segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A menina que ganhou amigos

Eu estava com saudade de escrever no blog, muita mesmo! E resolvi voltar em grande estilo, contemplando vocês com texto carregado de carinho. Quem me acompanha pelo Facebook já deve ter percebido que eu sou uma apaixonada por filmes e um dos meus programas favoritos é ir ao cinema. Desde o ano passado eu publico no meu perfil uma mini-crítica sobre os filmes conferidos, finalizando com uma nota. Essas críticas são uma visão bem particular; esclareço que não sou formada em cinema mas me interesso muito pelo tema. Os filmes são uma diversão séria, porque não me interessam apenas rostinhos bonitos, romances açucarados e cenas de ações absurdas de tão inverossímeis! Nada contra as super produções hollywoodianas mas eu quero antes de tudo uma grande história, em que todos os envolvidos (atores, diretores, roteirista, diretores de fotografia, editores, os responsáveis pelas trilhas) tentem criar algo único, sincero e de boa qualidade. 

Quantos aos meus textinhos, bom o pequeno espaço do Facebook não me permite encorpar as minhas impressões (e vale ressaltar que a maior parte do tempo eu me conecto pelo celular, então fica complicado escrever muito com esse aparelhinho). Em janeiro eu já entreguei 4 críticas (Álbum de Família, Frozen - Uma Aventura Congelante, O Lobo de Wall Street e Questão de Tempo) e chega a hora do filme mais esperado: A Menina que Roubava Livros. Desde o início da semana retrasada esse texto foi tomando forma e eu precisava desse espaço maior, há uma grande e bonita história de amizade em torno desse livro. Vamos à ela, então. 

Há muito tempo atrás (especificamente em agosto de 2010), eu trabalhava numa empresa chamada Tivit. Alguns livros estavam salvos numa pasta dos computadores, sempre que existia uma folguinha nós íamos ler. Eu fui me aventurar em ler A Menina que Roubava Livros, mas não consegui passar de 2 páginas, pois eu achei o texto nada haver, o narrador não dizia nada com nada. Logo desisti e preferi ler O Menino do Pijama Listrado e O Guia do Mochileiro das Galáxias. Muito bem, congelem a cena e vamos dar um pequeno salto no tempo, vamos para 7 de setembro do mesmo ano. Eu guardo bem esse dia porque foi quando um grupo de meninas tornaram-se moderadoras da comunidade Fernando Torres lá do Orkut (ler Orkut faz subir um cheiro de mofo, né? rs). A comunidade ficou mais organizada e havia até um Chat criado para escrevermos sobre qualquer outro assunto que não fosse o jogador espanhol. Eu passei a papear pra caramba com o pessoal de lá, uma galerinha divertida e cheia de sonhos (vale lembrar que na época eu tinha 24 anos e a média de idade dos membros mais participativos de lá era 17). Ok, dentre tantas pessoas legais, eu destaco a Mirela Pinheiro, Isabela Fernanda, Marcela Lima, Paula Dantas, Wallace, Diego Messora, Fábio Vidotti e a Pâmela Rodrigues. Esta última tornou-se uma das minhas melhores amigas, mesmo morando longe, mais ou menos uns 450 km de distância. Descobrimos que temos muitas coisas em comum: somos fãs de dublagens ao ponto de ficar falando o nome dos dubladores quando assistimos aos filmes, somos apaixonadas pela voz brasileira do JARVIS, somos fãs de música clássica (mas ela tem mais propriedade para falar sobre o assunto, afinal ela sabe tocar piano, enquanto eu desafino até tocando campainha!), somos torcedores do Verdão e do Chelsea, somos fãs dos mesmos filmes e somos leitoras vorazes! É muito comum trocamos figurinhas e informações sobre livros e filmes. Várias vezes já servimos de ombro-amigo de uma para a outra e até já mandamos cartas (um hábito quase esquecido por alguns). Pâmela, minha amiga, escrevendo diretamente a você, obrigada por me fazer ver a vida com mais leveza e otimismo! Obrigada por você e sua família terem me recebido de modo tão hospitaleiro e gentil em 2012 quando eu dei uma de Bilbo Baggins e "sai para uma aventura". Graças à minha amiga Pâmela Rodrigues eu dei uma segunda chance para o livro de Markus Frank Zusak, uma vez que esse foi meu presente de aniversário dado por ela! Confesso Pâmela, pensei que eu iria ganhar As Vantagens de Ser invisível mas entendi que A Menina que... é um de seus títulos favoritos, lembro-me quando você comentava sobre ele, então acreditei que presente maior não era o livro em si, mas a representação do que ele significou na sua vida. Talvez você seja igual a mim, que quando vai presentear alguém pensa bem no que agradaria esta pessoa e se esforça para dar um presente que esteja à altura dela. Esse livro foi uma espécie de libertação e conforto para mim. Foi meu companheiro de ida e volta do trabalho, lia também todos os dias no meu horário de almoço (e pra entrar no clima, eu sempre lia ouvindo a Cultura Fm, rádio que só toca música clássica). Ler a história de Liesel me causava uma sensação de frescor, me fazia esquecer toda a ignorância que estava ao meu redor, toda a futilidade, toda conversa carregada de rancor e arzinho insuportável de preconceitos. A menina que ... me causou um sentimento contraditório: quanto mais eu lia, queria saber o desfecho dos personagens mas queria evitar ao máximo o fim, para nunca me desprender da história. Enfim, ao terminar o livro, eu só tinha pensamentos voltados à adaptação cinematográfica. As únicas noticias que eu tinha eram os atores escalados para os papéis principais e só. Isso foi bom por não quadruplicar minhas expectativas. Mas finalmente 31 de janeiro veio e posso dar meus pitacos sobre o filme. 

