quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Sessões e sensações






"Moça, pode parecer redundante mas qual é a próxima sessão para As Sessões?"
"Próxima sessão  às 19h40." 

Ufa, eu pensei, consegui. Afinal eu trabalho das 10h às 18h12 e fica praticamente impossível realizar minhas fugas cinematográficas semanais. Sim, restam-me os finais de semanas porem dói mais no bolso devido aos preços mais caros e eu não conto  com a vantagem de pagar meia entrada. Além disso, "As Sessões" estreou na ultima sexta-feira em pouquíssimas salas, o que é uma pena. Por isso eu tive que agarrar a oportunidade raríssima de encontrar um cinema próximo ao meu trabalho, num horário acessível para não voltar para casa muito tarde. 

"As Sessões" conta a história real de Mark O'Brien , vitima de poliomelite que contratou uma terapeuta para perder a virgindade. Ah, vale lembrar que ele já estava com 38 anos. O roteiro do filme foi adaptado de um artigo de Mark para uma revista, contando como ele contratou a terapeuta sexual Cheryl Cohen Greene. Nos papéis principais estão John Hawkes e Helen Hunt. A atriz já é uma velha conhecida minha pois eu acompanho a carreira dela desde a série Mad About You e em filmes como "Twister", "Corrente do Bem" e "Melhor é Impossível" (o meu favorito, no qual ela ganhou o Oscar de melhor atriz). E o John Hawkes, bem nunca fomos apresentados antes. Aliás, li que ele fez uma pequena participação em "Lincoln" mas juro que não estou lembrando da cara dele no filme, passou totalmente despercebido. Em "As Sessões" o John passa o filme inteiro deitado numa maca ou dentro de um pulmão de aço (aparelho que auxilia na respiração) e ele não mexe nenhuma parte do corpo, com exceção e lógico dos músculos faciais.   



Mark é escritor e poeta, formado em Letras (*já ganhou minha simpatia) e vive apenas na companhia de seus fieis cuidadores. Engraçado notar como o ator parece ser bem mais novo do que os seus 53 anos (eu também "sofro" desse mal, hihihi) e o trabalho corporal dele ficou excelente. Pensam que e fácil atuar o tempo todo deitado? Mas não era apenas isso, era preciso ficar com o corpo todo retorcido e para isso ele ficou com uma bola de tênis nas costas durante as filmagens. Imaginem o incômodo. Esqueci de citar que Mark tinha como amigo e confidente o padre Brendan (Willian H. Macy), uma figura muito carismática e compreensiva. Ele foi um dos incentivadores de Mark para ele perder o cabaço a virgindade. E é aí que chegamos a Cheryl. Ela foi interpretada com tanta dignidade e competência que eu saí do cinema torcendo para que a Helen ganhe o Oscar de melhor atriz coadjuvante (apesar de ser quase certa a vitoria de Anne Hathaway).



O mais legal de "As Sessões", e talvez foi o fator cativante, é o fato dele ser um filme leve mesmo com um tema que apresente uma situação, bem digamos, constrangedora. O grande acerto foi tratar a adaptação como um filme de relacionamento e não uma biografia. Uma comedia bege , isté clean, elegante, ao contrário das comédias que carregam nas tintas, pois ela não se apóia em cenas esdruxulas, diálogos non-sense, esteriótipos e gags. Mark O'Brien não se faz de pobre coitado e apresenta um grande senso de auto-ironia. Disso eu entendo,visto que e antológica minha piada sobre os meus peitinhos. Explicando: minhas duas avós tiveram câncer de mama, ambas quando tinham mais de 60 anos. A minha vó paterna, a vó Lindinalva, venceu a doença mas a vó Luiza sucumbiu (tadinha, já tinha 90 anos). As chances de eu desenvolver são altíssimas mas como eu sempre digo, "meus peitos são tão pequenos, mas tão pequenos, que eu terei uma  mama no câncer e não um câncer na mama!"

