terça-feira, 8 de janeiro de 2013

De quem é a culpa?


Queridos leitores,

Comecei a ler Precisamos Falar sobre o Kevin no dia 16/12/2012 e só terminei a leitura na sexta-feira passada. A demora deve-se ao fato de eu não ter o livro em mãos, mas sim salvo em PDF. Confesso que acho muito sem graça não o ter em mãos para cheirá-lo, folhear despretenciosamente as páginas, levar para qualquer canto, ler na hora de dormir. Não, não tenho laptop ou teibout*, o que me obriga a sentar a bunda na cadeira e ficar no meu quarto lendo a história de Kevin em frente ao pc. Sempre às 18 horas em ponto eu dava início a leitura, mas muitas vezes ela era interrompida devido às fortes tempestades de verão (morro de medo que um aparelho queime devido a um raio). Fora isso, eu estava bastante empolgada em ler o título em questão porque seria uma história inédita para mim. Eu já tinha conhecimento da adaptação de Kevin nos cinemas, filme que eu ainda não tive a oportunidade de ver. Ele estreou aqui no início do ano passado e li boas críticas a respeito dele. Sei que os personagens principais ficaram com a Tilda Swinton interpretando Eva e Ezra Miller, no papel do Kevin. 


Lógico que eu utilizei da imagem deles ao ler a obra. Isso não prejudicou o poder da imaginação, aliás eu acredito que Lionel Shriver, ao escrever a história, lá no fundo desejava que seu filme pudesse ser adaptado. A minha colega facebookiana Paula Dantas me alertou que o livro poderia me deixar down pela história em si e isso só aguçou a minha curiosidade. Aliás, a Paula não gostou muito do filme não... Segue o trailer para servir de aperitivo:



Sobre o Livro



Essa capa me deixa com arrepios, macabra, né?  Eu resolvi ler o livro sem pesquisar nada na internet, não quis saber em que ano foi lançado, não li nada a respeito do autor e a repercussão que a história causou. Só sabia apenas que Kevin foi responsável pelo assassinato frio e à queima roupa de alunos da escola onde estudava. Ele tinha apenas 15 anos e Eva sempre se refere ao dia da tragédia como aquela quinta-feira. Os fatos são narrados por Eva através de cartas destinadas ao ex-marido (isso fica subentendido), Richard. Curioso, este é o segundo livro narrado por uma personagem feminina em forma de depoimentos. A diferença é que esse é um livro totalmente ficcional, embora seja ambientado num período e lugares não tão distantes do nosso: EUA em pleno no ano 2001. Eva comunica-se com o ex e vai nos apresentados os fatos em flashbacks, desde a infância do pequeno Kevin até o dia do massacre. Eu considerei esse início um pouco tedioso e lento. O vocabulário era um tanto rebuscado, me forçando a pedir ajuda ao dicionário. Acredite ou não, isso deixava a leitura truncada. Eu tinha uma certa urgência em saber logo quem era Kevin e o que o motivou a fazer aquela barbaridade; mas Eva ia pouco a pouco preparando o terreno, nos mostrando todo o cenário da sua vida pré-Kevin. Eva Khatchadourian nasceu em 1945, filha de pais armênios. Seu pai morreu na guerra e sua mãe sofria de agorafobia (medo de lugares públicos). Ela é apresentada, ou melhor, se descreve como uma mulher independente. Trabalhava numa agência de viagens, visitando os países para fazer um relatório completo sobre as condições do local e assim poder criar guias para os turistas. Ela deixava bem claro sua satisfação em relação ao trabalho. Já o seu marido, Richard, era um estado-unidense típico, o cara born in the USA que ama o seu país embora não seja lá um cara ruim, mas que acreditava no american way of life. Eles tinham uma vida muito boa, regadas a festas com amigos, cumplicidade e possuíam boa sintonia na cama. Ela já dava indícios que não teria propensão para ser mãe; eu pelo menos entendi que ela não sentia o cio materno. Logo parei para refletir sobre essa necessidade que muitas mulheres criam de ser mães. Ou melhor explicando, esse fardo, essa obrigatoriedade que para ser feliz toda mulher deve casar e ter filhos. Não tem jeito, quando um casal acaba de descer no altar, a primeira pergunta feita à mulher é "e quando vão providenciar um filhinho?". Casais podem ser felizes sem filhos. Aliás, existem pessoas que não tem o menor tato com crianças. A biologia pode afirmar que exista o instinto em perpetuar a espécie, que há um momento em que toda mulher sente a necessidade em gerar filhos, mas isso  é generalizar. Talvez eu seja muito rabugenta e pessimista pois eu não tenho nenhum exemplo positivo de maternidade. Muitos consideram o ato de ter filhos como uma consequência natural do amor de um casal apaixonado. Mas filho pra mim seria sinônimo de planejamento e investimento. Aí sim os meus genes gritariam para perpetuar a espécie. Porém, tanto na minha família e alguns conhecidos, o que eu vejo é uma sucessão de gravidez não planejadas. Claro que não vou entrar no mérito se em todos os casos a 'camisinha estourou' ou se eles pura e simplesmente transaram sem proteção, acontece que a notícia da chegada de um bebê foi assim, no susto. Sabe quantos casais permaneceram juntos após o nascimento do bebê? Só dois, mas um está pela corda bamba pela infantilidade da mãe. Engraçado, no final do mês eu me desentendi com minha mãe porque ela mentiu pra mim, em prol da sua outra filha. Considerei a atitude delas como de hipócritas e outra irmã veio tomar as dores da minha mãe, afirmando que "não admitia que chamassem a mãe de hipócrita, mãe é um ser supremo e imaculado, sagrado, acima do bem e do mal". Mães, na minha opinião, são passíveis de erros, falham na tentativa em "evitar conflitos'" usando da mentira e manipulando os filhos. Sim, minha mãe fez isso. Nada que uma conversa resolva mas ainda sim, pais (eles também, se não vocês vão achar que meu problema é só com as mães) e mães são passíveis de muitos erros. Também eu lembrei da conversa que tive com a Gabby sobre as pessoas que não estão preparadas para serem pais. É uma quantidade absurda de gente tão novinha que abre mão dos estudos e/ou de uma carreira por causa de uma gravidez indesejada. No fim, acabam deixando os rebentos com os avós, sempre eles para limpar a barra.

Desculpem a digressão, 'bora voltar ao foco. E meu foco é a Eva. Não foi por acaso a escolha do nome, eu sinto uma referência à Eva da Bíblia, a mãe de todos. E com o passar de seus depoimentos eu me encantava mais por essa mulher, tão sincera, uma sinceridade que parecia uma faca muito afiada. É de uma frieza absurda como ela relata o início da gravidez. Aliás, achei um pouco confusa a decisão dela de ter um filho...ou melhor: dar um filho ao marido. Richard se dedicou a essa gravidez bem mais do que a mulher. A cena do parto descrita por ela foi uma coisa de outro mundo. Tira do mais ingênuo aquela imagem "comercial de margarina" da cabeça e mostra a real sobre o que é ser mãe...pelo menos na ótica de Eva. Aliás, não sei se o livro foi inspirado em alguma história real, mas é fato que os EUA são conhecidos por esses massacres de estudantes em escolas (ou cinemas). É legal também tentar entender através de Eva onde foi que eles erraram em relação ao filho, mas é aí que eu acho que o livro perde pontos. É louvável  a franqueza da mãe ao afirmar que nem de longe sentiu o afeto tanto proclamado por "mãemães" do mundo inteiro. Mas também percebemos que o menino demonstrou aversão à mãe logo nos primeiros segundos de vida. É uma solução muito simplória para tentar justificar a personalidade do menino ao longo dos anos. Já li a respeito de pequenos psicopatas, o que a neurobiologia tenta descobrir mas eu entendi que Kevin não se trata de um pequeno psicopata. Antes de tudo, ele é um irritante. Pior que ele, só o pai. É um personagem plano, no qual acredita cegamente  na conversinha furada do filho e acha que todos estão perseguindo Kevin. Há muitos momentos em que eu simplesmente queria dar uns berros com esse cara, puxa, que tapado! Daí eu senti que o autor não nos dava essa liberdade para refletirmos sobre as decisões dos personagens. A palavra era da Eva e ela dava as cartas. Por outro lado eu ficava fascinada por Eva e seu relacionamento com o filho. Minhas partes favoritas eram o diálogos; era como viver a angústia daquela mulher. Interessante o modo como ela contava os fatos: geralmente iniciava com acontecimentos recentes e logo introduzia os flashbacks. O que fica difícil de compreender  é essa natureza maligna do garoto. Como citei anteriormente, as personagens são planas, não há uma grande reviravolta em seus sentimentos ou ações, fica tudo muito previsível. Mas no capítulo final o autor tentou dar uma guinada que, ao meu ver, não foi muito bem sucedida. É um tanto bobo como é feita a revelação do destino de dois personagens, juro que eu tive de reler o capítulo (acreditei piamente que o problema era desatenção minha!). Mas não, estava lá uma revelação que não me comoveu muito. Outro ponto que poderia ter mais destaque seria a facilidade que os estado unidenses tem acesso às armas de fogo. Algo foi comentado num diálogo, mas nada que chame tanto a atenção. 

