livros que marcaram a minha infância. Na verdade eu não sei se eles foram doados ou se estão nos armários que ficam ao lado da lavanderia (sinto calafrios só de imaginar o estado de conservação). Não foi nenhum parente que me iniciou o hábito da leitura, tão pouco foi na escola. Muitos programas que gostava de ver na infância ( e se pá vejo até hoje na Tv Rá Tim Bum) sempre indicavam livros, como um quadro do X-Tudo ou no Mundo da Lua! Nem preciso comentar que meu cômodo favorito do Castelo Rá-Tim-Bum era a biblioteca, né? Um livro que nunca me esquecerei é o Bulunga, o rei azul, que conta a história de um gato azul e que só gostava dessa cor (hoje eu desconfio que ele seja um torcedor do Chelsea). Uma história aparentemente simples mas que tratava do preconceito. Outro bacana foi A colcha de retalhos, que narra a história de um menino, Felipe se não me falhe a memória, que tem uma avó costureira. Um dia ela fez um colcha com vários pedacinhos de roupas do netinho, para que ele pudesse se recordar de cada passagem da vida dele. Ele ficou lá se lembrando de várias coisas até que começou sentir uma saudade danada da vovó. A atividade sobre esse livro foi bacana, a minha professora propôs que nós levássemos um pedaço de roupa e que revelasse a história ligada a ele. Eu tinha levado um pedacinho do vestido que usei no casamento da minha irmã Luciana. Ele aconteceu no dia 7 de setembro de 1996, como eu mesma declarei era o dia da MINHA independência. Ledo engano, lá se vão dezesseis anos e a Luciana continua muito presente na minha vida. Eu também já tive O diário de Anne Frank, eu li na sétima série mas eu devo ter emprestado para alguém que nunca mais me devolveu. Por isso livro é algo "imprestável" (do verbo não empresto mesmo!). 

Porém não posso me queixar da quantidade de livros guardados aqui, são 81 livros que além de suas histórias originais, carregam também parte da minha história. Cada título me faz voltar ao passado e lembrar o que aconteceu naquele tempo. Os livros são os retalhos que compõe minha colcha. Por isso eu resolvi qu 2013 será o meu ano da leitura, pois pretendo ler 365 livros no ano. Claro que incluirei os livros da minha coleção, será um prazer reler algumas obras e ver se minha concepção mudou muito. Parece loucura mas não deixa de ser um desafio e tanto. Logicamente meus pulos até a Biblioteca serão mais constantes. Porém não quero me pressionar muito só para atingir a meta de 365 livros. Não quero ler por ler, quero me atentar ao texto, refletir e expandir meu HD (também conhecido como cérebro). O mais bacana é que ao fim de cada leitura eu vou escrever sobre esse epopeia literária (fiquem tranquilos, não darei spoiler sobre a trama), tecendo comentários sobre a obra e fatos curiosos que envolvam meu relacionamento com o livro. Com certeza não será tedioso para mim. A minha ideia de felicidade atualmente é ler um bom livro, ouvir boa música e apreciar um bom filme. E se tiver alguém que embarque nessa aventura será bem vindo!