Eu tive a mesma sensação de quando assisti "Um Divã para Dois", estrelado pela Meryl Streep e  Tommy Lee Jones. Não por acaso, trata-se também de uma comédia adulta com um enredo semelhante: um casal procura um terapeuta para melhorar a rotina sexual. "As Sessões" tem como outro trunfo os ótimos diálogos que arrancam o riso dos espectadores, da mesma forma que consegue emocionar sem ser piegas. Até mesmo as cenas entre a terapeuta e seu paciente durante as sessões não tem nenhum mal gosto. A nudez de Helen não é gratuita, vemos uma mulher madura, sem interferências de cirurgias plásticas e atuando com uma desenvoltura impar. Foi muito interessante ver o tema sexo sobre a ótica de uma pessoa que acreditamos ser  "um pobre coitado" ou "incapaz". Nós enterramos qualquer pessoa com necessidades especias, lançamos um olhar de dó, como se a pessoa definhasse em praça publica. Elas não se tornam inválidas, elas tem  sonhos, desejos e qualquer tipo de sentimento. As salas de cinemas são um exemplo dessa segregação, pois os cadeirantes só tem espaços na frente da sala - um péssimo lugar, diga-se de passagem. Em entrevista concedida para revista Preview, John Hawkes afirmou que "Fiquei mais atento consciente de um segmento da sociedade a que costumamos não prestar atenção. Quero dizer: "Eu vejo você". Espero que o filme tenha o mesmo efeito no público". 



Sim John, acho que vocês conseguiram.



8 comentários:

Pâmela Rodrigues disse...

Mano, ótimo post, como sempre =D
O legal é que você fala sobre o filme sem contá-lo exatamente, fazendo com que nasça a vontade da gente conhecê-lo e isso é muito bacana rs :)
Beijos e abraços da pam e eu aposto que esse filme não tem em Marília ><

Unknown disse...

Brisando em um assunto q o filme e texto levanta...eu acho bacana estes personagens q são virgens e não são menores de idade. ^^. As vezes nos vemos em situações q parece q fomos empurrados, exemplo, confesso q é muito diferente saber de alguém relativamente adulto q é virgem, mas afinal, ql é o problema nisso? Acredito q naturalmente somos empurrados para esse conceito de q é ridículo ou humilhante ser virgem em uma determinada idade, mas... e os valores da pessoa? os sonhos, os desejos??? é algo q fica para trás qndo pensamos dessa forma. Lembra Shil, qndo nós fomos a exposição de Arte da Tapeçaria e a exposição de Fundição Artística no Brasil? Q conversamos sobre esse lance de q qndo somos crianças, nos divertimos com varias coisas e depois q envelhecemos percebemos q os adultos só falam em sexo, pensam sexo, objetivam sexo e tudo no fim da em sexa na sua grande maioria. ^^. Adorei o post! Quero assistir o filme tbm! hehe.

Unknown disse...

Sexa! kkkkkkkkkkkk!

Shil disse...

O jeito eh esperar quando sair o dvd. Acredito q vc vai gostar . E sim, preferi não revelar muito do enredo, como descrever alguma cena em específico. Mas eu ia por o trailer e acabei esquecendo u.u

Shil disse...

Bruno, pior eh quando nos mesmos vamos rever algo da nossa infância e conseguimos ter malícia, não conseguirmos ver pela ótica de uma criança.

Shil disse...

O jeito eh esperar quando sair o dvd. Acredito q vc vai gostar . E sim, preferi não revelar muito do enredo, como descrever alguma cena em específico. Mas eu ia por o trailer e acabei esquecendo u.u

Unknown disse...

Fato! ^^. POr isso q acho bacana filmes q mechem com esse tema! hehe. Vou ver se consigo fazer Download! =)

Paula Dantas disse...

Não tinha ainda lido a sinopse do filme, fiquei obcecada em ver todos os filmes concorrendo a melhor filme que ignorei os outros!

Mas, achei muito interessante! Será que ainda tá passando?? Vou tentar ver!

Ótimo texto =))