segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A menina que ganhou amigos

Eu estava com saudade de escrever no blog, muita mesmo! E resolvi voltar em grande estilo, contemplando vocês com texto carregado de carinho. Quem me acompanha pelo Facebook já deve ter percebido que eu sou uma apaixonada por filmes e um dos meus programas favoritos é ir ao cinema. Desde o ano passado eu publico no meu perfil uma mini-crítica sobre os filmes conferidos, finalizando com uma nota. Essas críticas são uma visão bem particular; esclareço que não sou formada em cinema mas me interesso muito pelo tema. Os filmes são uma diversão séria, porque não me interessam apenas rostinhos bonitos, romances açucarados e cenas de ações absurdas de tão inverossímeis! Nada contra as super produções hollywoodianas mas eu quero antes de tudo uma grande história, em que todos os envolvidos (atores, diretores, roteirista, diretores de fotografia, editores, os responsáveis pelas trilhas) tentem criar algo único, sincero e de boa qualidade. 

Quantos aos meus textinhos, bom o pequeno espaço do Facebook não me permite encorpar as minhas impressões (e vale ressaltar que a maior parte do tempo eu me conecto pelo celular, então fica complicado escrever muito com esse aparelhinho). Em janeiro eu já entreguei 4 críticas (Álbum de Família, Frozen - Uma Aventura Congelante, O Lobo de Wall Street e Questão de Tempo) e chega a hora do filme mais esperado: A Menina que Roubava Livros. Desde o início da semana retrasada esse texto foi tomando forma e eu precisava desse espaço maior, há uma grande e bonita história de amizade em torno desse livro. Vamos à ela, então. 

Há muito tempo atrás (especificamente em agosto de 2010), eu trabalhava numa empresa chamada Tivit. Alguns livros estavam salvos numa pasta dos computadores, sempre que existia uma folguinha nós íamos ler. Eu fui me aventurar em ler A Menina que Roubava Livros, mas não consegui passar de 2 páginas, pois eu achei o texto nada haver, o narrador não dizia nada com nada. Logo desisti e preferi ler O Menino do Pijama Listrado e O Guia do Mochileiro das Galáxias. Muito bem, congelem a cena e vamos dar um pequeno salto no tempo, vamos para 7 de setembro do mesmo ano. Eu guardo bem esse dia porque foi quando um grupo de meninas tornaram-se moderadoras da comunidade Fernando Torres lá do Orkut (ler Orkut faz subir um cheiro de mofo, né? rs). A comunidade ficou mais organizada e havia até um Chat criado para escrevermos sobre qualquer outro assunto que não fosse o jogador espanhol. Eu passei a papear pra caramba com o pessoal de lá, uma galerinha divertida e cheia de sonhos (vale lembrar que na época eu tinha 24 anos e a média de idade dos membros mais participativos de lá era 17). Ok, dentre tantas pessoas legais, eu destaco a Mirela Pinheiro, Isabela Fernanda, Marcela Lima, Paula Dantas, Wallace, Diego Messora, Fábio Vidotti e a Pâmela Rodrigues. Esta última tornou-se uma das minhas melhores amigas, mesmo morando longe, mais ou menos uns 450 km de distância. Descobrimos que temos muitas coisas em comum: somos fãs de dublagens ao ponto de ficar falando o nome dos dubladores quando assistimos aos filmes, somos apaixonadas pela voz brasileira do JARVIS, somos fãs de música clássica (mas ela tem mais propriedade para falar sobre o assunto, afinal ela sabe tocar piano, enquanto eu desafino até tocando campainha!), somos torcedores do Verdão e do Chelsea, somos fãs dos mesmos filmes e somos leitoras vorazes! É muito comum trocamos figurinhas e informações sobre livros e filmes. Várias vezes já servimos de ombro-amigo de uma para a outra e até já mandamos cartas (um hábito quase esquecido por alguns). Pâmela, minha amiga, escrevendo diretamente a você, obrigada por me fazer ver a vida com mais leveza e otimismo! Obrigada por você e sua família terem me recebido de modo tão hospitaleiro e gentil em 2012 quando eu dei uma de Bilbo Baggins e "sai para uma aventura". Graças à minha amiga Pâmela Rodrigues eu dei uma segunda chance para o livro de Markus Frank Zusak, uma vez que esse foi meu presente de aniversário dado por ela! Confesso Pâmela, pensei que eu iria ganhar As Vantagens de Ser invisível mas entendi que A Menina que... é um de seus títulos favoritos, lembro-me quando você comentava sobre ele, então acreditei que presente maior não era o livro em si, mas a representação do que ele significou na sua vida. Talvez você seja igual a mim, que quando vai presentear alguém pensa bem no que agradaria esta pessoa e se esforça para dar um presente que esteja à altura dela. Esse livro foi uma espécie de libertação e conforto para mim. Foi meu companheiro de ida e volta do trabalho, lia também todos os dias no meu horário de almoço (e pra entrar no clima, eu sempre lia ouvindo a Cultura Fm, rádio que só toca música clássica). Ler a história de Liesel me causava uma sensação de frescor, me fazia esquecer toda a ignorância que estava ao meu redor, toda a futilidade, toda conversa carregada de rancor e arzinho insuportável de preconceitos. A menina que ... me causou um sentimento contraditório: quanto mais eu lia, queria saber o desfecho dos personagens mas queria evitar ao máximo o fim, para nunca me desprender da história. Enfim, ao terminar o livro, eu só tinha pensamentos voltados à adaptação cinematográfica. As únicas noticias que eu tinha eram os atores escalados para os papéis principais e só. Isso foi bom por não quadruplicar minhas expectativas. Mas finalmente 31 de janeiro veio e posso dar meus pitacos sobre o filme. 

