quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ela é a fera, ela é a Bela


De todas as princesas Disney, a Bela sempre foi a minha favorita. Não seria exagero afirma que  "A Bela e a Fera" é o desenho mais visto por mim, superando até "O Rei Leão". Infelizmente não tive a chance de assisti-los no cinema. Faço um esforço danado para me lembrar a razão pela qual pedi de presente o VHS d'A Bela e a Fera. Todo esse fascínio começou na época do lançamento da animação, em 1992 (Shilzinha com 6 anos). Logicamente eu não era essa cine-nerd-rock que sou hoje em dia. Mas já tinha bom gosto desde pequena. Juro não me recordar de ser bombardeada por propagandas do filme, mas apenas de uma reportagem do Jornal Hoje. O motivo de A Bela e a Fera chamar tanta atenção foi a sua indicação ao Oscar® de Melhor Filme. Aquilo foi um fato inédito na história da Academy Awards. Anos mais tarde foi criada uma categoria para que as animações concorressem (prêmio de melhor Animação) e o primeiro vencedor foi Shrek, da Dreamworks. Procurando Nemo, Os Incríveis, Happy Feet, Wall•e, Toy Story, Rango foram alguns dos vencedores. Todos eles estão na minha lista de favoritos, mas nada se compara ao frisson que A Bela e a Fera causou na minha infância.

Realmente tô fazendo uma viagem no tempo para me lembrar em qual ocasião eu ganhei de 
presente o VHS. Dia das crianças ou natal? Só sei que fiquei muito orgulhosa. Junto com a fita veio um livro, que basicamente contava a  mesma história. Se eu ia para casa da Li ou pra casa do meu pai, levava juntos o VHS e o livro. Outra oportunidade de assistir ao filme era quando tinha horário político. Sempre eu e o meu sobrinho Thiago (na época com pouco mais de 2 anos) pedíamos pra ver. E o Thi, tadinho, acabava dormindo no meio da exibição e por um bom tempo ficou sem saber o final da história.

Resumindo a história, a Disney fez a seguinte versão: um jovem príncipe vivia em seu castelo (só poderia ser num castelo, né? Imaginou ele vivendo numa casinha de sapê?!), contando apenas com a presença de seus subalternos. Numa noite de tempestade, uma velha mendiga bate a sua porta, pedindo abrigo e comida. Em troca ela oferecia uma rosa. O príncipe ficou horrorizado com a feiura da velha e a expulsou. Mas ela era uma feiticeira e acabou jogando um feitiço no príncipe e em todos os moradores do castelo: ele se transformou numa horrível Fera e os empregados em objetos. Somente se ele aprendesse a amar e fosse retribuído, o feitiço se acabaria. Caso contrário, ele permaneceria Fera para sempre. O filme dá um salto no tempo e conhecemo a jovem Bela, filha única de Maurice, um velho inventor,e que vivia numa vila na França. Ele participará de uma feira de invenções, porém ele acaba se perdendo no caminho e acaba procurando abrigo em um horripilante castelo. Lá acaba tornando se prisioneiro da Fera e cabe a Bela libertar o seu pai, oferecendo-se como prisioneira. Em suma, é isso (confesso que o calor de 36º me impendem de detalhar mais o filme, a preguiça só aumenta e tô quase vendo miragens na minha frente! Vão pro Google!).

No alto dos meus 6 anos o que me chamava atenção era a mensagem de nunca julgar as pessoas pela aparência (muito antes de ver uma animação de um certo ogro verde). Claro que o alívio cômico por parte dos objetos-empregados do castelo e os números musicais me encantavam. Mas conforme eu ia crescendo (entendam: amadurecendo), eu prestava atenção a novas nuances. O diálogo abaixo já nos entrega todo o perfil da personagem:

-Papai, o senhor  me acha estranha?
-Minha filha, estranha? Onde você ouviu uma coisa dessas?
- ah, não sei, é que me sinto tão só, não tenho ninguém pra conversar...
-E o que me diz do Gaston? Ele é um rapaz bonito....
-É, é bonito sim e rude e convencido, não papai, ele não é pra mim.

Logo de cara percebemos que ela tem personalidade. No primeiro musical, os moradores da vila cantam que "O nome dela quer dizer beleza, especial é essa donzela/Mas por tras dessa fachada, ela é muito fechada/Ela é metida a inteligente/ Não se parece com a gente/Se há uma moça diferente é Bela"


Rola uma identificação total agora por notar a paixão da Bela pelos livros e suas visitas a biblioteca. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Ela torna-se o oposto do que espera o Gaston. Isso fica mais evidente na cena em que o brutamontes joga o livro da nossa heroína na lama:

-Não é direito uma mulher ler...logo ela começa a ter a ideias, a pensar...
-Ora Gaston, você é um homem muito primitivo...
-Ah, obrigado Bela. 

Em outro momento, ao tentar pedir a mão de Bela em casamento, Gaston mostra qual é o papel da mulher na sua restrita visão de mundo:

-Imagine uma cabaninha rústica, a minha última caça assando, a esposinha massageando meu pés...as crianças correndo pela casa, brincando com os cães. Teremos 6 ou 7 (filhos). 