Eu recomendo o livro, por isso resolvi aqui não reproduzir nenhuma passagem do livro, isto é, descrever palavra por palavra de alguns fatos pois isso tiraria um pouco da surpresa em relação ao personagem título. Apesar da escolha do autor do livro em ter um único foco narrativo, o da Eva, há ainda sim aquela vontade de saber o que mais aquela mãe irá vivenciar. Agora houve uma situação engraçada: terminada a leitura eu fui finalmente ler a respeito de Lionel Shriver e eu quase caí da cadeira ao ver que Lionel é uma mulher!!!!


Soundtrack

Músicas que vieram a minha mente ao ler Precisamos falar sobre o Kevin:






2 comentários:

Paula Dantas disse...

Abri aqui pra ir fazendo comentários enquanto leio, se não esqueço no final,hahaha.

Eu tenho HORROR dessa capa. Ainda bem que quando comprei o meu, já tinha lançado o filme e a capa do livro mudou, é com os atores, much better!

Nossa, também achei o começo suuuper lento, não entendia nada do que ela falava!

Esse livro me fez pensar muito, dediquei uma das minhas sessões inteiras na terapia pra ele, hahaha.

Eu sempre acreditei que as pessoas nascem iguais e que é o ambiente e situações que transformam elas em quem elas são. Até psicopatas, eu acreditava que eles nasciam iguais a todo mundo e desenvolviam a psicopatia. Minha mãe, que é psicologa e já trabalhou em uns lugares pesadissimos, descordava totalmente. Ela disse que viu crianças que eram simplesmente más. E que não adiantava dar todo o amor do mundo, elas eram más.

Esse livro me fez repensar o que eu acreditava. Talvez eu estivesse errada. Talvez a criança já sinta o ambiente na barriga. Talvez o Kevin já sentisse que não era querido pela mãe antes de nascer e isso mudou tudo nele.

Eu não sei, só sei que esse livro mexeu comigo absurdos. Poucos livros conseguiram fazer isso, só lembro de um que me fez repensar o que eu acreditava. E, não ajudou em nada duas semanas depois ter o massacre das crianças lá nos EUA. Passei dias na frente da tv, vendo tudo e pensando no Kevin, hahaha.

Shil disse...

eu não sentia repulsa pelo personagem, Paula, a princípio a Eva me chamou mais a atenção q o filho, ela parecia fria mas ao mesmo tempo tinha uma força descomunal. Eu tbm tinha essa visão determinista sua, achar o que meio influência, mas um pouco antes de ler esse livro eu tbm mudava de pensamento. Se quiser falar de outras passagens específicas do livro, pode me mandar mensagens via inbox do face (como vc deve ter percebido, eu não reproduzi nenhuma "estripulia" do Kev para não dar muito spoiler para quem não leu livro ou não viu o filme.