quinta-feira, 7 de junho de 2012

Why, so?!



Tal qual a música Pé, lindamente interpretada pela Silvia Machete, eu também morri um pouquinho na minha carioquice. Mas o que isso significa, você deve estar se perguntando. Carioquice pra mim é ter aquela malemolência, catchiguria, jeito um tanto malandro, um tanto leve de viver a vida, saber aproveitar o momento, mesmo que ele seja curtinho. É ter aquele sorriso escancarado, de mostrar todos os dentes, o olhar lânguido, um tanto pidão, um tanto safado. É até falar com o "s" chiado para dar um charminho. É se sentir gostosa pra caramba. Mas como afirmei no início do texto, minha carioquice já teve até missa de sétimo dia. Rest in peace. 

Não que a paulistanidade seja ruim, longe disso. A paulistana é uma mulher camuflada nesse cinza-concreto, mas uma rosa dentro dela teima em florescer. Se no meio do caminho há pedras, tratamos de arremessá-las para bem longe. O problema está quando não há mais forças para tanta pedra. Minha paulistanidade me esconde em vários tons de cinza e me faz sentir uma vertigem por tanta gente ao meu redor. Tentei acompanhar o ritmo das pessoas, passos curtos e rápidos, impessoalidade transbordando aqui e acolá,esbarrões, apertos, trabalho, desconfianças e cobrança. Fiquei neurótica com meu próprio celular a ponto de deixa-lo desligado durante o fim de semana inteirinho. Há a sensação de que uma nuvem negra paira sobre minha cabeça. Por mais otimista que eu tentasse ser, não dava, não soava natural. 

A minha saída foi criar um novo estado, a mineirice,sô! Exalar a mineirice não é ser come-quieta; antes de tudo é ser discreta. Nada de fazer o alarde da carioquice, onde a vida é o aqui e o agora, e andar é o mesmo que desfilar numa Marquês de Sapucaí. Também não é usar um salto 15, batom, maquiagem, ter smarphone, tablet e a urgência de estar conectada com todas as novidades do momento que a paulistanidade nos impõe. A mineirice me deixa mais calma, por que nada é para ontem. Me torna mais doce, como um doce de mamão caseiro. É pensar muito, ouvir muito e falar o necessário. É se satisfazer com as coisas mais simples do mundo. Uma manhã com cheiro de café feito na hora passado no coador de pano (nada de capuccino, frapeccino ou qualquer ccino feitona Starbuck). Ou uma conversa com sabor de pão de queijo quentinho, com direito a passar manteiga Avião e ela derretar entre o pão (huuuummm). Ter vários amigos com opiniões diferentes e mesmo assim ser uma combinação perfeita, igual goiabada com queijo branco. Reparei que os autores dos dois últimos livros que tive o prazer de ler são mineiros. O primeiro é Alberto Villas, responsável pelo "Admirável Mundo Velho!". Ele escreve vários causos e resgata muitas expressões do arco da velha, do tempo da onça. São textos bem descritivos, não tão preocupado em narrar uma história, mas por meio das expressões antigas resgatar um passado tão mais lírico e mágico. Como o Fábio Altman escreveu na orelha do livro, "o memorialismo lúdico, porque lembrar é como brincar". Salvo o engano, eu tenho essa maravilha desde 2009. Decidi reler para ver se o encanto da primeira leitura permanecia. Sim, queridos, mesmo gostinho do pão de queijo saindo do forno! O mais recente é do ex-jogador Tostão. Ele foi jogador da Seleção campeã em 70 e do Cruzeiro, depois se formou em medicina e é cronista esportivo. Minha admiração pelo futebol cresceu graças aos textos dele na Folha de São Paulo (ao lado de outros jornalistas/cronistas, como Rodrigo Bueno, José Roberto Torero, Juca Kfouri). O livro dele, "A perfeição não existe - paixão do futebol por um craque da crônica" é uma compilação dos textos dele escritos para a Folha, de 1999 até os mais recentes. Você, jovenzinho, amante do futebol, largue o joystick e deixe o Playstation de lado e leia o livro do mestre Tostão, vale a experiência!

Engraçado que só após chegar em casa que me dei conta que estava lendo outro livro de um autor mineiro. Adoro as coincidências. Vou continuar com minhas mineirices e tentar ser tão doce quanto um docinho de leite! Inté! 

Dedicado ao pseudo-mineira de Garça, Pâmela Rodrigues e ao mineiro mais paulistano 

que conheço, Ráfaga!

2 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo!!! :D Eu sou o Mineiro mais paulistano que você conhece mas acho que eu soube manter bem la dentro o mineiro em mim... Espero que essa jornada de aprendizado em que estamos possa nos agraciar bem mais!!!

Pâmela Rodrigues disse...

Shil!!!!! Que lindo texto, velho!!! Amei a linguagem que você utiliza, valeu pela dedicatória e parabéns, você escreve muiiiiiiito!!! Continue postando amiga!!! Beijos da pam x)