hahaha, eu sempre quis usar isso!


A Menina que Roubava Livros - a crítica!


Gênero: Drama
Diretor: Brian Percival
Roteiro: Michael Petroni
Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Nico Liersch.

Adaptar uma obra best-seller é um desafio: o diretor tem que agradar aos fãs mas não pode esquecer que o filme precisa cativar aqueles que nunca leram o livro. Eu mesma sei que nós, fãs de livros, somos uns seres malas porque nunca vamos ficar satisfeitos com o que será exibido, vamos sempre sentir falta de alguma passagem, algum personagem ou reclamaremos que tal ator/atriz não se parece com o que é descrito no livro. Cara, eu sou fã de Harry Potter e posso falar com muito conhecimento de causa que um filme baseado num livro quase sempre não supera a obra original. Mesmo quando o resultado é bem sucedido, como foi o caso de O Senhor dos Anéis, há os fãs "xaatos" (mistura de xiitas com chatos) que não compreendem que é praticamente impossível adaptar todos os capítulos, página por página da obra do Tolkien. 

Por essa razão eu não reli A Menina que ... para poder aproveitar mais a experiência cinematográfica do que ficar procurando as diferenças entre livro e filme (mas aqui no blog tenho que escrever sobre tais diferenças). Tal como o livro, o filme tem como narradora a Morte, embora era não tenha tanto tempo de cena. Minha maior preocupação era com essa personagem. Quando eu lia, imaginava a Morte criada pelo Neil Gaiman, mas ela era muito moderninha pra uma história que transcorria em 1938. Então passei a imaginar minha Morte sendo "interpretada" pela Eva Green (vai me dizer que ela não seria uma Morte perfeita?)



Uma Morte mais presente, com uma Eva Green usando um figurino vitoriano seria uma grande acerto. Mas o diretor preferiu algo mais convencional e usou apenas uma narração em off. Achei um pouco "sem sal" a narração, se não fosse para ter uma presença física da Morte, o Brian Percival poderia ter feito alguma outra coisa que a representasse  ( uma fotografia diferente, algum movimento de câmera que representasse a visão da Morte ou qualquer outro sinal que pudesse sugerir a presença dela). 

A história não sofreu nenhuma grande alteração do que há no livro: nós vemos a vida da jovem Liesel Meminger (Sophie), uma garotinha que passa a viver com os pais adotivos Hans Hubermann (Geoffrey Rush) e Rosa Hubermann (Emily Watson), durante a 2ª Guerra Mundial. Sua mãe teve que tomar essa decisão por ser comunista e fez isso para poupar a vida da filha. Como toda criança, Liesel sente falta da mãe e sofre para se adaptar a nova família (vale lembrar que ela também sente a falta do irmão mais novo, Werner, que faleceu durante uma viagem de trem). O primeiro conforto e carinho ela recebe é de Hans, interpretado pelo Geoffrey com a categoria de sempre. O ator conseguia transmitir aquela sensação boa de ser um amigo, um guardião, alguém que sabe todos os perigos e tristezas que a guerra traz, mas nunca deixa de ser otimista. Hans contrasta bastante com sua esposa, Rosa. Também magistralmente interpretada pela Emily, ela é tudo o que eu imaginei que seria, uma pessoa de aparência amargurada, mais rígida, mas que ama seu marido e sua filha adotiva de um modo bem particular. Guardada as devidas proporções, ela seria equivalente ao Severo Snape, um personagem que nos causa certa repulsa por aparentar ser alguém que vai transformar a vida do protagonista um inferno mas que nos conquista a cada momento em que mostra a sua humanidade. 