hahaha, eu sempre quis usar isso!


A Menina que Roubava Livros - a crítica!


Gênero: Drama
Diretor: Brian Percival
Roteiro: Michael Petroni
Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Nico Liersch.

Adaptar uma obra best-seller é um desafio: o diretor tem que agradar aos fãs mas não pode esquecer que o filme precisa cativar aqueles que nunca leram o livro. Eu mesma sei que nós, fãs de livros, somos uns seres malas porque nunca vamos ficar satisfeitos com o que será exibido, vamos sempre sentir falta de alguma passagem, algum personagem ou reclamaremos que tal ator/atriz não se parece com o que é descrito no livro. Cara, eu sou fã de Harry Potter e posso falar com muito conhecimento de causa que um filme baseado num livro quase sempre não supera a obra original. Mesmo quando o resultado é bem sucedido, como foi o caso de O Senhor dos Anéis, há os fãs "xaatos" (mistura de xiitas com chatos) que não compreendem que é praticamente impossível adaptar todos os capítulos, página por página da obra do Tolkien. 

Por essa razão eu não reli A Menina que ... para poder aproveitar mais a experiência cinematográfica do que ficar procurando as diferenças entre livro e filme (mas aqui no blog tenho que escrever sobre tais diferenças). Tal como o livro, o filme tem como narradora a Morte, embora era não tenha tanto tempo de cena. Minha maior preocupação era com essa personagem. Quando eu lia, imaginava a Morte criada pelo Neil Gaiman, mas ela era muito moderninha pra uma história que transcorria em 1938. Então passei a imaginar minha Morte sendo "interpretada" pela Eva Green (vai me dizer que ela não seria uma Morte perfeita?)



Uma Morte mais presente, com uma Eva Green usando um figurino vitoriano seria uma grande acerto. Mas o diretor preferiu algo mais convencional e usou apenas uma narração em off. Achei um pouco "sem sal" a narração, se não fosse para ter uma presença física da Morte, o Brian Percival poderia ter feito alguma outra coisa que a representasse  ( uma fotografia diferente, algum movimento de câmera que representasse a visão da Morte ou qualquer outro sinal que pudesse sugerir a presença dela). 

