quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

MGM, presta atenção aqui...

Se há uma culpada por essa minha obsessão por filmes sem sombra de dúvidas é a minha mãe. Seu programa favorito na juventude era ir aos cinemas do bairro, como o Val Paraíso e o Cine Tucuruvi (infelizmente eles não existem mais) para curtir uma boa sessão, comendo amendoim e bebericando um refrigerante Crush. Vocês devem imaginar mamãe como aqueles críticos sérios, admiradores de cinema cabeça europeu,sentada numa poltrona com uma taça de vinho tinto seco na mão. Ledo engano. Mamis é das massas e encara o cinema com muito mais paixão em vez de se prender a detalhes técnicos. Até hoje ele gosta de ver filmes de caubóis, seja com John Wayne ou Clint Eastwood,mergulhou nos olhos azuis piscinas de Paul Newman, pagou um pau gostoso para o James Dean e suspirou de amores para Rock Hudson, mesmo após saber que ele era gay. 



Mas há um gênero que minha mãe adora: os filmes épicos! Spartacus, Os 10 Mandamentos, A Queda do Império Romano, Laurence da Arábia, Sissi (tá, esse é mais histórico do propriamente um épico, mas ela também adora), Gladiador, Cruzadas... talvez porque todos esses filmes épicos despertem esse lado aventureiro dentro de nós. Assistimos a heróis em busca de justiça, passando por muitas provações, viajando ao redor do mundo, protegendo as pessoas. E no fim alcançam a glória. E as cenas tão grandiosas nos despertam as mais diversas sensações, desde euforia, tensão, adrenalina. De todos os filmes que assisti por influência da minha mãe, o meu favorito é Ben-Hur.



Essa belezinha foi filmada em 1959 por William Wyler e foi ganhadora de 11 Oscar's (só Titanic e O Senhor dos Anéis- O Retorno do Rei alcançaram esse número) e conta a história de Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um mercador e princípe judeu, e Messala (Stephen Boyd), um soldado romano amigo de infância de Ben-Hur. Messala é escolhido pelo governador para ser o oficial comandante de uma das legiões romanas e  com o passar do tempo as visões dos dois amigos divergem e eles acabam por se separar. Um episódio faz com que Messala condene Ben-Hur a viver como escravo, mesmo sabendo da inocência do ex-amigo. A trama se desenvolve paralelamente a história de Jesus Cristo, que tem aparições á la Forrest Gump (não, vocês não verão Jesus correndo dos romanos e o povo gritando "Run Jesus, run"). A película tem cerca de 3 horas de duração (ou mais, sei lá, gosto tanto que nem parece tanto tempo assim) e o que eu escrevi aqui é só a ponta do iceberg. Traições, conspirações, mensagens religiosas, uma boa dose de drama e redenção fazem parte da fórmula do sucesso estrondoso da história.O filme traz muitas reviravoltas e pode se afirmar que é superlativo em tudo: grandes cenários, longas sequências de lutas, mas um bom filme que se preze também conta com ótimas atuações. Não posso deixar citar que Ben-Hur tem A MELHOR CENA DE CORRIDA EVER DA HISTÓRIA DO CINEMA (prêmio concebido e concedido por mim, ^_^). São as 9 voltas mais tensas e eletrizantes que eu já vi. E o mais bacana: é real! Sem trilha sonora, só o barulho dos cascos dos cavalos e os estalar dos chicotes. Dou muito mais valor para filmes antigos por conta da criatividade dos diretores e todos os envolvidos para filmar uma cena sem a tecnologia que temos hoje. Obviamente não há nenhuma cena computadorizada e é aí que reside a magia do cinema, pois os diretores tiveram de quebrar a cabeça para criar algo que pudesse reproduzir tudo o que estava descrito no roteiro. Eu gosto de filmes feitos "na unha", isto é, com soluções criativas para cenas aparentemente impossíveis de serem gravadas. Nolan é um dos poucos diretores que ao gravar cenas de ação abre a mão de usar o "fundo verde". A primeira vez que eu vi Ben-Hur eu deveria ter no máximo 5 anos e lembro me muito bem de chamá-lo de Senna durante a cena da corrida.