A atriz escolhida para ser a Liesel tem um futuro promissor, pois ela me convenceu. Sophie me lembrou a atriz do filme Meu Primeiro Amor, principalmente pelos grandes olhos claros. Esse olhar de curiosidade e medo me fascinou e não vi nenhum momento em que ela tenha vacilado em sua interpretação. A química dela com o Nico, que fez o seu melhor amigo Rudy, ficou excelente. Onde eles encontraram esse menino? Ele é muito carismático e tem um timing perfeito nas cenas mais leves. 


Outro que me satisfez muito foi o Ben Schnetzer (ô sobrenome difícil de escrever!), na pele do judeu refugiado Max. Hans tem uma dívida com a família de Max, porque ele foi salvo na 1ª Guerra pelo pai do rapaz. Agora Hans se vê numa situação delicada em abrigar o jovem em sua casa, escondendo-o dos nazistas. Mesmo para quem já sabe a história, o filme soube reproduzir bem essa sensação de perigo eminente que rondava a casa dos Hubermann e o modo como o povo alemão era manipulado pela propaganda nazista (talvez a arma mais perigosa por Hitler). 



É impossível não se encantar com a paixão de Liesel pelos livros e como ela os usou como um modo de refúgio de todos os males da guerra. Todas as cenas que constam no filme também estão no livro e foram representadas da forma mais fiel possível. Alguns fãs sentiram a falta de personagens como o jovem Tommy ou a passagem em que Rudy e Liesel passam roubar maçãs junto com outros jovens. Ah, eu particularmente fiquei triste em não ter aquele "delírio-sonho" de Max lutando contra Hitler, assim como não vimos o livro dado por ele à Liesel como é descrito no livro. Li algumas críticas reclamando que a intenção do diretor de transformar a história num melodrama, com cenas feitas a toque de caixa para emocionar a platéia. Eu não concordo muito. Acredito que ele foi um diretor bem correto, que não quis alterar a linha narrativa, tão pouco focou em cenas da guerra propriamente dita ( ele deu mais enfase nas consequências). A câmera era segura, sem grandes variações de posicionamento. Talvez, se essa filme caísse nas mãos de outro diretor (tipo Jim Sheridan ou Neil Jordan), ele teria uma visão mais dura e crítica sobre a guerra. Mas pra mim, o foco sempre foi a amizade entre Max e Liesel. Aliás, os momentos com as frases mais lindas eram com esses dois personagens. Uma pena que o desfecho do Max tenha sido muito rápido. Outra coisa que eu tenho que reclamar foi a cenal final, a do bombardeio. Os corpos dos personagens atingidos ficaram intactos, faltaram ferimentos e sangue. A trilha ficou a cargo de John Willians ( responsável pelas trilhas de Star Wars, Super Man, ET e praticamente todos os filme do Spielberg) e é muito tocante e lírica. 

Bom termino meu texto afirmando ter ficado muito satisfeita com o que assisti e esse filme merece nota 9.

Fiquem com um pouco da ótima trilha do grande John Willians:



domingo, 24 de março de 2013

Embarcando com Gil Vicente

Finalmente vou escrever sobre um livro no qual a história não é baseada em fatos reais, tão pouco narrado  em primeira pessoa. Escolhi um clássico revisitado, O auto da barca do inferno de Gil Vicente. Ah Shil, puta livro chato, só li porque cai no vestibular e nunca mais me aventurei a lê-lo novamente. Eu entendo vocês, o fato do livro estar relacionado em uma lista obrigatória já desperta uma aversão dos alunos. Em um mundo perfeito todas as pessoas teriam o hábito da leitura ( de bons livros é claro, 50 tons de cinza não vale) por livre e espontânea vontade. Empurrar um livro de mil e quinhentos e trá-lá-lá para um jovem é uma tarefa árdua. É que galerinha é um tantinho arrogante, chegando até a desprezar tudo aquilo que foi criado antes do seu tempo. Cabe um incentivo e um grande jogo de cintura dos professores para tornar a obra relevante aos alunos. 

