terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A minha versão era melhor

Como muitos já devem ter percebido, eu amo o Red Hot Chili Peppers! Se ainda não perceberam, então vocês só curtiram meus textos sem prestar muita atenção, rs. Enfim, eu posso afirmar que entre o final dos anos 90 e até a metade dos anos 2000 os Chili Peppers alcançaram seu segundo auge em popularidade, pois tanto a crítica especializada em música quanto os fãs aprovaram os álbuns lançados naquele período, Californication e By the Way. A maré estava tão boa para o grupo californiano que, não satisfeitos em fazer música boa, resolveram caprichar nos videoclipes. Três deles chamam muito a minha atenção: Otherside, Californication e  By the Way. Todos foram dirigidos pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris (que depois dirigiram o filme Pequena Miss Sunshine). E vale lembrar que esses clipes batiam o ponto em canais ou programas voltados ao videoclipe. 

Otherside é totalmente inspirado no cinema expressionista alemão, semelhante ao estilo gótico do filme O Cabinete do Doutor Caligari. Além disso, ele apresenta elementos de outras vanguardas européias, como o cubismo e o surrealismo. Acho super digno e criativo os "instrumentos" dos integrantes terem virados objetos de cena: a guitarra do John virou uma simples corda, Flea equilibra-se em fios de um poste e o Chad tem como bateria um relógio. Bom, eu acredito que o enredo do clipe lembre um pouco a trajetória do John, um rapaz que é levado para um hospital ou clínica e lá, após um período de abstinência ele começa a ter alucinações. Se bem que há uma cena em que o rapaz é sedado e por isso começa a ter alucinações. Huumm, então posso acreditar que ele esteja em um manicômio? Como já citei, os cenários não são meros objetos de decoração, eles ganham vida, como a estrada virando um macabro prédio em questões de segundos. 


(Uma coisa que eu ODIAVA: a galerinha cantando "Hello, hello" em vez de "how long, how long" no refrão!)


O clipe seguinte veio com uma pegada totalmente diferente, toda tecnológica. Californication era um game que eu gostaria muito que existisse. Cada integrante tinha o seu avatar no jogo e cumpria missões pela Califórnia. É um clipe cheio de detalhes, ele é daqueles que devem ser pausados a cada segundo e notar as referências (só no estúdio de Hollywood vemos Leonardo da Vinci, bastidores de um soft porn, carro de James Bond, etc). A música é uma crítica um tanto quanto melancólica para a Califórnia, com seus excessos e extravagâncias, influência de todo um mercado fonográfico e cinematográfico. Eu odiava quando "pseudos fãs" achavam que era uma canção de amor, só por ela ser uma canção lenta, tipo balada. Aff...



Por fim, a trinca fecha com By the Way, primeira faixa do álbum homônimo. Eu não acho assim o supra sumo dos videoclipes, mas me chamou a atenção que os diretores novamente foram beber na fonte cinematográfica, mas não precisaram pegar uma referência antiga. O clipe é inspirado numa sequência do filme Amores Brutos (Amores Perros), do cineasta Alejandro Gonzáles Iñarritu. Eu só soube disso quando o Flea explicou no making of exibido pela MTV. 






Bom, todos esses clipes são bacanas e é legal perceber que o artista não se preocupou em apenas vender a imagem da banda e sua música de trabalho. Aqui são exemplos bem sucedidos de boas ideias e, porque não, homenagens a tantos outros artistas que de uma forma ou outra inspiraram o grupo e/ou os diretores. 

Agora eu tenho uma história curiosa sobre o clipe que segue abaixo:



Vou fazer uma pequeno "recaptula": comecei a ser fã do RHCP em 1998 e depois do lançamento do Californication eu sofri uma overdose pepperística! Mas lembrem-se, toda minha fonte de informação era a MTV e a 89-A rádio rock. Não tínhamos ainda o Google e Youtube para sanar nossa sede de "sabedoria de boteco" e ver clipes a qualquer hora do dia. Tudo o que eu sabia a respeito dessa música era que ela fazia parte de trilha sonora de um filme, "The Coneheads". E não é que tem mesmo um cabeça de cone no clipe, sendo uma espécie de bala-humana. Bom, nem mesmo procurando em sebos as edições mais antigas da SET (revista sobre cinema) eu descobri o nome desse filme em português. Não passava no Supercine,Tela de Sucessos ou Corujão...Caramba, que raios de filme é esse? Porque, para um videoclipe tão lindo como esse, o filme deveria ser tão bom quanto. Soul to Squeeze é meu clipe predileto, junto com Otherside. Ambos tem uma pegada filme europeu - ah, sei lá, sempre achei a fotografia desse filme linda. Parece uma película antiga, com elementos cênicos perfeitos, tornando Anthony, Flea e o Chad verdadeiros integrantes de uma trupe de circo. É tudo muito crível, esse circo itinerante, os bastidores do espetáculo, aquela ideia de que todos que ali trabalhavam formavam uma grande família (incluindo os animais). Que filme maravilhoso ele seria! Eu até já tinha criado um filme à parte, me baseando nos elementos do clipe: o rapaz cabeça de cone nasceu com essa anomalia, fora abandonado pelos pais e acaba sendo adotado por um velho palhaço. Ele tenta não expô-lo para não ser ridicularizado e o menininho tenta se adaptar a esse mundo, onde ele é "o diferente'. O velho palhaço morre (não sei se de morte morrida ou morte matada) e o jovem cabeça de cone não tem opção: ou ele vai embora ou trabalha pro circo. Quem dá esse ultimato é o dono, o cara que fuma charuto lá no clipe. Ele no início faz o trabalho braçal, como recolher cocô de elefante mas depois o dono inescrupuloso o quer para estrelar o perigoso número do homem bala! Ele tem medo, é claro, mas para não parecer um fracote perante ao seu amor platônico, que é uma bailarina, ele cede a pressão. Bom, meu enredo termina por aí, depois nunca mais parei para incluir outras subtramas e personagens. 

Mas eis que é chegado o momento: eu descobri algo sobre o filme original! Na verdade, descobri praticamente tudo. Engraçado que eu nunca joguei no Google ou no Youtube o nome "The Coneheads", talvez por estar satisfeita com minha história ou então por essa curiosidade ter ficado adormecida. Um belo dia, ouvindo a Kiss FM, meu mundo caiu. Na Kiss há o RockCine, um drops em que o locutor indica um filme e na sequência toca uma música que pertence a trilha sonora. Descobri que a versão em português do filme ficou "Cônicos e Cômicos" (como assim, Brasil?) e é uma comédia estrelada pelo Dan Aykroyd (ator de Meu primeiro amor, Caças Fantasmas, Chaplin, Irmãos Cara de Pau). Ele é um bom comediante, fez parte da turma do Saturday Night Live. Porém quando fui ver o trailer e sinopse de Cônicos e Cômicos eu tive vontade de chorar! Cadê o MEU CIRCO COM ARES EUROPEU? 




Justo eu, que quero a verdade mais do que tudo, que sofro de um sincerocídio irremediável, nunca me senti TÃO FRUSTRADA ao ver a realidade! Bem-vinda à Matrix, Shil. A última vez em que eu me sentira tão mal foi quando descobri que a Vovó Mafalda era um homem! O seu filme europeu, vencedor dos maiores festivais (Oscar, Cannes, Toronto, Sundance, Globo de Ouro, SAG's Awards), se transformou numa comédia qualquer nota e bizarra. A verdade dói e tento negá-la. Esse filme nunca existiu, é um devaneio. Deixe-me encantar pelo meu circo europeu!

♫When I find my peace of mind
I'm gonna keep it until the end of time♫

3 comentários:

Pâmela Rodrigues disse...

Adorei a análise dos clipes, shil! Tipo, curti bastante o do Otherside. Tava tentando imaginar como seria não ter contato a tanta informação de uma banda que eu gostasse muito, mas não consegui entender a dimensão disso rs. Como em As Vantagens de Ser Invisível, quando a Sam tenta achar A Música em que eles se sentem infinitos, devia ser bem "chatinho" isso, mas a qualidade das músicas era bem melhor que atualmente (não preciso ser uma conhecedora-mor pra saber disso rsrsrs).
Não conhecia quase nada a respeito disso tudo o que você postou, portanto, pra mim foi super útil. Parabéns! Beijos da pam :D

Anônimo disse...

Pois eh Shil! O filme eh decepcionante. hehe. Mas achei muito rico essas informações. Adoro Otherside, para mim este video é artístico! Lembra Bjork. ^^. E Californication eh tipo um GTA pirateado q nem o GTA dos Simpsons! =). Adoro RHCP! Teve muita infuencia em mim qndo comecei a sair de casa! =)).

Bruh! ^^

Shil disse...

Valeu gente...
Muitos diretores de videoclipes acabaram se tornando ótimos diretores de filmes. Logo logo eu vou postar algo sobre esse tema. Ah, e no fim de semana sairá o post sobre meu 5º livro lido no meu desafio.