Mas a Bela sempre deixou claro que quer mais do que a vida do interior. Ela prezava por sua 
liberdade. Tanto que após o fora que ela dá em Gaston, acontece um dos meus momentos favoritos do filme, quando ela sai de casa indignada e cantando:

"Madame Gaston
Casar com ele
Madame Gaston
mas que horror
jamais serei esposa dele
Eu quero mais que a vida do interior
Eu quero viver num mundo bem mais amplo
Com coisas lindas paraver
E o que mais desejo ter
É alguem pra me entender
E é por isso que tenho tantas coisas pra dizer!"

Todas as minhas amigas puxam a sardinha pro lado da Ariel ( a Pequena Sereia). Sim, ambas querem conhecer o mundo, tem sede de conhecimento e aventuras, mas a Ariel está mais para uma adolescente rebelde confrontando as ordens do pai, disposta a mudar sua própria natureza  e abrir a mão de sua voz para conquistar o seu príncipe encantado. A Bela já faz um esforço maior e mais digno: ela troca sua liberdade pela do pai. Ela enfrenta a Fera de igual para igual e num momento de compaixão ajuda a Fera, após ter sido resgatada de um ataque de lobos. É nisso que a Bela ganha pontos. Ela nutre aquilo que podemos chamar de amor por um ser de aparência bestial, não é aquele lance de amor à primeira vista pelo príncipe encantado. Ali, o envolvimento dela com a Fera demonstra carinho e respeito. Mas aí vem um engraçadinho insinuando que rola uma zoofilia na parada! Por favor não destruam minha infância.Hoje eu vejo a Fera como uma representação mais animalesca do ser humano. A sua agressividade, força física, falta de controle. Mesmo assim o amor surge entre os dois. Tanto que uma das cenas mais lindas ( e melancólica) é após o baile, quando a Fera liberta a sua amada para que ela vá buscar o pai perdido na floresta. O verdadeiro amor liberta. O que Gaston queria era ter Bela como mais um de seus troféus. Ele nunca a amou.

"Desde o primeiro dia em que a vi eu disse, não há ninguém igual a ela/eu vi logo 
que ela tinha a beleza igual a minha e por isso eu quero casar com ela"

Gaston a considerava a melhor e para ele nada mais natural que casar com a melhor. Tão narcisista que ele se via ao observar a Bela (eu vi logo que ela tinha a beleza igual a minha). Isso é o desejo, a possessividade. Não é genial observar esses pequenos detalhes em uma animação? É tão rica, mais do que muito filme "sério" lançado atualmente. 


É chegada a minha hora de viver num mundo mais amplo. 




Nota da autora: o título do texto foi tirado da música "Foi ela", de Sergio Sampaio cantada na voz de Silvia Machete

Nota da autora 2: esse texto foi ruminado durante a semana inteira, antes da notícia bombástica da compra da Lucasfilm pela Disney. Portanto a Bela passa a ser a minha segunda princesa Disney favorita. O primeiro lugar sempre será da princesa Léia, porque ela tem o melhor príncipe e o melhor pai!


♫Sugestão de trilha sonora:


4 comentários:

Unknown disse...

Eu adoro a Bela também. Ela é uma das minhas favoritas. Independente, não se deixando levar por questões de aparência ou também por questões de influência. Foi corajosa até o fim e ficou do lado de quem merecia.
Porém minha princesa favorita é a Mulan, ela possui essas mesmas características só que conseguiu ir além do seu papel definido pela sua comunidade e conseguiu defender a honra de sua família, salvar seu país, trazer mais liberdade para as mulheres e etc.
O seu casamento com o general foi só um adendo, ela se esforçou com os outros sem tratamento especial do seu "príncipe".
Mas isso pode ficar para outros posts não é Shil? rs O foco é a Bela e adorei sua redação sobre ela!
Beijos e que sua inspiração nunca cesse!

Paula disse...

Concordo plenamente com tudo! A Bela sempre foi a melhor das princesas! Talvez seja tudo muito clichê, com uma mensagem pronta, mas eu acredito que clichês são clichês simplesmente por serem verdade.
A Bela consegue resgatar da Fera o que ele nem lembrava mais que tinha, um Adam dentro dele (assumo que tive que pesquisar o nome da Fera, acho que eu nunca soube, hahahaha)! Além de todos os clichês relacionados a Bela, tem mais esse clichê da Fera, o de que ele acabou acreditando no que os outros diziam dele. Precisou ir a Bela pra mostrar pra ele mesmo quem ele era!

Ótimo texto, Shil!! Arrasou! Beijos!n

Shil disse...

obrigada pelas comentários! se eu pudesse eu faria um texto gigantesco e ainda sim acharia insuficiente para falar da Bela e da Fera! Ela e a Ariel foram as primeiras princesas Disney a sair daquele conceito de princesas que ficam fazendo tarefas domésticas (hello Branca de Neve, Aurora e Cinderela). Mas a Ariel pra mim é uma adolescente...a Bela eu já a vejo como uma jovem mulher (se eu pudesse dar uma idade pra ela seria lá uns 23 ou 24 no máximo). Os comentários de vc's foram super pertinentes! Obrigada novamente!

Shil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.