A última vez que eu assisti ao filme foi em 15/12/2012, no canal TCM e depois disso eu fiquei obcecada por uma ideia: e se fizessem o remake de Ben-Hur? Eu escrevi isso no Facebook: "Sábado passado eu assisti ao filme Ben-Hur. E então eu tive um devaneio...E se Hollywood tivesse a audácia de refilmá-lo? É um clássico, seria heresia total realizar esse projeto, mas eu sinto tanta falta de bons filmes épicos e quando eu escrevo "filmes épicos", tô falando dos bons mesmo, e não aquelas coisas carnavalescas de 300 e Imortais. Eu escolheria o Tom Hiddleston para ser o Judah Ben-Hur, Michael Fassbender seria o Messala, Dakota Fanning para Tirza, Hellen Mirren pra Miriam e pouts, esqueci como escreve o sobrenome dela, a Keira "bláblá" dos Piratas do Caribe."


Até aí, tudo normal, né? Porém ao acessar o site Cinema com Rapadura no dia 16/01/2013, eu me deparei com uma notícia bombástica: o estúdio MGM planeja refilmar Ben-Hur! Quando li isso o meu cérebro explodiu de tal modo que não consigo descrever. Só depois de passados alguns minutos (que pareciam horas) é que cheguei a conclusão: tem algum funcionário da MGM lendo os meus posts do Facebook!!! Óbvio, senhoras e senhores! Agora vejam se o meu elenco não é dos melhores:


Charlton Heston, o Ben Hur original

Para Ben-Hur, eu escolhi o Loki  Tom Hiddleston, por acreditar que ele traria o mesmo carisma que Charlton Heston deu ao personagem. 


Ator muito versátil, faria muito bem o protagonista!


Escolhi Micheal Fassbender para ser o vilão Messala. Stephen Boyd foi o dono do papel na versão de 59 e curiosamente os dois atores tem ascendência germânica.

Stephen Boyd


Fassbender, essa cara sabe fazer um vilão como ninguém

Esther foi interpretada pela bela Haya Harareet e eu sempre cogitei a Keira Knightley. Elas até que são parecidas:





A irmã mais nova do protagonista, Tirzah cairia muito bem pra Dakota Fanning. Ela já tem uma cara de sofrida mesmo, rsrsrs. A Tirzah foi interpretada pela Cathy O'Donnel.




Olha, não é querendo me gabar, mas meu elenco não é de se jogar fora! O problema será controlar tantos egos!









quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sessões e sensações






"Moça, pode parecer redundante mas qual é a próxima sessão para As Sessões?"
"Próxima sessão  às 19h40." 

Ufa, eu pensei, consegui. Afinal eu trabalho das 10h às 18h12 e fica praticamente impossível realizar minhas fugas cinematográficas semanais. Sim, restam-me os finais de semanas porem dói mais no bolso devido aos preços mais caros e eu não conto  com a vantagem de pagar meia entrada. Além disso, "As Sessões" estreou na ultima sexta-feira em pouquíssimas salas, o que é uma pena. Por isso eu tive que agarrar a oportunidade raríssima de encontrar um cinema próximo ao meu trabalho, num horário acessível para não voltar para casa muito tarde. 

"As Sessões" conta a história real de Mark O'Brien , vitima de poliomelite que contratou uma terapeuta para perder a virgindade. Ah, vale lembrar que ele já estava com 38 anos. O roteiro do filme foi adaptado de um artigo de Mark para uma revista, contando como ele contratou a terapeuta sexual Cheryl Cohen Greene. Nos papéis principais estão John Hawkes e Helen Hunt. A atriz já é uma velha conhecida minha pois eu acompanho a carreira dela desde a série Mad About You e em filmes como "Twister", "Corrente do Bem" e "Melhor é Impossível" (o meu favorito, no qual ela ganhou o Oscar de melhor atriz). E o John Hawkes, bem nunca fomos apresentados antes. Aliás, li que ele fez uma pequena participação em "Lincoln" mas juro que não estou lembrando da cara dele no filme, passou totalmente despercebido. Em "As Sessões" o John passa o filme inteiro deitado numa maca ou dentro de um pulmão de aço (aparelho que auxilia na respiração) e ele não mexe nenhuma parte do corpo, com exceção e lógico dos músculos faciais.   



Mark é escritor e poeta, formado em Letras (*já ganhou minha simpatia) e vive apenas na companhia de seus fieis cuidadores. Engraçado notar como o ator parece ser bem mais novo do que os seus 53 anos (eu também "sofro" desse mal, hihihi) e o trabalho corporal dele ficou excelente. Pensam que e fácil atuar o tempo todo deitado? Mas não era apenas isso, era preciso ficar com o corpo todo retorcido e para isso ele ficou com uma bola de tênis nas costas durante as filmagens. Imaginem o incômodo. Esqueci de citar que Mark tinha como amigo e confidente o padre Brendan (Willian H. Macy), uma figura muito carismática e compreensiva. Ele foi um dos incentivadores de Mark para ele perder o cabaço a virgindade. E é aí que chegamos a Cheryl. Ela foi interpretada com tanta dignidade e competência que eu saí do cinema torcendo para que a Helen ganhe o Oscar de melhor atriz coadjuvante (apesar de ser quase certa a vitoria de Anne Hathaway).



O mais legal de "As Sessões", e talvez foi o fator cativante, é o fato dele ser um filme leve mesmo com um tema que apresente uma situação, bem digamos, constrangedora. O grande acerto foi tratar a adaptação como um filme de relacionamento e não uma biografia. Uma comedia bege , isté clean, elegante, ao contrário das comédias que carregam nas tintas, pois ela não se apóia em cenas esdruxulas, diálogos non-sense, esteriótipos e gags. Mark O'Brien não se faz de pobre coitado e apresenta um grande senso de auto-ironia. Disso eu entendo,visto que e antológica minha piada sobre os meus peitinhos. Explicando: minhas duas avós tiveram câncer de mama, ambas quando tinham mais de 60 anos. A minha vó paterna, a vó Lindinalva, venceu a doença mas a vó Luiza sucumbiu (tadinha, já tinha 90 anos). As chances de eu desenvolver são altíssimas mas como eu sempre digo, "meus peitos são tão pequenos, mas tão pequenos, que eu terei uma  mama no câncer e não um câncer na mama!"

Eu tive a mesma sensação de quando assisti "Um Divã para Dois", estrelado pela Meryl Streep e  Tommy Lee Jones. Não por acaso, trata-se também de uma comédia adulta com um enredo semelhante: um casal procura um terapeuta para melhorar a rotina sexual. "As Sessões" tem como outro trunfo os ótimos diálogos que arrancam o riso dos espectadores, da mesma forma que consegue emocionar sem ser piegas. Até mesmo as cenas entre a terapeuta e seu paciente durante as sessões não tem nenhum mal gosto. A nudez de Helen não é gratuita, vemos uma mulher madura, sem interferências de cirurgias plásticas e atuando com uma desenvoltura impar. Foi muito interessante ver o tema sexo sobre a ótica de uma pessoa que acreditamos ser  "um pobre coitado" ou "incapaz". Nós enterramos qualquer pessoa com necessidades especias, lançamos um olhar de dó, como se a pessoa definhasse em praça publica. Elas não se tornam inválidas, elas tem  sonhos, desejos e qualquer tipo de sentimento. As salas de cinemas são um exemplo dessa segregação, pois os cadeirantes só tem espaços na frente da sala - um péssimo lugar, diga-se de passagem. Em entrevista concedida para revista Preview, John Hawkes afirmou que "Fiquei mais atento consciente de um segmento da sociedade a que costumamos não prestar atenção. Quero dizer: "Eu vejo você". Espero que o filme tenha o mesmo efeito no público". 



Sim John, acho que vocês conseguiram.



sábado, 16 de fevereiro de 2013

Arte de viver

Em 1999, o grupo de rock australiano silverchair lançou seu terceiro álbum, Neon Ballroom. Sucesso de público e crítica, o disco confirmava o amadurecimento de seus integrantes, um trio formado por Daniel Johns (vocal e guitarra), Chris Joannou (baixo) e Ben Gillies (bateria), que no início da carreira era chamados de maneira jocosa de "Nirvana de pijamas". O quarto último single escolhido por eles, "Emotion Sickness", é o ponto de partida para esse texto. 


Essa canção conta com a participação do pianista australiano David Helfgott, cuja história virou uma ótima cinebiografia. Dirigido por Scott Hicks e lançado em 1996, o filmes Shine-Brilhante é estrelado por Noah Taylor (na primeira fase) e Geoffrey Rush (na segunda). E lá vamos nós com minhas histórias de "uma coisa leva a outra" ( o título desse texto poderia ser "De silverchair a David Helfgott"). Eu não me contento com a superfície, quanto mais eu puder saber sobre as influências das minhas bandas favoritas, filmes e livros, mais satisfeita eu fico. É um prazer que eu guardo só pra mim ( e agora divido com vocês). Há certas pessoas que não vêem graça nas coisas que eu gosto, assim eu fico denominada "a diferente". Eles preferem aquele entretenimento drive thru: viu, pegou,experimentou e esqueceu. Não entra na minha cabeça tal atitude. Cada experiência fica guardada na minha memória afetiva e nunca perco a oportunidade de rever,rever,rever, over and over again. Olha lá eu mudando os rumos do texto. Voltemos a proposta inicial. 




Apesar de eu conhecer a história da colaboração de David Helfgott com o silverchair há 14 anos, eu só fui assistir Shine domingo passado!!! Sim, aqui em casa há o dvd do filme e o mais curioso: ele não me pertence! Ele é da minha irmã mais velha, a Márcia. Questionei o motivo dela tê-lo comprado e sua resposta foi de que a doutora Isabel (a psicóloga dela) sugeriu esse filme para a terapia. Lendo a sinopse do filme dá para entender a escolha: a trama joga os holofotes na conturbada relação entre pai e filho. O pai é um opressor, um tanto quanto manipulador e que projetava no filho tudo aquilo que ele queria ser mas não conseguiu. Considerava-se um homem forte, contrastando com a aparência frágil e mirradinha do seu filho mais velho. Ele encarregava-se de ensinar David a tocar piano desde muito cedo,tornando o menino um prodígio. Ele rompeu aquela barreira de pai incentivador para tornar-se um verdadeiro controlador. 

Confesso que ao ler o resumo do filme na contra-capa do dvd eu imaginei um filme com cenas fortes, no sentido de serem violentas, mas não é bem assim. O diretor foi bem sutil, usando mais da violência psicológica do que violência física, além de gestos e expressões dos atores falarem mais do que qualquer diálogo. São atuações sucintas, pois cada ator sabia o momento certo de brilhar. E claro, como o protagonista toca piano, a trilha sonora é puro deleite. 



Vale ressaltar que Geoffrey Rush não usou nenhum dublê, ele mesmo tocou em cena. Mais do que merecido o prêmio de Oscar de melhor ator pelo papel. Se vocês não estão ligando o nome a pessoa, Geoffrey faz o Capitão Barbossa na franquia "Piratas do Caribe" e também está "O Discurso do Rei". Outra coisa boa foi eu ter redescoberto o Noah Taylor. Enquanto eu assistia ao filme, ficava esse mantra na minha cabeça, "eu já vi esse rosto,já vi esse rosto..."e záz, era verdade! Ele foi o pai do Charlie em "A Fantástica Fábrica de Chocolate" do Tim Burton, participou de "Quase Famosos" (outro filme típico da Shil). O rosto dele é de uma fragilidade impressionante, não aparentando ter 27 anos (na época em que o filme foi lançado). Ah, esqueci de mencionar: David é louco. No sentindo literal mesmo, pois a pressão do pai e sua obsessão pelo piano o enlouqueceu. No filme não fica muito bem claro de qual doença ele sofria, mas posso garantir que o Noah fez de um modo muito competente, sem carregar nas tintas. Nada de estilização da loucura. O vídeo acima deste parágrafo contem minha cena preferida, definitivamente mergulhei no filme durante sua exibição. 

E vejam só como o mundo é realmente pequeno. O Noah aparece em clipes do Nick Cave e do Blur, artistas que não saem do meu playlist. Definitivamente esse negócio de uma "uma coisa leve a outra" vai me enlouquecer.

vou confessar que já ensaiei os passinhos dessa dança, em frente ao espelho


Galeria de fotos:


Esse é o David, simpático não?

Geoffrey em cena

eu acho essa capa tão simples, mas representa tão bem a sensação de liberdade!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A minha versão era melhor

Como muitos já devem ter percebido, eu amo o Red Hot Chili Peppers! Se ainda não perceberam, então vocês só curtiram meus textos sem prestar muita atenção, rs. Enfim, eu posso afirmar que entre o final dos anos 90 e até a metade dos anos 2000 os Chili Peppers alcançaram seu segundo auge em popularidade, pois tanto a crítica especializada em música quanto os fãs aprovaram os álbuns lançados naquele período, Californication e By the Way. A maré estava tão boa para o grupo californiano que, não satisfeitos em fazer música boa, resolveram caprichar nos videoclipes. Três deles chamam muito a minha atenção: Otherside, Californication e  By the Way. Todos foram dirigidos pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris (que depois dirigiram o filme Pequena Miss Sunshine). E vale lembrar que esses clipes batiam o ponto em canais ou programas voltados ao videoclipe. 

Otherside é totalmente inspirado no cinema expressionista alemão, semelhante ao estilo gótico do filme O Cabinete do Doutor Caligari. Além disso, ele apresenta elementos de outras vanguardas européias, como o cubismo e o surrealismo. Acho super digno e criativo os "instrumentos" dos integrantes terem virados objetos de cena: a guitarra do John virou uma simples corda, Flea equilibra-se em fios de um poste e o Chad tem como bateria um relógio. Bom, eu acredito que o enredo do clipe lembre um pouco a trajetória do John, um rapaz que é levado para um hospital ou clínica e lá, após um período de abstinência ele começa a ter alucinações. Se bem que há uma cena em que o rapaz é sedado e por isso começa a ter alucinações. Huumm, então posso acreditar que ele esteja em um manicômio? Como já citei, os cenários não são meros objetos de decoração, eles ganham vida, como a estrada virando um macabro prédio em questões de segundos. 


(Uma coisa que eu ODIAVA: a galerinha cantando "Hello, hello" em vez de "how long, how long" no refrão!)


O clipe seguinte veio com uma pegada totalmente diferente, toda tecnológica. Californication era um game que eu gostaria muito que existisse. Cada integrante tinha o seu avatar no jogo e cumpria missões pela Califórnia. É um clipe cheio de detalhes, ele é daqueles que devem ser pausados a cada segundo e notar as referências (só no estúdio de Hollywood vemos Leonardo da Vinci, bastidores de um soft porn, carro de James Bond, etc). A música é uma crítica um tanto quanto melancólica para a Califórnia, com seus excessos e extravagâncias, influência de todo um mercado fonográfico e cinematográfico. Eu odiava quando "pseudos fãs" achavam que era uma canção de amor, só por ela ser uma canção lenta, tipo balada. Aff...



Por fim, a trinca fecha com By the Way, primeira faixa do álbum homônimo. Eu não acho assim o supra sumo dos videoclipes, mas me chamou a atenção que os diretores novamente foram beber na fonte cinematográfica, mas não precisaram pegar uma referência antiga. O clipe é inspirado numa sequência do filme Amores Brutos (Amores Perros), do cineasta Alejandro Gonzáles Iñarritu. Eu só soube disso quando o Flea explicou no making of exibido pela MTV. 






Bom, todos esses clipes são bacanas e é legal perceber que o artista não se preocupou em apenas vender a imagem da banda e sua música de trabalho. Aqui são exemplos bem sucedidos de boas ideias e, porque não, homenagens a tantos outros artistas que de uma forma ou outra inspiraram o grupo e/ou os diretores. 

Agora eu tenho uma história curiosa sobre o clipe que segue abaixo:



Vou fazer uma pequeno "recaptula": comecei a ser fã do RHCP em 1998 e depois do lançamento do Californication eu sofri uma overdose pepperística! Mas lembrem-se, toda minha fonte de informação era a MTV e a 89-A rádio rock. Não tínhamos ainda o Google e Youtube para sanar nossa sede de "sabedoria de boteco" e ver clipes a qualquer hora do dia. Tudo o que eu sabia a respeito dessa música era que ela fazia parte de trilha sonora de um filme, "The Coneheads". E não é que tem mesmo um cabeça de cone no clipe, sendo uma espécie de bala-humana. Bom, nem mesmo procurando em sebos as edições mais antigas da SET (revista sobre cinema) eu descobri o nome desse filme em português. Não passava no Supercine,Tela de Sucessos ou Corujão...Caramba, que raios de filme é esse? Porque, para um videoclipe tão lindo como esse, o filme deveria ser tão bom quanto. Soul to Squeeze é meu clipe predileto, junto com Otherside. Ambos tem uma pegada filme europeu - ah, sei lá, sempre achei a fotografia desse filme linda. Parece uma película antiga, com elementos cênicos perfeitos, tornando Anthony, Flea e o Chad verdadeiros integrantes de uma trupe de circo. É tudo muito crível, esse circo itinerante, os bastidores do espetáculo, aquela ideia de que todos que ali trabalhavam formavam uma grande família (incluindo os animais). Que filme maravilhoso ele seria! Eu até já tinha criado um filme à parte, me baseando nos elementos do clipe: o rapaz cabeça de cone nasceu com essa anomalia, fora abandonado pelos pais e acaba sendo adotado por um velho palhaço. Ele tenta não expô-lo para não ser ridicularizado e o menininho tenta se adaptar a esse mundo, onde ele é "o diferente'. O velho palhaço morre (não sei se de morte morrida ou morte matada) e o jovem cabeça de cone não tem opção: ou ele vai embora ou trabalha pro circo. Quem dá esse ultimato é o dono, o cara que fuma charuto lá no clipe. Ele no início faz o trabalho braçal, como recolher cocô de elefante mas depois o dono inescrupuloso o quer para estrelar o perigoso número do homem bala! Ele tem medo, é claro, mas para não parecer um fracote perante ao seu amor platônico, que é uma bailarina, ele cede a pressão. Bom, meu enredo termina por aí, depois nunca mais parei para incluir outras subtramas e personagens. 

Mas eis que é chegado o momento: eu descobri algo sobre o filme original! Na verdade, descobri praticamente tudo. Engraçado que eu nunca joguei no Google ou no Youtube o nome "The Coneheads", talvez por estar satisfeita com minha história ou então por essa curiosidade ter ficado adormecida. Um belo dia, ouvindo a Kiss FM, meu mundo caiu. Na Kiss há o RockCine, um drops em que o locutor indica um filme e na sequência toca uma música que pertence a trilha sonora. Descobri que a versão em português do filme ficou "Cônicos e Cômicos" (como assim, Brasil?) e é uma comédia estrelada pelo Dan Aykroyd (ator de Meu primeiro amor, Caças Fantasmas, Chaplin, Irmãos Cara de Pau). Ele é um bom comediante, fez parte da turma do Saturday Night Live. Porém quando fui ver o trailer e sinopse de Cônicos e Cômicos eu tive vontade de chorar! Cadê o MEU CIRCO COM ARES EUROPEU? 




Justo eu, que quero a verdade mais do que tudo, que sofro de um sincerocídio irremediável, nunca me senti TÃO FRUSTRADA ao ver a realidade! Bem-vinda à Matrix, Shil. A última vez em que eu me sentira tão mal foi quando descobri que a Vovó Mafalda era um homem! O seu filme europeu, vencedor dos maiores festivais (Oscar, Cannes, Toronto, Sundance, Globo de Ouro, SAG's Awards), se transformou numa comédia qualquer nota e bizarra. A verdade dói e tento negá-la. Esse filme nunca existiu, é um devaneio. Deixe-me encantar pelo meu circo europeu!

♫When I find my peace of mind
I'm gonna keep it until the end of time♫