Vocês devem estar se perguntando, Shil, você escreveu que é uma versão revisitada, como assim? Então meus caros, eu li uma versão d'O auto da barca do inferno em quadrinhos, concebido por Laudo Ferreira. Eu achei essa ideia fantástica, tornando o conteúdo mais atraente. Claro que, assim como uma adaptação cinematográfica, converter uma história para os quadrinhos limita um pouco a imaginação do leitor. Antes cada personagem tinha a imagem criada por MIM, pessoas que só existiram na minha mente fértil. Por outro lado é legal perceber nos desenhos alguns detalhes que passaram despercebidos por mim quando li O auto... pela primeira vez. Analisando pela perspectiva estética, o traço escolhido pelo Laudo Ferreira é bem forte, lembrando bastante as charges que são publicadas em  jornais. Me chamaram a atenção as figuras do Diabo e do Anjo. Na minha visão, o Berzebu seria mais elegante, andrógino, um olhar mais frio e ao mesmo tempo cínico e com um pequeno toque de humor (um humor negro, é claro). O Diabo apresentado na HQ é mais bufante, diria mais, um tanto quanto carnavalesco. Confesso que no início me decepcionou um pouco; mas depois observado mais, ele até me lembrou o vocalista do System of a Down ( ^.^ ):

Eis a capa do livro

Não concordam que ele seria perfeita encarnação do demônio?



A figura do Anjo também divergiu da minha; eu tinha em mente aquela figura clássica de roupa branca, cabelos cacheados e um olhar que transbordava bondade... A visão do Laudo foi de uma figura mais severa, daquelas que devem impor respeito, sabe. E de imediato eu me lembrei do anjo Gabriel do filme Constantine, interpretado pela Tilda.

Esse anjo mete mais medo do que o próprio demo!


Esse anjo impõe respeito!


Para quem não é familiarizado com a obra vicentina aqui vai a sinopse: a história começa num porto onde há duas barcas: uma vai para o paraíso, guiada pelo Anjo,e a outra para o inferno, comandada pelo Diabo e seu ajudante. Conforme o decorrer da história os futuros tripulantes - os defuntos - chegam meio desorientados e são surpreendidos pelo Coisa-Ruim. Apresentam-se na seguinte ordem: o fidalgo, o onzeneiro, o parvo, o sapateiro, o frade e sua moça Florença, Brísida Vaz (a alcoviteira), o judeu, o corregedor e o procurador, o enforcado e os quatros cavaleiros. O Diabo e o Anjo são alegorias representantes do Mal e do Bem, atuando como juízes do julgamento das almas, levando em conta todas as ações dos personagens na Terra. Portanto o Auto da barca do inferno é uma peça totalmente moralista. É como se o Gil quisesse expor toda a fragilidade moral da sociedade portuguesa do seu tempo. Imagine se ele vivesse no Brasil e tivesse acesso às maracutaias que rolam soltas no nosso congresso! Nem livros ele precisaria publicar, ele criaria a página Gil Vicente da Depressão no Facebook e nos brindaria com várias críticas bem humoradas. 

Não posso negar que o Diabo é a figura mais me fascina nessa peça. Não, por favor não associem o fato de  eu ser ateia com adoração com o tinhoso. Se eu não acredito em deus também não acredito no oposto. Ocorre que nessa história ele é um juiz tão impiedoso quanto o próprio Anjo, porém apresenta diálogos tão envolventes e convincentes para com os defuntos, apresentando-se como uma figura sarcástica, bem humorada, rindo da hipocrisia das personagens. Aliás, isso me lembrou de uma matéria de uma edição especial da revista Super Interessante que eu tenho guardada desde maio de 2009. O tema é Deus e a revista traz matérias sobre a existência ou não de deus, o  embate sobre a religião e a ciência, entrevista com teólogos e cientistas. Há duas páginas destinadas ao demo, por razão do livro Satã, uma biografia, de Henry  Ansgar Kelly. Aqui vai a reprodução de parte da matéria:

"A história original do demônio-aquela que está registrada os textos bíblicos- foi deturpada ao longo dos tempos. Na verdade, o diabo não seria tão ruim assim. E a difamação começou nos primeiros séculos do cristianismo. Para o pesquisador americano, a Bíblia revela que o demônio era uma espécie de "empregado de deus"- uma entidade moralmente correta, encarregada de perseguir e acusar os pecadores, porém os pais da igreja, ao interpretar o episódio bíblico de Adão e Eva no jardim do Éden, associaram-no à imagem da serpente traiçoeira. A partir daí, diz Kelly, ele foi se transformando em inimigo de deus, até virar a representação máxima do mal."


Esse meu reencontro com O auto da barca do inferno me fez lembrar de outras obras que contavam com a presença ilustre do Cão. As mais memoráveis para mim são essas:

O Auto da Compadecida - interpretado por Luís Melo


Hoje é dia de Maria - interpretado por Ricardo Blat 


O Advogado do Diabo - interpretado pro Al Pacino

Por isso eu falo: Al is All!!!

As Bruxas de Eastwick - Jack Nicholson ( porque pra mim, se o diabo existisse ele seria o próprio Jack!)


A Profecia (1976) - o Damien dessa versão é mais assustador do que a versão de 2006

Essa trilha me causa calafrios!!!!

Soundtrack







Espero que nenhum de vocês queiram me exorcizar da próxima vez que me virem!


terça-feira, 19 de março de 2013

Livremente

No final de semana passado eu aluguei três filmes, dois deles até então inéditos para mim. Antes de escrever sobre eles, quero aproveitar para dar uma pequena observação. A grana está curta, o tempo idem. Tenho uma jornada de trabalho maior do que no meu emprego anterior, porém o salário é menor. Valeu capetalismo! Essa combinação desastrosa me fez abrir mão de conferir os filmes que estão em cartaz. Deixar passar em branco O lado bom da vida, O Mestre, Colegas e Mama. Ouço sussurros de "ah Shil, baixe pela internet". Quem me dera meus amigos, o pc lá de casa morreu e eu me viro acesso a internet nos computadores disponíveis no trabalho e quando vou à biblioteca. Chega a ser desesperadora a ideia de não ir ao cinema, aquele meu momento de puro escapismo, de deixar os problemas lá fora e viver as mais incríveis histórias. Mas ainda existem as locadoras, escolhi três filmes que saíram mais baratos do que uma sessão no Cinemark aos fins de semana. 

O primeiro que vi foi "Sherlock Holmes e o Jogo das Sombras". Era para eu ter visto nas minhas férias do ano passado, mas meu amigo conseguiu me convencer a assistir O Gato de Botas. Sábia escolha, não me arrependo da troca. O longa é a continuação do primeira e bem sucedida aventura do detetive e seu amigo doutor Watson, que já não era aquela obra-prima mas era divertida e com boas cenas de ação. Nessa sequência o diretor Guy Ritchie fez mais do mesmo e nem os talentosos protagonistas Robert Downey Jr (Holmes) e Jude Law (Watson) salvam a película. As cenas de ação são previsíveis e cansativas, vide as Holmes' vision (aqueles momentos em que o detetive antevê os golpes que dará em seus inimigos)  e as piadinhas sobre o relacionamento entre Holmes e Watson já deram o que tinham de dar! Considerei o vilão apático e os coadjuvantes pouco acrescentaram à trama. O final foi tão anticlímax, que eu até levei um susto, tipo "já acabou, é isso?". Que o Robert é um p*ta ator isso eu não nego mas ele parece fazer o mesmo personagem (*cof cof Tony Stark, cof cof!!). Gostaria muito que ele realizasse outros projetos só para apresentar à essa nova leva de fãs que ele também é um ator dramático e não vive apenas de sucessos blockbusters!




O domingo eu reservei para rever Sangue Negro. Cada vez que eu o assisto, mais eu fico impressionada com o magnetismo que ele me causa. Não é uma película fácil para os mais jovens e inquietos, pois ela começa com uma sequência de quase quinze minutos sem nenhum diálogo. Ah sim, só para situá-los, Sangue Negro narra a trajetória de Daniel Plainview, de um modesto minerador de prata até virar um poderoso explorador de petróleo no início do século passado. O papel principal caiu nas mãos de Daniel Day-Lewis, em mais um show de atuação. Quando o vejo dentro de um buraco em busca de minério não  me restam dúvidas: ele deve ter passado no mínimo 3 meses aprendendo o ofício para dar autenticidade ao personagem. O trabalho de composição para os seus papéis é um assombro, beirando a perfeição. Incrível como ele consegue criar trejeitos, mudar de sotaque, tudo feito de forma minuciosa. Por isso sou apaixonada por esse homem. Sangue Negro foi lançado em 2007 e no ano seguinte Daniel Day-Lewis foi laureado com sua segunda estatueta de melhor ator (e a terceira veio neste ano por "Lincoln'). 