A história não sofreu nenhuma grande alteração do que há no livro: nós vemos a vida da jovem Liesel Meminger (Sophie), uma garotinha que passa a viver com os pais adotivos Hans Hubermann (Geoffrey Rush) e Rosa Hubermann (Emily Watson), durante a 2ª Guerra Mundial. Sua mãe teve que tomar essa decisão por ser comunista e fez isso para poupar a vida da filha. Como toda criança, Liesel sente falta da mãe e sofre para se adaptar a nova família (vale lembrar que ela também sente a falta do irmão mais novo, Werner, que faleceu durante uma viagem de trem). O primeiro conforto e carinho ela recebe é de Hans, interpretado pelo Geoffrey com a categoria de sempre. O ator conseguia transmitir aquela sensação boa de ser um amigo, um guardião, alguém que sabe todos os perigos e tristezas que a guerra traz, mas nunca deixa de ser otimista. Hans contrasta bastante com sua esposa, Rosa. Também magistralmente interpretada pela Emily, ela é tudo o que eu imaginei que seria, uma pessoa de aparência amargurada, mais rígida, mas que ama seu marido e sua filha adotiva de um modo bem particular. Guardada as devidas proporções, ela seria equivalente ao Severo Snape, um personagem que nos causa certa repulsa por aparentar ser alguém que vai transformar a vida do protagonista um inferno mas que nos conquista a cada momento em que mostra a sua humanidade. 



A atriz escolhida para ser a Liesel tem um futuro promissor, pois ela me convenceu. Sophie me lembrou a atriz do filme Meu Primeiro Amor, principalmente pelos grandes olhos claros. Esse olhar de curiosidade e medo me fascinou e não vi nenhum momento em que ela tenha vacilado em sua interpretação. A química dela com o Nico, que fez o seu melhor amigo Rudy, ficou excelente. Onde eles encontraram esse menino? Ele é muito carismático e tem um timing perfeito nas cenas mais leves. 


Outro que me satisfez muito foi o Ben Schnetzer (ô sobrenome difícil de escrever!), na pele do judeu refugiado Max. Hans tem uma dívida com a família de Max, porque ele foi salvo na 1ª Guerra pelo pai do rapaz. Agora Hans se vê numa situação delicada em abrigar o jovem em sua casa, escondendo-o dos nazistas. Mesmo para quem já sabe a história, o filme soube reproduzir bem essa sensação de perigo eminente que rondava a casa dos Hubermann e o modo como o povo alemão era manipulado pela propaganda nazista (talvez a arma mais perigosa por Hitler). 



É impossível não se encantar com a paixão de Liesel pelos livros e como ela os usou como um modo de refúgio de todos os males da guerra. Todas as cenas que constam no filme também estão no livro e foram representadas da forma mais fiel possível. Alguns fãs sentiram a falta de personagens como o jovem Tommy ou a passagem em que Rudy e Liesel passam roubar maçãs junto com outros jovens. Ah, eu particularmente fiquei triste em não ter aquele "delírio-sonho" de Max lutando contra Hitler, assim como não vimos o livro dado por ele à Liesel como é descrito no livro. Li algumas críticas reclamando que a intenção do diretor de transformar a história num melodrama, com cenas feitas a toque de caixa para emocionar a platéia. Eu não concordo muito. Acredito que ele foi um diretor bem correto, que não quis alterar a linha narrativa, tão pouco focou em cenas da guerra propriamente dita ( ele deu mais enfase nas consequências). A câmera era segura, sem grandes variações de posicionamento. Talvez, se essa filme caísse nas mãos de outro diretor (tipo Jim Sheridan ou Neil Jordan), ele teria uma visão mais dura e crítica sobre a guerra. Mas pra mim, o foco sempre foi a amizade entre Max e Liesel. Aliás, os momentos com as frases mais lindas eram com esses dois personagens. Uma pena que o desfecho do Max tenha sido muito rápido. Outra coisa que eu tenho que reclamar foi a cenal final, a do bombardeio. Os corpos dos personagens atingidos ficaram intactos, faltaram ferimentos e sangue. A trilha ficou a cargo de John Willians ( responsável pelas trilhas de Star Wars, Super Man, ET e praticamente todos os filme do Spielberg) e é muito tocante e lírica. 

Bom termino meu texto afirmando ter ficado muito satisfeita com o que assisti e esse filme merece nota 9.

Fiquem com um pouco da ótima trilha do grande John Willians: