domingo, 13 de setembro de 2009

Profissão Perigo

   Acho que eu já comentei aqui no blog sobre a minha profissão: operadora de telemarketing. Ela gera uma relação de amor e ódio entre as pessoas. Algumas são solidárias e entendem o quanto é estressante esse trabalho e também comentam sobre a desvalorização do funcionário. Outras logo demonstram a sua hostilidade por nos considerarem um bando de incompetentes que só sabem ficar com a bunda na cadeira e ouvindo ligações. Pensam que isso não é trabalhar. Cada grupo tem um pouco de razão.
   Minha aventura nesse setor começou em Novembro de 2006, ao ler o seguinte anúncio: "Atendente de telemarketing receptivo, com ou sem experiência,ensino médio completo. Entregar cv na 12 de Outubro,nº xx,Lapa". Era perfeito porque eu conhecia bem a região para levar o currículo,não exigia experiência e sempre me falavam que o receptivo era mais fácil do que o ativo. Bom, fui até a agência, fiz 2 entrevistas, uma dinâmica e passei a 1ª fase. A 2ª foi na própria empresa e fiquei frente a frente com a coordenadora do produto (era uma vaga para trabalhar no atendimento a clientes de cartão de crédito). Apesar do nervosismo, passei!
   Através dessa experiência eu consegui superar muitos obstáculos criados por mim: medo de falar em público, não conseguir expor minhas idéias (por achar que ninguém ligaria para elas), consegui assumir uma grande responsabilidade. Passada a euforia de conseguir vaga é que percebemos os prós e os contras de um emprego. A empresa que presto serviço é considerada uma das melhores, é comum estar entre o top 5 do setor de call center. O todo poderoso de lá já foi capa da revista Exame, entre outras e tem sites espalhados por todo o Brasil. Mesmo assim não há quem reclame da estrutura do local. É muito ruim quando entramos num lugar em que as cadeiras estão quebradas ( ou são as rodinhas, ou então elas não se ajustam a sua altura), as PA's também se encontram essa situação, as caixinhas ficam mudas ou falhando e um supervisor leva dias para solicitar o conserto delas. Recentemente em Agosto ocorreu um incêndio no mezzanino. Nós apenas soubemos disso devido ao forte cheiro de fumaça porque o alarme NÃO funcionou. Ainda bem que não teve feridos mas como pode uma empresa de grande porte cometer uma falha dessas? Lá também não podemos esquentar a comida que trazemos de casa, os microondas só podem ser usados para esquentar aqueles lanchinhos horríveis da Toketake. Não temos direito a uma alimentação completa e saudável. Os banheiros se encontram em um estado preocupante: algumas portas não fecham, faltam papéis para secar as mãos. Tudo isso somado ao sistema que cai a todo instante; depois não é de se estranhar que nós ficamos estressados. As pessoas colaboram na nossa via crucis, a começar quando somos supervisionados por alguém que sabe menos do que a gente. O que tem de supervisor que NÃO quer falar com o cliente ou simplesmente derruba a ligação quando transferimos para o ramal dele! Sim digníssimos leitores, eles fazem isso! O pior é quando ocorre uma reestruturação na qual a maioria de procedimentos são alterados. As informações são vomitadas em vez de agendarem um novo treinamento e a probabilidade de dar merda é de 100%. Os prejudicados serão os clientes, que não terão suas dúvidas esclarecidas, e também nós porque esse desencontro de procedimentos vai gerar rechamadas e até reclamações.Se vocês acham que isso já é ruim, calma porque tem mais. Não bastasse o que eu já escrevi, temos também o acréscimo de muitos colegas de trabalho que só querem ver o circo pegar fogo. Pessoas sem responsabilidade e comprometimento, que não trabalham em equipe e - pasmem - fazem de tudo por lá, menos trabalhar. Fazem de tudo para não logar no horário, deixam cliente esperando por minutos e transferem a torto e a direito para qualquer setor, tudo para ficar fofocando na operação. Enquanto isso eu fico com fama de chata e arrogante por não expor minha vida pessoal, por ser uma pessoa mais discreta. Costumo dizer sem medo nenhum que no trabalho eu não tenho amigos mas sim colegas de trabalho. São pessoas tão diferentes de mim, com outras idéias, outra visão de mundo, outros gostos e que não respeitam quem é diferente! Eu até tento um diálogo mas é quase uma missão impossível. As poucas pessoas com quem converso são geralmente mais velhas que eu. Então é fácil perceber o porquê de eu me encontrar em um estado de esgotamento, sem perspectivas, sem vontade de levantar da cama para seguir rumo ao trabalho. É um cansaço físico e mental. Por hoje eu fico por aqui, nos próximos dias eu vou dedicar um espaço apenas para as pérolas que sou obrigada a ouvir de certos clientes. Aí sim vocês perceberão que a vida de um operador de telemarketing não é fácil.

2 comentários:

Flameskin disse...

Por que ainda tá lá? Você é inteligente, devia procurar outro emprego.

E sabe que eu suspeito que ano que vem vou ter o mesmo emprego? Tem uma empresa pertinho daqui que tá contratando de montão... Por mixaria, mas tá... Bom, sei lá.

E eu tô no aguardo dessas histórias aí, devem ser "boas" pérolas. :P

Shil disse...

aguarde, algumas são hilárias!!! value por ter gostado da história de hoje