Nossa, eu já escrevi demais mas tudo isso foi só um aperitivo. A força motora deste texto foi o terceiro filme escolhido por mim, visto na última segunda-feira. O Escafandro e a Borboleta é um filme francês lançado em  2007 e é a adaptação do livro homônimo, escrito por Jean Dominique Bauby. Vencedor de dois Globos de Ouro (melhor direção e melhor filme estrangeiro) e teve quatro indicações ao Oscar. Eu já tinha lido matérias e críticas elogiosas em revistas especializadas e lembro de ter assistido as cerimônias de entrega de prêmios citadas na  frase anterior. Não sei o porquê de ter demorado tanto para vê-lo. Há dois fatos curiosos sobre esse título. Um é que eu  não consigo falar Escafandro logo de primeira, acabo sempre enrolando a língua e sai coisas como escafrando ou escrafrando (até parece um palavrão!). Não tem jeito, eu  tenho de falar devagarinho, O Es-ca-faaaaan-dro e a Borboleta. A outra coisa é que  eu não tinha a menor  ideia do que era um escafandro! Por um certo momento eu achei que fosse um inseto (por  culpada borboleta que o acompanha no título). Só depois de assistir ao filme que saquei do que se trata:


Bom, vamos à história. O livro que inspirou o filme é a autobiografia de  Jean Dominique Bauby, jornalista e editor da revista Elle francesa. Aos 43 anos ele sofre um acidente vascular cerebral (o famoso AVC) e fica em coma por 20 dias. Ao acordar, percebe que ele perdeu sua capacidade de se movimentar e falar. Ele só conseguia piscar o seu olho esquerdo. Os médicos explicam que isso é conhecido como a Síndrome de Locked-in (ou Síndrome de Encarceramento). A fonoaudióloga dele desenvolveu um método para que ele pudesse se comunicar: as letras do alfabeto eram ditadas lentamente e ele piscava a pálpebra quando a letra que queria era falada. No início era bem cansativo, imaginem só ele ditar letra por letra. Mas com o tempo as assistentes e médicos já poderiam deduzir quais palavras ele queria dizer, o que tornava o processo todo mais rápido.



Eu nunca tinha visto uma obra do diretor Julian Schnabel, tão pouco conhecia os atores desta produção. A única pessoa conhecida por mim era o diretor de fotografia Janusz Kamiński. Uau Shil, como você se prende aos detalhes técnicos! Nem tanto meus caros, nem tanto. Não tenho tal conhecimento para avaliar se a fotografia de um filme está adequada; eu uso mais a sensação que ela causa. E sim, eu gosto de ler as fichas técnicas dos filmes, por isso eu sei q Janusz Kamiński já trabalhou com o Steven Spielberg desde A Lista de Schindler. Mesmo que você não seja um expert em fotografia cinematográfica logo perceberá que em O Escafandro... há um quê de diferente. Quando o Jean Do desperta do coma nós temos a sua visão, ou melhor explicando, a sua perspectiva. É como se a câmera fosse o olhar dele  (semelhante ao clipe Smack my Bitch up, do Prodigy). Se o diretor queria nos fazer sentir na pele a situação do Jean, pontos para ele! Era algo que beirava ao claustrofóbico. E é aí que entra o trabalho de Janusz: as imagens ora ficavam desfocadas, ora as luzes pareciam faixas coloridas e distorcidas, a visão por vezes está "torta", fora de enquadramento. Vou tentar exemplificar para vocês. Imagine vocês dormindo num quarto escuro e de repente aquele danado do seu irmão entra e acende a luz inesperadamente. Os olhos ficam incomodados com a luz, né verdade? Irrita que até chega sair algumas lágrimas. Esse é o mundo de Jean. Durante boa parte do filme o rosto dele não é exibido e a curiosidade só aumenta. Durante essa passagem os médicos tentam um tipo de comunicação com o paciente de um modo, digamos, meio desastroso, com muitas conversas cheios de temos técnicos. Até eles estão surpresos com o estado de Jean. O protagonista fala através de sua consciência, com toques de ironias e uma certa amargura.



Essa história tinha tudo para ser piegas e o diretor poderia optar por criar um dramalhão arranca lágrimas. Mas para nossa sorte o filme é francês, logo não tivemos aquela previsibilidade hollywoodiana. As belas imagens mesclando passado e presente, a narrativa peculiar de Jean e a sensibilidade alcançada pelo diretor são os grandes trunfos e o maior premiado somos nós, os expectadores. Eu não senti dó, nem chorei rios de lágrimas, mas o filme me proporcionou momentos de reflexão. 

Eu, ou melhor, todos nós não temos controle completo sobre nosso destino. Não saberemos se acordaremos amanhã. se conseguiremos evitar um queda da escada ou se corremos o risco de ser assaltados perto de casa. Hoje, eu estou saudável, sofrendo apenas de estresse mas eu ando, falo, ouço, vejo e sinto. Que desespero seria ser privada dos meus sentidos! E num país onde "pessoas não-deficientes" já não usufruem de conforto em locais públicos e nos meios de transportes, imaginem para alguém que só se comunicaria através de uma piscadela? Outra coisa que fiquei matutando: eu não preciso passar por algum acidente, eu já me encontro encarcerada dentro de mim. Eu não posso mais ir aos lugares que tanto aprecio, não tomo mais minhas próprias decisões. Estou presa numa teia, uma mosca toda enrolada num emaranhado de fios grudentos pronta para ser devorada. Como mencionei no início do texto, eu estou trabalhando e o serviço é muito, mas muito exaustivo, daquele que suga o seu ânimo. Já tive oportunidade de trabalhar em outros call centers mas esse é de longe o mais bagunçado. Acordo cinco e meia  da manhã para chegar até o meu destino às oito e meia. E só saio de lá às cinco e quarenta e duas da tarde!!!!! Qualquer compromisso ou assunto que eu tenha de resolver tenho que sacrificar o meu horário de almoço. Não sobra tempo para eu pensar, é passar todas essas horas focada em procedimentos e mais procedimentos. Do que me adianta ter o sábado e domingo como folgas? Saudade das escalas 6x1, pelo menos tinha vida social. Sabe aquela famosa cena do Chaplin em Tempos Modernos? O operário tornando um alienado no meio da produção de uma fábrica até que ele chega a ser "engolido" pelas engrenagens? É assim que me sinto: abaixe a cabeça e obedeça! Toda a minha criatividade fica fervilhando no meu cérebro. Como não posso encaminhar meus rascunhos para meu e-mail pessoal, eu tenho que memorizar todo o esboço dos textos. Lógico que quando chego aqui na biblioteca e coloco a mão na massa muito do que eu pensei eu esqueci e o texto nunca sai do modo como imaginei no princípio. E me perco dentro de mim em pensamentos, com aquela vontade de falar "certas verdades" bem alto, na cara mas que devo engolir a seco. 

Mas eu até que reclamo de barriga cheia. Um homem ditou um livro através do piscar do seu olho esquerdo, imaginem o quanto ele tinha que se concentrar e repassar mentalmente suas histórias. Curiosamente esse é o segundo...para tudo. Um senhor sentou no computador ao lado e me pediu ajuda para acessar o Orkut. Ele apresenta dificuldade na fala, o rosto levemente paralisado no lado esquerdo. Sim, agora sim eu me emocionei. Conversei aqui uns 15 minutos, realmente ele sofreu um AVC há 11 anos. O mais interessante ele ter falado que Deus quis que esse encontro acontecesse. Segundo ele nada é por acaso, não é mesmo? Eu educadamente respondo que sou ateia e que considero uma feliz coincidência. E fiquei mais encorajada em não ficar mais presa dentro da minha mente. Livremente...


Soundtrack










sábado, 2 de março de 2013

Mamonas is very porreta

Nessa semana eu fiquei pensando qual seria a primeira banda de rock da qual eu virei fã. Bom, o primeiro videoclipe que eu assisti na minha vida foi "Shiny Happy People", do REM, grupo originário da Georgia, EUA. Eu deveria ter uns 4 ou 5 anos, a MTV tinha acabado de estrear aqui no Brasil e minha irmã Luciana foi a responsável em sintonizar o canal na nossa tv Sharp, 14 polegadas, que não tinha controle remoto. Eis o clipe em questão:


Como vocês podem ter percebido, Shiny Happy People é ultra-hiper-mega colorido e com um enooooooorme apelo infantil. Depois que você conhece a carreira do grupo vai perceber que essa canção destoa de toda a discografia deles. Mas para uma pequerrucha que eu era no início dos anos 90, essa música e, claro o clipe, era um maior barato! Era só ouvir o tec-tec-tec do macaquinho que eu corria pra frente da tv para dançar igual ao vocalista Micheal Stipe e a Kate Pierson ( vocalista do B-52's que deu uma canja na música como backing vocals). Aliás, eu queria muito, na verdade até hoje eu quero, um vestido igual ao que ela usa no clipe. 

Ok mas eu não posso eleger o REM  como minha primeira banda de rock porque simplesmente eu só conhecia essa canção, cantava no meu inglês embromation e só virei fã mesmo durante a minha adolescência. Nesta manhã, imediatamente após acordar, meu primeiro pensamento foi "hoje é 2 de março, um sábado e foi exatamente nessa data, também em um sábado, que ocorreu a morte dos Mamonas Assassinas". Parafraseando o comentarista do Foxsports, Rodrigo Bueno, só quem viveu o fenômeno Mamonas Assassinas sabe o que é Mamonas Assassinas. O ano de 95 foi tomado de assalto por 5 jovens de Guarulhos (cidade da região da Grande São Paulo), jovens talentosos e de muita, mas bota muita criatividade nisso. A primeira música que eu ouvi foi O Vira e o engraçado foi que eu pensei em se tratar realmente de um grupo português, ora pois.


Mas rapidamente eu e todo o Brasil logo descobrimos quem eram aqueles "malucos"porque imediatamente vivemos a MamonasMania: todas as rádios tocavam as músicas do grupo, Globo, SBT, BAND, MTV  e MANCHETE exibiam programas onde a atração principal era os Mamonas. Revistas e jornais dedicavam matérias sobre a história do grupo e a quebra de recordes que eles alcançaram em tão pouco tempo. Do dia pra noite Dinho (vocal), Bento Hiroto (guitarra), Samuel Reoli (baixo), Sérgio Reoli (bateria) e Júlio Rasec (teclados) deixaram de ser meros desconhecidos e tornaram-se nossos ídolos. Talvez nem eles imaginariam o sucesso que fariam com a criançada. Mas afinal, era muito bacana vê-los tocando fantasiados, brincando, tirando sarro nas músicas, SE DIVERTINDO E DIVERTINDO A TODOS NÓS. Logo eles também viraram uma grande máquina de fazer dinheiro e a alegria dos programas de tv, pois era garantia de Ibope alto com a participação do grupo. Nossa, e pensar que eu cheguei a assistir ao Domingo Legal só porque eles estariam no programa, hahahaha! Não só no programa de Gugu Liberato, mas no Faustão, Xuxa Hits, Hebe, Programa Livre, eles batiam o ponto. Engraçado lembrar também a preocupação dos pais pelo conteúdo das letras "obscenas". Na real, era tudo muito divertido, um humor que se equilibrava na linha tênue entre o ingênuo e o sacana. 


Engraçado os pais de hoje em dia acharam "super normal" a criançada ouvir funk carioca como se fosse a coisa mais normal do mundo. 



O único álbum do grupo vendia feito água e todas (isso mesmo) TODAS as músicas estavam na boca da galera. Agora que eu cresci dá até pra filosofar em cima das letras. Tem qualidade sim ou por que será que nenhuma outra banda "metida à engraçadinha" não vingou? Quando você pega a letra de Mundo Animal ou Uma Arlinda Mulher, não pensa imediatamente "poxa, isso é maneiro e tão simples, EU poderia fazer algo igual ou até melhor". Mas quando resolve escrever...não sai nada! Isso é a prova de que eles era talentosos e era dotados de um enorme carisma. E como eu sempre digo, carisma não se compra, nem se fabrica.

Infelizmente os integrantes tiveram um final trágico. No domingo, 3 de março, todos nós despertamos com a triste notícia do acidente no qual todos os passageiros morreram após o jatinho se chocar contra a Serra da Cantareira. Depois do Senna, essa foi a morte mais sentida por mim. Apesar de eu ver o acidente do Senna ao vivo pela televisão, o dos Mamonas chocou pela violência. Os corpos todos despedaçados, carbonizados. Será que eles já haviam desmaiados antes da explosão? A cena dos corpos cobertos e pendurados pelo helicóptero que ajudava no resgate me assustou muito. Eles eram tão jovens, por que um fim assim? Sei que algumas pessoas próximas de mim viram as fotos dos corpos; eu nunca tive coragem de ver. Eu quero a imagem deles como caras alegres que só tinham uma missão: divertir o nosso povo tão sofrido.

Eu tentei descrever o que foi ter vivido nessa época, mas se não deu certo, aqui vai o especial que a Globo fez sobre os Mamonas:


Tá aí, realmente os Mamonas foi a minha primeira banda de rock da qual virei fã.

Saudades.